Música

Produtor em franca ascensão

Rodrigo Gorky, do Bonde do Rolê, vê cada vez mais sua assinatura em álbuns recentes que tem gerado repercussão

Dom, 26/02/17 - 03h00
Método. Avesso à pressão dos estúdios, Rodrigo Gorky diz que prefere trabalhar com calma e em casa | Foto: Aquivo Pessoal

Integrante do grupo curitibano Bonde do Rolê, o produtor Rodrigo Gorky viu sua já apertada agenda inflar consideravelmente ao longo dos dois últimos anos. É dele a assinatura por trás de discos lançados recentemente ou que virão à luz em breve e que têm gerado um ruidoso burburinho – casos de “LP”, de Luiza Possi, lançado no ano passado, “Vai Passar Mal”, de Pabllo Vittar, que saiu neste ano, e o novo disco de Alice Caymmi, previsto para este semestre. Somam-se a isso as apresentações que tem feito com o Fatnotronic, projeto que divide com Phillip A, criado em 2014, e com o Duo Brabo, que integra ao lado de Maffalda, codinome do DJ e produtor Arthur Gomes, além da enxurrada de temas que têm criado com Pablo Bispo, na expectativa de que esse material deságue em cantoras como Anitta e Ludmilla.

Até 2014, o portfólio de Gorky registrava trabalhos com o Bonde do Rolê – os álbuns “With Lasers”, de 2006, e “Tropicalbacanal”, de 2012 – e o disco de estreia da Banda Uó, “Motel”, lançado em 2012, além de remixes e produções avulsas e parcerias diversas, sendo a mais notável com o DJ e produtor norte-americano Diplo, que já colaborou com nomes como Madonna, Justin Bieber e Beyoncé. Ele conta que em 2015 foi procurado por Luiza Possi para produzir seu novo disco e, ao mesmo tempo, conheceu e se encantou por Pabllo Vittar.

“Eu nunca tinha ouvido falar dela, até ver num vídeo de 15 segundos no Instagram”, diz, sobre a drag queen cantora maranhense, que vive em Uberlândia desde 2011. “Gostei muito, entrei em contato e falei que a próxima vez que eu fosse a Uberlândia a gente podia se encontrar. Começamos a trabalhar, eu indo e voltando. Isso foi em novembro de 2015, tudo muito rápido. Em março do ano passado, a gente já tinha quase todas as músicas do disco em versão demo”, diz, em entrevista por telefone, de São Paulo, onde mora atualmente, sobre o processo que resultou em “Vai Passar Mal”, título de estreia de Vittar.

Empolgado com a repercussão que o álbum vem tendo, já que considera ter certa “paternidade” sobre a obra, por ter trabalhado nela desde o embrião, Gorky destaca que ficou muito estimulado também em trabalhar com Luiza Possi. “É a pessoa mais mente aberta possível. Os arranjos do disco são muito diferentes. E ela teve a abertura de pegar temas de autores que não conhecia. Esse trabalho com a Luiza me abriu muitas portas e abriu muito minha cabeça também. Várias outras coisas vieram como consequência. Enquanto eu estava começando a trabalhar no EP da Pabllo, estava finalizando o disco da Luiza, e foi como se uma coisa estivesse emendando na outra de uma forma muito natural”, destaca.

Ele aponta que uma das consequências de “LP”, o álbum que produziu para Luiza Possi, foi, durante a turnê de lançamento, conhecer Pablo Bispo, com quem iniciou uma prolífica parceria. “Ele é palhaço profissional e compositor, um cara que ninguém conhecia, mas que já teve músicas gravadas por gente como Anitta e Ludmilla. Ele veio todo na humildade, falei de fazermos coisas, e daí já entraram três parcerias nossas no disco da Pabllo. Ao mesmo tempo, criamos, eu e o Arthur, o Duo Brabo. Acabou que a gente montou um time com a ideia de fazer músicas para a Anitta, e daí saíram quatro, ou para a Ludmilla – saíram três. Tem sido uma produção muito intensa pensando nesses artistas. Deste pacote, a Luiza gostou de uma e pegou, a Alice Caymmi gostou de outra e pegou, a Pabllo pegou três”, conta.

Assim como Luiza Possi, diversos outros artistas procuram Gorky para produzir, mas ele pontua que também é muito comum ir atrás de artistas com quem quer trabalhar. Dois exemplos recentes são Deize Tigrona e MC Pepita. “Quando começamos com o Bonde do Tigrão, ali em 2006, a Deize Tigrona era uma referência pra gente. Nos últimos anos, ela esteve meio parada, teve depressão, estava trabalhando como gari, e eu a chamei para gravar. Fizemos três músicas e vamos produzir outras, para depois ver como lançar. Temos um EP pronto. E tem a MC Pepita, que está começando a ser mais reconhecida agora no Rio. Também estamos trabalhando”, aponta.

Sobre seus próprios projetos, ele diz que o Bonde do Rolê está “meio pausado desde o ano passado”, mas comemora que o Fatnotronic esteja com uma agenda de shows internacionais consolidada e produzindo muito, que o Duo Brabo esteja se desdobrando em diversas frentes e que a recepção ao trabalho de Pabllo Vittar tenha sido positiva. “O Phillip reclama que atualmente eu só falo da Pabllo. É que, além de ter produzido o disco, também sou empresário dela. É o que tem me absorvido mais, mas é uma coisa boa e tenho um carinho muito grande por tudo isso”, diz.


Formação

“Sempre aprendi tudo sozinho”

Sobre sua formação como DJ e produtor, Gorky conta que o aprendizado foi à própria custa, movido pela sua paixão por música. “Sempre gostei muito, mas sempre fui preguiçoso para aprender a tocar instrumento. Estou com 36 anos e comecei a trabalhar profissionalmente quando tinha 20. Sempre tive fissura por produção e sempre aprendi tudo sozinho. Tem uma certa magia na inocência da relação com a música. É por isso que sou viciado em colecionar disco, tem a ver com você escutar alguma coisa e aquilo ser uma epifania”, diz.

Ele considera que hoje tem uma assinatura e que é procurado em função dela. “Produzir uma música boa não é um negócio simples, eu já fiz muita música ruim, faço ainda hoje, porque você tem que ir experimentando. Hoje tenho uma certa manha, já sei o que funciona e o que não, mas tenho a política de não dizer ‘não’ para nada; se quer experimentar, a gente vai e experimenta”, diz.


Conexões

Em 2006, Gorky contou com a participação de Diplo no primeiro álbum do Bonde do Rolê.

Em 2012, produziu o disco “Motel”, da Banda Uó

Em 2014, montou o Fatnotronic, com Phillip A

Em 2015, produziu o disco “LP”, de Luiza Possi

Em 2016, montou o Duo Brabo, com Maffalda, e produziu o disco de Pabllo Vittar, com participação de Diplo

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