O ritmo massacrante da rotina das grandes cidades faz com que as pessoas se transformem quase em fantasmas anônimos caminhando em meio à pressa e à necessidade de sempre se chegar a algum lugar. O anonimato é iminente e intenso. No entanto, uma tenda armada na praça Sete, no coração da cidade, servia como espécie de oásis para a aridez dessa loucura, onde pessoas paravam para contar suas histórias e desvelar memórias relacionadas a Belo Horizonte.
As histórias eram filmadas e cada anônimo era fotografado. A iniciativa provém do projeto “Moradores - A Humanidade do Patrimônio Histórico”, que chega a sua reta final, na capital, com a abertura da exposição de fotos, hoje, na praça da Liberdade. “Tentamos fazer uma seleção que revelasse as memórias e a história da cidade, por meio desses personagens”, comenta o fotógrafo Marcus Desimoni, um dos idealizadores do projeto, ao lado do jornalista Gustavo Nolasco, do fotógrafo Bruno Magalhães e do diretor de audiovisual Alexandre Baxter.
“As histórias nos revelaram coisas que a gente não sabia ou conhecia. A gente não tem muita literatura contando a história da cidade. Soubemos de muita coisa, ali na tenda mesmo, por quem viveu essa história. Principalmente, desse crescimento da cidade, para fora dos limites da avenida do Contorno. Aos poucos, fomos formando um quebra-cabeça da cidade”, pontua Desimoni.
Em meio aos anônimos, algumas figuras se destacam, como Mestre Conga, um dos patrimônios da cidade, por sua atuação nos Carnavais de rua, numa remota Belo Horizonte dos anos 40. Conga recebeu o Prêmio Mestres da Cultura Popular, oferecido pelo Fundação Municipal de Cultura, em 2014. Além dele, o quadrinista Celton, figurinha carimbada nos sinais de trânsito da cidade. “Ele é um patrimônio da cidade, suas revistas são documentos”, exalta Desimoni.
A tenda do projeto passou pela praças da Liberdade, Savassi e Sete e registrou histórias e fotografias de aproximadamente 500 moradores da cidade. Para a mostra – que ocupará a alameda central da praça e a fachada do prédio do Espaço do Conhecimento UFMG – foram escolhidos 14 moradores da cidade. O catálogo traz 18 personagens, e o filme que será exibido conta com 30. Ao todo, são 14 painéis de grande formato (4m x 2m) com os retratos em P&B, uma instalação multimídia com mais de 80 depoimentos e um filme com os bastidores da produção do projeto. A exposição ficará na praça da Liberdade, até 29 de julho.
“Fazer a edição e decidir quem estaria dentro e quem estaria fora foi muito doloroso”, aponta Desimoni. “Belo Horizonte foi a primeira cidade grande por onde passamos e nós tivemos seis dias de tenda e coleta de histórias. Nas cidades menores, em dois dias a gente conseguia coletar as entrevistas, conhecer os personagens”, revela.
Antes de Belo Horizonte, o projeto passou por dez cidades, de cinco diferentes Estados brasileiros. Seus idealizadores anseiam e desejam que um livro e um documentário sejam lançados, a partir da grande coleta de dados que fizeram nesses lugares.
Debate. Uma roda de conversa acontecerá no próximo sábado, no Memorial Minas Gerais. A ideia é ampliar a discussão sobre a memória pessoal como patrimônio. A roda terá participação da presidente do Instituto Estadual de Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha/MG), Michele Arroyo. Carlos Felipe Horta – historiador e um dos grandes estudiosos do patrimônio imaterial, do folclore e da cultura popular de Belo Horizonte – também estará presente. No mesmo evento, será lançado o catálogo da exposição com a história de 18 moradores da cidade.
Agenda
O quê. “Moradores – A Humanidade do Patrimônio Histórico”.
Quando. Desta terça até 29 de julho.
Onde. Praça da Liberdade
Quanto. Gratuito
Na Internet
Você pode acompanhar todo o registro do projeto “Moradores”, nas 10 cidades por onde passou com fotografias e textos: projetomoradores.com.br
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