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É inegável: o atual cenário político brasileiro tem sido profícuo para humoristas, especialmente motivados pelas presepadas de um capitão que nomeou generais para sua equipe presidencial – na hierarquia militar, o capitão está abaixo do general. “Parece que ele fez isso só para sacanear”. A provocação é de Helio de La Peña, que se junta a Beto Silva, Claudio Manoel, Hubert e Marcelo Madureira para apresentar na capital mineira a turnê do show “Casseta & Planeta Tour 30 Anxs 2019”.
Lá se foram três décadas de um repertório afiado, construído pela observação atenta do noticiário nacional, uma fábrica de absurdos que supera a imaginação do mais criativo dos roteiristas, como a decisão do governo de transferir um oceanógrafo do ICMBio de Fernando de Noronha para o sertão pernambucano. “Ele (Bolsonaro) está se preparando para quando o sertão virar mar. O governo está à frente do tempo”, provoca Helio. Já sobre os filhos do presidente... “Sempre estão aprontando alguma. São os três patetas”, diz o humorista.
Sim, os Cassetas continuam implacáveis. Mas Bolsonaro, na verdade, é um velho conhecido da turma. Nos anos 90, ir a Brasília entrevistar políticos tinha um quê de folclórico. Com o programa na Globo, os comediantes investiram nessas abordagens, que rendiam frases cujo surrealismo servia apenas ao anedotário. E, bem, um dos deputados que aparecem em vídeos do saudoso “Casseta & Planeta: Urgente!” ocupa hoje a cadeira de presidente da República. “Ele é uma figura que sempre gostou de aparecer. Naquela época, a gente ia a Brasília para zoar os políticos, e ele se prontificava a responder, mas rendia pouco, não tinha nenhuma tirada divertida”, relembra Helio.
O calendário avançou e, três décadas depois, os Cassetas reaparecem. Ok, eles lembram que nunca tinham sumido. Estão no YouTube e, atualmente, no site O Antagonista. Continuam afiados sobre o contexto político, o que pode ser prontamente conferido nas colunas publicadas no site citado.
Em setembro, após Bolsonaro ter sido submetido a uma cirurgia para correção de hérnia, o Casseta escreveu: “O boletim médico explicou o procedimento em detalhes: trata-se de uma correção das operações anteriores, em que, na pressa, os médicos, sem querer, fizeram uma ligação direta entre o encéfalo e o intestino grosso, causando uma hérnia inconstitucional”. “O governo não deixa o humorista descansar”, brinca Helio.
Mas agora o humor dos integrantes passa por um novo teste ao reocupar os palcos. Os desafios de fazer graça atualmente talvez sejam outros, mas nada que amedronte a turma do Casseta e Planeta. Nem mesmo o chamado “politicamente correto”. No show que os humoristas apresentam em turnê pelo Brasil, com parada neste sábado (2) na capital mineira, a patrulha moral será um dos alvos preferenciais da trupe. “Nosso humor é politicamente incorreto, mas sim, temos noção de que as coisas estão em mudança”, reconhece Helio.
O show ocupa o palco em formato de esquetes e resgata personagens e quadros que arrancaram gargalhadas no curso do tempo, como Seu Creysson, Chicória Maria, as Organizações Tabajara e a hilária imitação de Galvão Bueno. Homenagens a Bussunda e Maria Paula também engrossam o repertório.
Como fugir de tema não é com eles, a plateia pode esperar piadas com questões que rendem debates ardorosos, como identidade de gênero, corrupção e questões raciais. As facas do humor cortante dos Cassetas estão amoladas. “O humorista deve estar sempre com sua metralhadora apontada para onde for, mostrar onde o rei está nu, então, é natural que quem esteja no poder fique mais na mira do que quem não está”, resume Helio.
“Casseta & Planeta Tour 30 Anxs 2019”
Neste sábado (2), apresentação única, às 21h, no Cine Theatro Brasil Vallourec (avenida Amazonas, 315, centro). Ingressos de R$ 50 a R$ 120.
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