Para o músico Carlinhos Vergueiro, 61, existem três mestres em sua carreira musical construída em cima de 150 canções gravadas por nomes como Chico Buarque e Paulinho da Viola. Fora esses e outros grandes da MPB, foi Nelson Cavaquinho que lhe ensinou o jeito bonito de soar um cavaco e Adoniran Barbosa quem lhe provou que uma caixinha de fósforo balançando sozinha já dava samba. “Fiz discos em homenagem a Nelson e Adoniran, que são meus guias, com quem pude tocar e compor. Agora faltava um dos maiores cronistas de São Paulo”, atesta. Nesse clima, o compositor paulista sobe ao palco do Cine Theatro Brasil Vallourec nesta terça à noite para apresentar pela primeira vez na capital mineira o seu show dedicado à obra do compositor e zoólogo Paulo Vanzolini, homenageado em seu mais recente álbum.
Dois meses antes de morrer, aos 89 anos, Paulo Vanzolini dividiu o palco com Carlinhos Vergueiro, em um show em São Paulo, em fevereiro do ano passado. Na época, os dois chegaram a falar sobre o disco “Paulo Poeta Compositor Cientista Boêmio “lançado pela Biscoito Fino em novembro, com dez canções de Vanzolini interpretadas por Vergueiro. “Ele ia cantar alguma coisa no disco comigo, estava animado por receber uma homenagem em vida. Apesar de ele não ter conseguido ficar aqui para ouvir o que fiz com tanto cuidado e carinho, acho que ele iria gostar muito do álbum, que tem a pegada de samba contagiante e genuinamente paulistana dele, é algo bem vivo que remete àquilo que eu escutava na infância”, diz.
Ouvinte de Paulo Vanzolini desde criança, Carlinhos Vergueiro só conheceu o ídolo nos anos 1970, nas noitadas boêmias de São Paulo. “Ele era muito inteligente, engraçado, paulistano que sabia reparar a cidade além do que ela mesma te mostrava, isso era genial. Além de ser um cientista talentosíssimo, reconhecido fora do país”, lembra Vergueiro. Apesar de ter uma obra enxuta com 65 canções compostas em 30 anos de atividade musical – já que considerava a música um “mero hobby” –, as letras de Paulo Vanzolini foram cantadas por Maria Bethânia, Toquinho, Vinicius de Moraes, Caetano Veloso e até Chico Buarque, que em 1967 gravou um compacto com “Samba Erudito” e “Praça Clóvis”, ambas de Vanzolini. Tudo isso enquanto o compositor-cientista se ocupava com pesquisas de animais na Universidade de São Paulo.
REPERTÓRIO. Essas e outras canções menos conhecidas do autor de “Ronda” e “Volta por Cima” vão compor mais da metade do repertório de Carlinhos Vergueiro, que também interpreta sambas como “Boca da Noite” e “Juízo Final”, ambas de 1967, e desconhecidas do grande público, segundo o compositor paulista. “Muita gente conhece o Vanzolini por ‘Ronda’, porque a Bethânia fez uma versão definitiva dessa canção. Mas eu quero ampliar o conhecimento da obra desse meu grande amigo nesta turnê, mostrando canções muito bonitas como ‘Cara Limpa’, que a Carmem Costa gravou em 1974 e não sei como não se tornou famosa até hoje”, opina o cantor.
HOMENAGENS. Em um show inteiramente dedicado ao samba, Carlinhos Vergueiro é acompanhado por um quarteto afiado formado por Marcílio Lopes no bandolim, Bernardo Diniz no cavaquinho, Lucas Porto no violão de 7 cordas, e Carlinhos Cesar na percussão. Alternando a companhia da banda com momentos solo de voz e violão, o compositor e cantor também abre espaço para revisitar parte do repertório do seu último álbum autoral, “Vida Sonhada” (2012, Biscoito Fino), além de passear pelos discos-homenagens “Nelson para Sempre” (2011) e “Dá Licença de Contar” (2010), ambos lançados pela Biscoito Fino em reverência aos centenários de Nelson Cavaquinho e Adoniran Barbosa, respectivamente. “É uma noite de samba, ritmo mais que presente nos meus trabalhos autorais. Acho que esse show é o que eu consigo reunir as principais influências da minha vida no palco, talvez uma homenagem um pouco inconsciente para mim mesmo também”, diz.
Agenda
O QUE. Show de Carlinhos Vergueiro em homenagem a Paulo Vanzolini
ONDE. Cine Theatro Brasil (rua Carijós, 258, centro, Praça 7)
QUANDO. Nesta terça, às 20h30
QUANTO. R$ 40 (inteira) R$ 20 (meia-entrada)
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