Roberto Zara

Simplicidade mineira no som da viola caipira 

Álbum de estreia do compositor mineiro reúne canções instrumentais feitas no mato 

Seg, 02/06/14 - 03h00
Refúgio. O cantor Roberto Zara dedicou várias semanas à paz da Serra do Cipó para agravar o disco | Foto: sheila gomes/divulgação

Foram semanas isolado do caos urbano, ouvindo apenas o silêncio do mato para testar as infinitas afinações de suas violas. É nesse ritmo manso, de quem não tem pressa para escolher os melhores acordes e notas, que o cantor e compositor Roberto Zara, 53, reuniu inspiração para lançar seu primeiro álbum, “Roberto Zara - Instrumental”. Com dez faixas, o disco é uma ode à cultura de Minas Gerais, repleto de arranjos de cordas que remetem à natureza, sons de pássaros e cachoeiras, além de outras simplicidades que se escondem atrás das tradicionais montanhas mineiras.

Com quase 35 anos de carreira, Roberto Zara participou de dezenas de bandas na década de 70, como a Favo de Mel, ao lado de Claudio Venturini, Ronaldo Venturini, Julio Venturini e Elldon Moreira, além de trabalhar com produção musical em diversos estúdios da capital mineira, como o Bemol, Ferretti, 108 e REC. Só agora, porém, ele decidiu lançar o primeiro disco solo, após acumular décadas de experiência. “Fui acumulando durante a carreira aspectos da MPB, da bossa nova, Clube da Esquina etc. E só agora eu tive a vontade de colocar um som genuíno de Minas Gerais em um álbum com a minha personalidade”, diz o músico.

Se tivesse que escolher uma definição para todo o disco, talvez Roberto Zara escolhesse a palavra paciência. Afinal, foram três anos de idas e vindas até a Serra do Cipó, onde ele se recolheu nos povoados de Lapinha da Serra e São José da Serra, desde 2011, para meditar, arranhar seu violão, comer broa de fubá com café e bater papo à toa. “Eu passava o dia testando afinações do bandolim em mi e de uma viola em sol, compondo, rearranjando numa paz total e um clima muito mineiro. Guardei as músicas compostas lá e agora achei que elas estavam maduras para serem gravadas”, diz.

Apesar de um processo longo de composição, “Roberto Zara - Instrumental” foi gravado em apenas quatro dias, no estúdio Celsom, no Prado, de forma totalmente analógica (“o instrumento precisa ser captado à moda antiga para soar como algo genuíno de Minas, não adianta fazer diferente com viola”, justifica o compositor em meio a risos).

Multi-instrumentista, Roberto Zara gravou as violas de 10 e 12 cordas, bandolim e mandolim (variação italiana do bandolim), além dos violões de aço e nylon. Os outros instrumentos que dão corpo às canções do disco – órgão, violino, violoncelo e flauta transversal – foram todos gravados no teclado pelo maestro e parceiro, Celso Ramos. “Eu quis usar essencialmente a viola e o bandolim neste trabalho porque representam a raiz e a essência de Minas Gerais. Os outros instrumentos são complementares e, apesar de serem clássicos, mantiveram a pegada popular do disco que eu queria”, diz.

Entre algumas das principais canções do álbum, chama atenção a moda de viola “Enganoso Coração”, com arranjo suave em que predominam a viola caipira, o contrabaixo acústico e um bandolim marcante. Destaque também para “Maçãs e Passarinhos”, composta em parceria com o músico Gerdeson Mourão, que faz praticamente uma reflexão sobre o canto dos pássaros e o silêncio do meio do mato.

O lançamento oficial do disco ainda não tem data ou local certo para acontecer. Apesar disso, Roberto Zara adianta que o show de estreia só deverá ser marcado em Belo Horizonte após a Copa do Mundo.

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