MIMO

Sons do mundo soltos na história 

11ª edição do festival começa sexta-feira, em Ouro Preto

Ter, 26/08/14 - 03h00

Em 2004, quando ocupou pela primeira vez a Igreja da Sé, a Mostra Internacional de Música em Olinda levou ao mesmo tempo espanto e beleza à gente acostumada a usar templos históricos apenas em função da fé. “Na época, eu cheguei a pensar em disparate usar uma igreja para colocar um tanto de equipamento e até guitarra pesada. Hoje, é como se as igrejas aguardassem por essa música”, analisa a aposentada Marlene Dantas, 72, moradora da região metropolitana de Recife há 40 anos. Isso porque, ao longo dos anos, o MIMO invadiu a charmosa Paraty (RJ), chega este ano em caráter inédito a Tiradentes, e terá abertura de honra em Ouro Preto, nesta sexta-feira, dia 29, se firmando como um festival itinerante dos mais importantes do mundo.


A tradição de reunir nomes de peso se mantém no festival. Por onde passaram lendas como Hermeto Pascoal e Buena Vista Social Club, neste ano darão o ar dá graça o lendário Chick Corea, o instrumentista Jordi Savall, além de concertos como Jorge Mautner ao lado de Otto, e João Donato com Bixiga 70.

Em Ouro Preto, Toninho Horta inaugura a noite de abertura do festival. O consagrado arranjador mineiro interrompeu uma turnê pela Europa só para se apresentar na Igreja do Pilar, às 20h30 desta sexta-feira, ao lado da Orquestra Fantasma. “Tenho alguns shows lá fora ainda, talvez eu volte à Itália, mas tocar neste festival é uma honra porque a música parece não ter fronteiras dentro e fora dos patrimônios históricos”, diz.

Outro destaque da abertura do MIMO é o lendário pianista Chick Corea, 73, que integrou a banda de Miles Davis na década de 60, lançando o movimento eletrofusion. No Brasil, o músico faz show de estreia na América Latina de seu último disco, “The Vigil”, considerado o mais elétrico dos últimos anos.

Pela primeira vez no Brasil, o multi-instrumentista Bassekou Kouyate e sua banda Ngoni Ba, dos nomes mais populares de Mali, traz à Praça Tiradentes, à meia-noite deste sábado, o som de suas violas havaianas e percussões africanas. Após integrar o Coletivo África Express, com sir Paul McCartney na banda, em show especial realizado em Londres, em 2012, Bassekou Kouyate lança em terras tupiniquins seu último disco, “Jama Ko”, produzido pelo ex-baterista do Arcade Fire, Howard Bilerman. “Minha música tem muito a ver com o Brasil, o balanço, principalmente. Depois que toquei com Paul e mal acreditei, hoje poder estar num dos melhores países do mundo, me alegra bastante” diz o músico.

PRÓXIMAS PARADAS. Depois de Ouro Preto, é a vez de Olinda dar sequência ao MIMO. Na cidade pernambucana, o compositor espanhol Jordi Savall, 73, é uma das principais atrações. Expoente da viola de gamba – instrumento de sete cordas descendente da música barroca e similar ao violoncelo –, o músico vai apresentar uma peça inédita no país, “Diálogo das Almas”, que reflete sobre as relações de divergências entre Oriente e Ocidente. “Tenho mais de 50 anos de contato e estudo com a viola de gamba e a música antiga, de Bach à Vivaldi, mas recentemente me atentei para a necessidade de levar essa mensagem de guerra e paz, os extremos que vivemos hoje em dia num mundo rachado”, diz.

Dentre concertos mais aguardados de Olinda está o show que Jorge Mautner fará interpretando repertório de três álbuns clássicos, “Para Iluminar a Cidade” (1972), “Mil e Uma Noites de Bagdá” (1976) e “Jorge Mautner” (1974). Com participação do cantor e percussionista Otto, os dois também vão entoar no palco a veia do manguebeat, que na década de 1990 revolucionou a música brasileira influenciada pelo hino precursor “Maracatu Atômico” (1974), de Jorge Mautner. “Vamos trazer essa referência que é comum a nós dois e precisa ser reverberada ao mundo neste festival. A gente deve aproveitar também os 20 anos do ‘Da Lama Ao Caos’, do Nação Zumbi, que botou o manguebeat para o mundo, e fazer uma homenagem”, adianta o cantor Otto.

Em Paraty, reduto histórico e charmoso do Rio de Janeiro, o show de Naná Vasconcelos e Lui Coimbra, além da lenda cubana Paquito D’Rivera são alguns destaques. Porém, Diogo Nogueira e Hamilton de Holanda devem roubar a cena com o projeto “Bossa Negra”, fruto do recente disco lançado nesta semana pela Universal Music. Numa fusão de percuteria – percussão africana mesclada a elementos de Carnaval – e sob a regência do bandolim envolvente de Hamilton, o show traz repertório de samba autoral e também releituras de nomes como Caetano Veloso, Dorival Caymmi, João Nogueira e Paulo César Pinheiro. “A pegada instrumental do MIMO caiu como uma luva para nosso novo trabalho, que repagina a bossa e o samba justamente no conceito instrumental, com um suingue bem brasileiro”, diz Diogo Nogueira.

Fechando o MIMO 2014, a programação da cidade de Tiradentes celebra o épico show “Donato Elétrico”, em que João Donato se une aos jovens músicos paulistas do Bixiga 70, em um projeto comemorativo dos seus 80 anos de vida. No palco, simplesmente uma carreira inteira, influenciada de Tom Jobim à Nelson Riddle, indo do jazz ao funk. “Vou acrescentar canções do disco ‘Quem É Quem’ (1973), que é um marco na minha vida. No mais, a parceria com o Bixiga tem sido ótima. E os meninos estão muito motivados a tocar em lugares que o MIMO oferece, é diferente, estimulante”, avalia João Donato.

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