Música

Tamara Franklin, Carlos Bolívia, Rosa Neon e Dolores 602 investem em clipes

Formato voltou a ganhar vulto na cena local e tem rendido produções diversas e apuradas

Seg, 10/06/19 - 03h00

O sutiã é tirado por baixo da blusa. Pinta-se um bigode no rosto feminino. Uma mulher grita, enquanto outra puxa e estica o cabelo para cima e depois o solta lentamente. Tais imagens são ofertadas como tentativas de tradução para “Astronauta”, música da banda mineira Dolores 602, cujo videoclipe será lançado nesta terça (11). 

“Essas cenas trabalham com a ideia de testar novos corpos e atitudes, são pequenos gestos de revolução sobre a importância da liberdade da gente ser quem é, libertando-se dos padrões”, explica a vocalista e baixista Camila Menezes. Não é a primeira vez que o grupo, que também conta com Débora Ventura (voz, violão, guitarra), Isabella Figueira (bateria, gaita, escaleta) e Táskia Ferraz (guitarra, vocais), investe no formato.

Do álbum de estreia, “Cartografia” (2018), ganharam videoclipes a faixa-título e “Dolores”. No primeiro, a intenção era “expandir o conceito de amor para além dos relacionamentos íntimos”, afirma Camila. O mais recente foi dirigido pela cantora, compositora e artista plástica paranaense Fernanda Branco Polse. 

“A Fernanda quis trabalhar com a poética do fogo e do grito, a gente literalmente brinca com o fogo, mostrando a necessidade de se mexer e sair do lugar, botar fogo em alguma coisa para modificar o panorama das coisas”, destaca Camila. Ela acredita que o retorno triunfal dessa linguagem tem a ver “com os novos dispositivos tecnológicos”. “O Instagram e o YouTube são mídias que divulgam imagens e colocaram na mão do artista essa possibilidade”, opina. 

Visão. A aposta em vídeos para divulgar suas músicas não é uma exclusividade do quarteto feminino. Criada no ano passado, a banda Rosa Neon é composta por nomes conhecidos da cena belo-horizontina. Com o próprio canal no YouTube, a trupe – formada por Luiz Gabriel Lopes, Mariana Cavanellas, Marcelo Tofani e Marina Sena –, coloca na rede, desde novembro, um videoclipe por mês. 
A promessa é que, quando chegar a dez, um disco seja colocado na praça, previsto para setembro. A apuração das produções e o figurino exuberante, francamente provocativo e ousado, não são casuais, e ajudam a explicar o sucesso de “Picolé”.

“A gente atravessa um momento de muita caretice, que está tomando conta geral. Queremos quebrar isso e encorajar as pessoas a serem livres. A estética é tão importante quanto a música no nosso trabalho”, garante a vocalista e compositora Marina, que, por isso mesmo, faz questão de se referir à dupla Belle Melo e Vito Soares, responsáveis pelos videoclipes, como “parte da banda”, assim como a fotógrafa Sarah Leal. “Ela que propõe as fotos ‘diferentonas’”, elogia Marina, autora da sensual “Ombrim”.

Integrante da Orquesta Atípica de Lhamas e do conjunto Djalma Não Entende de Política, Carlos Bolívia é outro que tem seguido à risca essa receita em sua insurgente carreira solo. “A plataforma onde mais se ouve música hoje no Brasil é o YouTube, que é um canal de vídeos”, justifica. Pensando nisso, o músico nascido na Bolívia e radicado no Brasil se aliou ao artista audiovisual Gabriel Martins, da renomada produtora Filmes de Plástico, de Contagem, para propagar e jogar no mundo “Carlos Bolívia e os Médicos Cubanos”, disco com “tom político e de provocação”. 

“A Bolívia ainda é um país estigmatizado, e os médicos cubanos estiveram no centro de várias polêmicas, sendo entendidos como salvadores que iam até os grotões e espiões guerrilheiros que nunca pegaram em armas”, observa. Elaborados inicialmente como lyric vídeos (imagens legendadas), “É Preciso Estar Atento e Top”, “La Cumbita” e “No Quiero Tretar” ganharam feição de videoclipe “graças ao talento do Gabriel Martins”, enaltece Bolívia. O cantor ressalta que o trabalho se baseou nas “capas criativas” de Nancy Castro. 

Vista. Homônimo ao primeiro álbum de Tamara Franklin, o videoclipe de “Anônima” supera as 45 mil visualizações na web. “Tipicamente Brasileiro”, filmado no bairro de Pedra Branca, onde ela vive, trouxe no roteiro “uma espécie de continuação”. Em “Wakanda”, a rapper juntou mulheres negras para “trazer à tona a força dessas expressões corporais e representar a questão de gênero”. Mas Tamara contesta essa “volta dos videoclipes”. “Depende do ponto de vista, para o hip-hop sempre foi uma parada fundamental”, conclui. 

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