Lançamento

Tetê Espíndola coloca a voz em um outro lugar

Novo disco de inéditas da artista reúne 12 composições feitas em diferentes épocas

Seg, 25/09/17 - 03h00
Tetê reuniu parcerias com Arrigo Barnabé, Manoel de Barros e Arnaldo Black em novo CD | Foto: PATRICIA BLACK/DIVULGAÇÃO

Tetê Espíndola, 63, teve o cuidado de discriminar no delicado encarte de “Outro Lugar” (envolvido por luva plástica que sublinha o efeito das linhas sobre a foto) a data de cada uma das 12 composições. O gesto pode levar ao engano. Onze delas permaneciam inéditas para o mundo, e nenhuma jamais havia ganhado a voz de Tetê, que, neste álbum, coloca seus conhecidos agudos num ‘outro lugar’, parodiando o título do disco.

“Decidi cantar mais suave, controlando minha voz, e não é fácil segurar essa coisa forte que vem de dentro de mim, foi um desafio. Porque acho que o mundo está muito barulhento e a gente precisa minimizar, sentir a pausa, o sossego, a poesia e a instrumentação”, justifica a cantora, que assina dez canções no álbum, apenas uma sem parceria.

“Esse projeto é todo feito a mão, porque tenho um caderninho que carrego para lá e para cá, cheio de folhas amarelas”, conta. De uma delas lhe caiu, num belo dia, “Luz e Anzol”, poema escrito por Arrigo Barnabé em 1979 que Tetê resolveu musicar em 2015. “Sou uma garimpeira, pesquei várias pérolas, tenho muitas ainda para recuperar”, garante.

Os demais parceiros são também nomes recorrentes na travessia da intérprete, como o marido Arnaldo Black (coautor do sucesso “Escrito nas Estrelas”), Marta Catunda e Geraldo Espíndola, que já havia dado sua versão para “Itaverá”, em 1974. “Gravei ela de um jeito diferente, como o Geraldo me ensinou. É incrível, porque comecei a tocar e os meus dedos se lembraram exatamente de quando a toquei pela primeira vez”, recorda a entrevistada.

Para fechar o disco, Tetê escolheu uma parceria com o poeta Manoel de Barros, “Boca”, de 1987. “Eu estava grávida, com um barrigão, quando fiz essa música para o filme ‘Caramujo-Flor’, do Joel Pizzini”, recorda. O curta-metragem presta uma homenagem ao autor de “Poemas Concebidos Sem Pecado”, livro de 1937.

Tempo. Da lavra mais recente, Tetê não tem dúvidas em destacar “Elétrico Beijo”, que ela chama de “triceria”. “O Felipe Kadosch é um músico francês com quem venho desenvolvendo vários trabalhos. Ele compôs a música em Paris e me mandou. Completei com a letra e dei para o Arnaldo (Black) finalizar. Foi toda mixada na França, com a melhor qualidade”, afiança.

Além-muros, Tetê experimentou, pela primeira vez, compor pelo Skype. O resultado foi a música “Pé de Vento”, uma das mais inspiradas do CD. “Eu nunca tinha feito isso, estava em Campos do Jordão e a Márcia Catunda em Sorocaba, é tudo muito novo ainda para mim, estou descobrindo e gostando”, assegura.

Outra que ela coloca nesse rol de “especiais” é a declaração de amor que dá nome ao disco. “Arnaldo compôs ‘Outro Lugar’ especialmente para mim, é a minha trajetória”, orgulha-se. Os versos da canção dizem: “não sou daqui/ nem sou de lá/ sou sempre de outro lugar/ mas o que sou/ é onde estou agora/ na lágrima no riso que aflora”.

Caminho este, aliás, perpassado pela natureza e uma íntima aproximação, tanto é verdade que a compositora encontra as palavras exatas, que mais se repetem no presente álbum, para definir a linha que une os tempos passados ao momento atual. “As expressões chave são ‘flor’, ‘amor’ e ‘lágrima’, que dão o encaixe perfeito da poesia com o toque da craviola”, observa.

Foi a partir do instrumento que empunhou durante toda a vida que Tetê definiu as matizes do disco. “A craviola é o meu instrumento, minha sonoridade, foi ela que me incentivou a atingir as notas mais agudas no início de tudo, que me levou para as guarânias, é uma identificação muito grande”, declara.

“Sempre quis fazer um disco atemporal, com músicas de várias épocas, e consegui isso. A linha do tempo, dos rios e das montanhas me levam”, finaliza.

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