Megadeth

Thrash americano com um dedinho brasileiro

Competente, “Dystopia” é o primeiro CD da banda com guitarrista brasuca Kiko Loureiro

Seg, 08/02/16 - 03h00
Chefe. Conhecido por sua arrogância, Dave Mustaine se impressionou com o brilhantismo de Kiko | Foto: DENILTON DIAS / O TEMPO

Os rumores que tiveram início nos idos de 2015 já foram capazes de estremecer o mundo do metal. Em abril, as especulações deram lugar à confirmação: Kiko Loureiro foi anunciado, de forma oficial, como novo membro do Megadeth. Desde então, várias perguntas pairaram no ar. Será que o talentoso guitarrista do Angra se adaptaria ao thrash metal da banda capitaneada por Dave Mustaine? Haveria atritos na convivência do brasileiro com o mandachuva do conjunto norte-americano, famoso pela personalidade forte e o temperamento difícil? Qual seria a parcela de participação do instrumentista carioca nas composições do disco que um dos membros do Big Four of Thrash lançaria em janeiro de 2016? Boa parte das respostas – senão todas elas – estão presentes em “Dystopia”, o 15° álbum do grupo, e também nas palavras do líder do quarteto – completado pelo baixista David Ellefson e pelo baterista Chris Adler.

“Foi a primeira vez desde que Marty Friedman (guitarrista que integrou o Megadeth na década de 90 e gravou alguns dos maiores clássicos da banda, como “Rust in Peace”, de 1990, “Countdown to Extinction”, de 1992, e “Youthanasia”, de 1994) entrou na banda que eu realmente me senti intimidado. Ele (Kiko Loureiro) tem muito talento e chegou cheio de novas ideias”, declarou um entusiasmado Mustaine, em meados de 2015.

Obviamente, a palavra final para que as tais ideias de Kiko fossem utilizadas seria sempre do egocêntrico e por vezes arrogante Dave. Mesmo assim, ser coautor de três composições do novo play – ‘Post American World’, ‘Poisonous Shadows’ e a instrumental ‘Conquer or Die’ pode ser considerado um feito relevante ao brasileiro.

Com relação à musicalidade do disco, temos em mãos um álbum muito bom, que resgata um pouco dos elementos clássicos do expoente do thrash em meio aos velhos clichês do estilo, com toque de modernidade. O início é arrebatador. “The Threat Is Real” é um belo cartão de visitas, cheio de riffs cortantes e “gordos” de Mustaine e Loureiro. Em seguida vem a faixa-título, com belas melodias e solos magistrais. “Fatal Illusion” mantém o alto nível. A característica “voz de pato” de Dave continua lá – irritante em alguns momentos.

O disco segue com uma fórmula bem definida, com Kiko e Dave esbanjando habilidade e feeling, amparados pela cozinha de Ellefson e Adler. O baterista, inclusive, demonstra sua técnica de forma brilhante. Não foi à toa que o homem das baquetas do Lamb of God chamou a atenção de Mustaine. Chris Adler dá um banho em seu antecessor, Shawn Drover.

Por outro lado, “Dystopia” está longe de ser um disco perfeito, do patamar dos antológicos “Peace Sells... but Who's Buying?” (1986), “So Far, So Good... So What!” (1988), e os citados “Rust in Peace” e “Countdown to Extinction”. Apresenta algumas bolas fora, vide a chata “The Emperor” e “Foreign Policy”, um cover descartável da banda punk/hardcore Fear. Mesmo assim, o resultado final é superior a boa parte da discografia recente da banda. Dizer que é o melhor álbum desde “Youthanasia” seria arriscado, em vista do também louvável “Endgame”, de 2009. No mínimo, seria fruto de uma boa discussão entre os fãs.

O fato é que “Dystopia” tem qualidades e, com certeza, espaço reservado nos corações dos aficionados do Megadeth. Para os brasileiros, é motivo de orgulho ver Kiko em mais uma de suas tantas facetas. Ao mesmo tempo, para quem sempre desfilou virtuosismo no Angra e em projetos solo, tocando estilos variados, que vão desde o jazz e o fusion, até o MPB e a bossa nova, e já fez algumas jams ao lado do ícone Toquinho, não chega a espantar vê-lo no Megadeth.

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