“Troco Likes”

Tiago Iorc mais solar, mas não tão expressivo Músico inova ao mostrar maioria de músicas em português, mas desliza na superficialidade “Troco Likes” 

Seg, 20/07/15 - 03h00
Conceito. Tiago Iorc retratado pelo argentino Nestor Canavarro, em desenho que estampa a capa do CD | Foto: Nestor Canavarro/REPRODUÇÃO

Depois de sete anos dedilhando um violão de baladas e covers soturnos, indo do ecletismo de Legião Urbana a Strokes, o cantor e compositor Tiago Iorc encontrou janelas para um mundo mais ensolarado. Mas, nem por isso, um mundo melhor. “Troco Likes” (Slap), o quarto álbum de estúdio do brasiliense criado em Curitiba, carrega na capa e no nome uma crítica explícita às redes e relacionamentos virtuais. Mas o desenrolar das dez novas canções mostra um artista menos indignado e mais plácido, que parece acomodado por trás de um discurso de beleza quase fugaz, ironicamente afinado às próprias críticas sobre a superficialidade que se propõe a discutir.

Sem tirar os méritos de Iorc, “Troco Likes” traz uma enxurrada de melodias folk muito bem assimiladas pela cultura pop, construídas com uma facilidade fora do comum para ganhar as rádios, como a faixa de abertura, “Alexandria”, escrita por Tiago Iorc a partir de um texto enviado por Humberto Gessinger, e modelada com um coro indie ao estilo Edward Sharpe And The Magnetic Zeros.

A diferença para os três discos antecessores de Iorc, principalmente “Let Yourself In” (2008) e “Umbilical” (2011), ambos compostos em inglês, é a abertura do artista para escrever em português – processo iniciado com as quatro composições brazucas em “Zeski” (2013). Nesse sentido, o mais recente disco de Iorc escancara a vontade do músico em dialogar com um fiel público brasileiro – que além da idolatria pelas redes sociais, também marca presença in loco Brasil afora, propiciando nada menos do que 50 shows agendados pelo músico, antes mesmo do pré-lançamento do disco pelo Spotify, na semana passada.

Apesar de algumas críticas direcionadas à sociedade das redes virtuais aparecerem sutilmente em canções como “Alexandria” (“gente demais, com tempo demais, falando demais / vamos atrás de um pouco de paz”) e “Sol Que Faltava” (“onde foi / a última vez que você se deixou / livre sem se retocar / sem se Instagramear”), os versos do restante das canções parecem tão genéricos a ponto de caber em qualquer um das baladas folk com harmonias simples e inspiradas de Tiago Iorc, como “Eu Amei Te Ver”, “Mil Razões” e “Coisa Linda”, esta última parceria com Leo Fressato, e primeiro single a ganhar clipe.

Em suma, “Troco Likes” passa a impressão de soar como um tiro pela culatra. A ilustração da capa, feita pelo artista Nestor Canavarro, na qual Tiago Iorc aparece com dois pregadores de roupa levantando seu sorriso à força, foi criada como uma ironia destilada a terceiros, mas que parece ter caído confortavelmente no próprio colo do músico.

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