Homenagem

Todas as nuances musicais da estrela Dalva de Oliveira

Repertório da cantora une gerações em álbum com sucessos e obras menos reconhecidas

Ter, 24/04/18 - 03h00

Dalva de Oliveira “nasceu” em Belo Horizonte: foi após um teste na extinta rádio Mineira, em 1933, que Vicentina de Paula Oliveira, paulista de Rio Claro, adotou o nome artístico com o qual se consagraria. Decorridos cem anos de seu aparecimento na Terra, aquela que foi eleita Rainha do Rádio em 1951 ganha um álbum duplo para saudar seu legado. O registro é fruto de show idealizado e produzido por Thiago Marques Luiz e roteirizado por Ricardo Cravo Albin, levado ao palco em 2017. Nada menos do que 31 intérpretes se revezam ao longo de 32 faixas em homenagem à “inesquecível estrela”, como sublinha a capa de “Dalva de Oliveira: 100 Anos ao Vivo”.

Dentre vários motivos para aplausos, o maior mérito da empreitada é revelar nuances pouco reconhecidas do repertório de Dalva. Referência para cantoras como Maria Bethânia e Elis Regina, a homenageada é ainda hoje associada quase exclusivamente ao samba-canção, em especial às músicas sofridas e derramadas em que a extensão e limpidez de seus agudos eram colocadas à prova. Não que esta não se configure como uma parte importante da trajetória de Dalva, muito pelo contrário, tanto que sucessos como “Segredo”, “Hino ao Amor”, “Fim de Comédia”, “Lembranças” e “Há um Deus” marcam presença. Mas há também o samba sincopado, na saborosa interpretação de João Cavalcanti para “Copacabana Beach”; toda a dramaticidade do tango “Lencinho Querido”, amplificada no registro teatral de Simone Mazzer; além de marchas carnavalescas, como “Bandeira Branca” e “Máscara Negra”, cantadas, respectivamente, por Amelinha e Zezé Motta. Essas indicações dão conta de outro fator relevante da iniciativa: o entrelaçamento de gerações. É graças a essa escolha que o tributo jamais soa como produto do passado, mas, em direção inversa, alcança perenidade. Nessa elegia ao repertório eternizado por Dalva, cada arranjo procura se adaptar ao estilo das vozes e performances, validando um lançamento que é, acima de tudo, rico em sua diversidade.

Números. Uma geração mais nova do que Dalva, Angela Maria, que conviveu com a cantora, é quem tem a honra de abrir os trabalhos. Com “Neste Mesmo Lugar” ela confirma o que já se sabe, e não é pouco: canção e cantora são únicas na história da música popular brasileira. “Eu Tenho um Pecado Novo”, pouco bisada ao longo dos anos, traz a dupla As Bahias e a Cozinha Mineira e injeta frescor ao disco. Já Filipe Catto dá conta do recado, com sobras, em “Tudo Acabado” e “Errei Sim”.

Afora conservar a beleza da voz, Eliana Pittman encara com gana a canção “Olhos Verdes” e garante ao espetáculo um de seus números mais animados, com pitadas de jazz na exaltação de Vicente Paiva, lançada por Dalva em 1950. Júlia Vargas não deixa a peteca cair e entrega em “Que Será” um novo misto de elegância e suavidade. A amarga e irônica “Palhaço”, obra-prima da lavra de Nelson Cavaquinho, recebe os habituais vocalises de Zé Renato, acompanhado por seu belo violão.

As aflições românticas de “Pela Décima Vez” e “Teus Ciúmes” são desvendadas, nessa ordem, por Xênia França e Virgínia Rosa. Claudette Soares, Ayrton Montarroyos, Alaíde Costa, Verônica Ferriani, Leny Andrade, Márcio Gomes, Dóris Monteiro, Agnaldo Timóteo, Luciene Franco e Gottsha mantêm elevada a temperatura da festa com clássicos como “Zum Zum” e “Calúnia”.

O namoro com o baião e a ruralidade acontece nas interpretações personalíssimas de Tetê Espíndola, Cida Moreira e Maria Alcina, que se revezam em “Linda Flor”, “Velhos Tempos” e “Kalu”, nessa sequência. “Estrela do Mar”, com Marina de La Riva, é peça de lirismo puro. Assim como Edy Star leva seu deboche para “Fumando Espero”. Para completar, Ellen de Lima, Rosa Marya Colin e Áurea Martins dão show à parte com “A Grande Verdade”, “Fracassamos” e “Bom Dia”. E Célia, em seu último ato, sublinha as emoções de “Mentira de Amor”.

“Dalva de Oliveira: 100 Anos Ao Vivo”, álbum duplo traz 34 músicas do repertório da cantora, divididas em 32 faixas; 31 intérpretes participam, como Leny Andrade, Luciene Franco e Célia.

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