Grupo Corpo 40 Anos

Um corpo ávido por dança  

Com 23 anos, Edimárcio Júnior, o mais novo integrante da companhia, já é uma referência para jovens bailarinos

Dom, 02/08/15 - 03h00

Perto da casa de Edimárcio Júnior de Jesus, o Edi, funciona uma das unidades da ONG Corpo Cidadão, no bairro Serra. Ali, alguns primos e vizinhos participavam de oficinas artísticas. “Eu chegava da escola e ouvia as crianças gritando, cantando, tocando percussão”, lembra. A movimentação chamava atenção de Edi que, à época, estava com 10 anos. Ele queria fazer parte da escola, mas como a trajetória da dança iria lhe mostrar, era preciso esperar sua hora, aguardar uma vaga e enfrentar a concorrência. “Eu acabei fazendo o teste pouco tempo depois do falecimento da minha mãe, incentivado por minha avó, porque ela sabia que minha mãe ia gostar de me ver no caminho artístico. Ela dizia que queria que eu tivesse uma história diferente da família”, conta.

Durante seis anos, de 2002 a 2008, Edi passou as manhãs na escola e as tardes na ONG. “A minha vida é toda marcada pelo Corpo Cidadão. A primeira vez que fui ao teatro, foi pelo projeto. A gente assistiu ao Grupo Corpo no Palácio das Artes, e eu fiquei com vontade de fazer o que eles faziam”, revela o bailarino.

Nesse período, o Corpo criou o Grupo Experimental de Dança, com alunos que se destacavam na ONG, e Edi foi convidado para as seleções. Não teve sucesso de primeira, mas se superou na segunda tentativa, em 2006. Os ensaios do grupo eram realizados na sede do Corpo, onde ele teve os primeiros contatos com Rodrigo Pederneiras.

Depois de alguns anos no grupo, outras audições desafiaram o bailarino. Ele participou da seleção do Ballet Jovem do Palácio das Artes e conseguiu entrar na terceira tentativa. “Não passar é muito doloroso. Você fica pensando se está no caminho certo, se é isso mesmo que tem que fazer, mas eu encarei de outra forma. Não passar me fazia estudar ainda mais”, conta.

Quando entrou para o Ballet Jovem, Edi se desligou do Corpo Cidadão. “Eu quis experimentar algo novo e acho que fiz a coisa certa. Quando fiquei sabendo neste ano que o Ballet Jovem tinha acabado, foi a maior tristeza. É um projeto que insere bailarinos no mercado de trabalho e muitos artistas jovens saem de lá e vão para outras companhias, como foi o meu caso. Eu já estava aqui no Corpo, mas pensei nos meus amigos que ficaram lá e nos outros bailarinos que não teriam a mesma chance que eu tive. Mas ainda bem que, depois de eles se manifestarem, o Ballet voltou”, comemora.

Alguns anos depois, achou que era hora de voltar às origens e lá foi ele enfrentar outra audição. O Corpo iria selecionar um único bailarino, e Edi disputou a vaga com outros 22 candidatos. “Eu fiquei espantado com o nível deles. Quando o Paulo (Pederneiras, diretor do grupo) me ligou, eu achei que era um trote, claro. Ele me pediu para ir na companhia no mesmo dia. Dei um jeito, peguei um ônibus e fui direto para lá”, lembra.

Ao contrário do usual, Edi começou sua trajetória tarde. Ele chega ao Corpo com 23 anos, bem a tempo de participar da montagem do programa comemorativo dos 40 anos. Em “Dança Sinfônica”, ele, o bailarino recém-chegado, com apenas oito meses de companhia, faz um duo com Silvia Gaspar, a bailarina mais antiga do grupo, com 15 anos de Corpo. “O Rodrigo queria fazer um duo. Primeiro, chamou a Silvinha e depois apontou para mim. Eu iria dançar com a diva do Corpo com um duo montado para a gente! Nossa, senti o peso da responsabilidade. Ela é uma referência, pela qualidade do trabalho que mostra em cena e pela intensidade em tudo o que faz. Agora estou me acostumando, mas nos primeiros ensaios, minha perna tremia”, confessa.

Quando pensa no que representa estar no Corpo, Edi sorri com ares de satisfação, mas, em seguida, mostra suas preocupações. “Não posso vacilar. O bailarino tem que ter o corpo trabalhado, pronto para o que o coreógrafo pedir”. Na busca pelo condicionamento perfeito, Edi malha, segue à risca uma dieta recomendada por nutricionista e faz fisioterapia, além das aulas e ensaios diários na companhia.

Embora recém-chegado, ele já é uma referência para os jovens do Corpo Cidadão. “Eu recebi vários retornos de que os alunos estão indo para as aulas com mais vigor. Se eu consegui, eles também podem. Eu fui muito acolhido aqui, sem nenhum preconceito porque não sou formado. Eu vim de um projeto social, não tenho formação técnica, mas aqui eles bancaram essa ideia. Se eles quebram esse preconceito, outras companhias também podem quebrar”, aposta o bailarino.

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