Música

Um show de viola para os pequenos

Paulo Freire apresenta na capital espetáculo voltado ao público infantil com causos sobre a mitologia brasileira

Sex, 14/07/17 - 03h00
Show. Paulo Freire toca viola e conta causos que têm Curupira e Mula Sem Cabeça de personagens | Foto: ELCIO PARAÍSO/DIVULGAÇÃO

Paulo Freire, 60, acredita no que não vê, pois aprendeu com Guimarães Rosa (1908-1967) que “tudo o que tem nome, existe”. A fim de comprovar a teoria, ele apresenta neste domingo (16) – como parte da programação do Diversão em Cena – o repertório de seu álbum “Violinha Contadeira”, destinado a encantar crianças de todas as idades com causos típicos da mitologia brasileira, acompanhados pelo toque de sua viola.

“O mundo anda muito ligado na informação e tem pouca literatura. As crianças ficam fascinadas, e também me encanta o interesse delas pela magia, o fantástico. A gente percebe com o tempo que o escancarado é menos real que a imaginação. O que me assusta são as pessoas que acreditam nessa tal verdade”, brinca o músico. Povoam as histórias inventadas por Freire figuras do folclore brasileiro, casos da Mula Sem Cabeça, Curupira e Lobisomem.

“Sempre contei causos, e, depois que o meu filho nasceu, passei a criar alguns para ele. Inicialmente com coisas cotidianas, até que resolvi inserir a mitologia, porque é um assunto que sempre me interessou. Prestar atenção nas reações infantis é um detalhe para o qual a gente deve se atentar, pois nos traz caminhos muito inspiradores e fora do comum. A gente reaprende a ver, a ter um outro olhar”, assegura.

Aventura.Freire não caiu nesse mundo por acaso. Filho do escritor Roberto Freire (1927 -2008) – autor de “Ame e Dê Vexame” e “Sem Tesão Não Há Solução” –, foi o pai que lhe indicou a leitura de “Grande Sertão: Veredas”. O contato com a obra de Rosa foi o suficiente para ele abandonar a faculdade de jornalismo, e partir em uma aventura no sertão mineiro, na cidade de Urucuia, onde conheceu Manoel de Oliveira, seu primeiro professor de viola.

“Passei a viver com esse senhor, que me ensinou muito. De dia a gente trabalhava na roça, e, no fim da tarde, ia para o terreiro tocar viola. Mas tocar viola não é apenas tocar as cordas do instrumento, é contar causos, ouvir o silêncio da natureza, sentir aquele cheiro de café com biscoito, e eu fui beber nessa fonte”, elabora. Hoje morando numa chácara em Campinas (SP), interior do Estado onde nasceu, Freire mantém influências dessa experiência. “Tenho uma formação ampla, de choro, de bossa nova, de música erudita, mas, se não passar pelo sertão, para mim não dá certo. Ele está entranhando em mim”, considera, não sem antes mencionar outro violeiro de Minas. “Conheci o Renato Andrade (natural de Abaeté, 1932-2005), que era o perfeito ‘sagarana’ ambulante, não era uma pessoa fácil, mas tinha uma exuberância artística incrível”, elogia.

Exposição. Freire também é autor de “Eu Nasci Naquela Serra” (1996), biografia sobre os precursores da música caipira Angelino de Oliveira, Raul Torres e Serrinha, feito que certamente contribuiu para ele se tornar curador da próxima exposição no Itaú Cultural (SP) em homenagem a uma estrela da música. Em setembro, a contemplada será Inezita Barroso (1925- 2015). “A postura e o jeito dela ver a vida me ensinaram muito”, conclui.


AGENDA

O quê. Show “Violinha Contadeira”, com Paulo Freire
Quando. Domingo (16), às 16h
Onde. Teatro Bradesco (rua da Bahia, 2.244, Lourdes)
Quanto. R$ 10 (inteira) 

 

Discografia

1995 “Rio Abaixo”
1998 “São Gonçalo”
2003 “Esbrangente”/ “Brincadeira de Viola”/ “Vai Ouvindo”
2007 “Redemoinho”
2009 “Nuá”
2013 “Alto Grande”
2015 “Violinha Contadeira”
2016 “Pórva”

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