Uakti

Uma fábrica mineira de sons 

Grupo instrumental prepara “Planetário”, primeiro CD com orquestra, e inaugura show em homenagem à carreira

Qua, 24/06/15 - 03h00
Formação. Para os shows em BH, o Uakti apresenta a formação estendida composta por (da esquerda para a direita): Josefina Cerqueira, Kristoff Silva, Paulo Santos, Artur Andrés, Alexandre Andrés, Regina Amaral e Jose Henrique | Foto: UARLEN VALERIO

Da porta da casa nº 308, na rua Oeste, o som das marimbas de vidro e da percussão criada com copinhos de iogurte ganha sutilmente a rua. É assim há 20 anos, pelo menos. Lá dentro, no quartel-general do grupo instrumental Uakti, quase sempre há um músico tirando um som na sala de estar, enquanto novas ideias são maturadas a todo momento no quintal. “Sentamos aqui nessa mesa para bater papo e decidir quais projetos fazer. Um deles foi o disco ‘Uakti Beatles’, sucesso de 2012. O outro foram dois shows com nova formação e mais um CD: nossa primeira criação ao lado de uma orquestra de cordas”, adianta o músico Artur Andrés.

Com quase 40 anos de carreira, o Uakti tem currículo de sobra para dizer que fez de tudo: desde o apadrinhamento por Milton Nascimento, resultando nos três primeiros discos instrumentais do grupo – quando o gênero era ousado demais para o fim dos anos 70 –, passando por turnês no exterior com Bituca, até trilhas para o cinema e especialmente para o Grupo Corpo. Tudo abarcado pelos mais de cem instrumentos criados principalmente por Marco Antônio Guimarães, mentor dos músicos.

Em 2015,o Uakti tem fome de estradas novas. Além de lançar, em novembro, o álbum “Planetário”, o grupo prepara dois shows promovendo um encontro de canções antigas e inéditas em homenagem aos 37 anos de carreira.

De imediato, a agitação na casa da rua Oeste, no bairro Prado, é em torno das apresentações próximas, nos dias 18 de julho, na praça Floriano Peixoto, e 1º de agosto, na Praça Milton Campos – ambas gratuitas. Os shows marcam a nova formação do grupo, que começou como um quarteto, mas agora se torna mais enxuto com a saída de Décio Ramos, mas mantendo os músicos Marco Antônio, Artur Andrés e Paulo Santos. “Foi um processo natural para nós. O Décio só acrescentou”, diz o percussionista Paulo Santos.

A novidade para os dois shows gratuitos é a inserção do flautista Alexandre Andrés (filho de Artur Andrés), do percussionista José Henrique e do violonista Kristoff Silva, além das percussionistas Josefina Cerqueira e Regina Amaral. “Eu vejo como uma renovação de camadas. O Uakti com Marco, Artur, Paulo e Décio, depois Josefina e Regina, que participam ativamente desde as gravações de ‘Água da Amazônia’ (1999), e agora nós, jovens dando novo gás a esse trabalho que acompanhamos desde pequenos”, elucida o músico Alexandre Andrés.

A confluência de gerações no Uakti fez com que o agora trio principal, formado por Marco, Artur e Paulo, se rendesse ao repertório antigo, principalmente dos três primeiros álbuns, “Uakti - Oficina Instrumental” (1981), “Uakti II” (1982) e “Tudo e Todas as Coisas” (1984).

Desses discos, o músico Kristoff Silva, que desde 1993 marca presença em participações com o Uakti, convenceu o trio ensaiar de novo pérolas como “Dança na Chuva”, “Promessas” e “Passo da Lua” para apresentação nos próximos shows. “Algumas dessas eles não queriam tocar. Não havia partituras para as músicas. Tirei de ouvido e apresentei os arranjos para eles, que acabaram se rendendo a fazê-las no show. É bonito esse processo porque acompanho o Uakti desde a minha adolescência”, diz Kristoff.

AUTORAL. Para essas apresentações, o Uakti pretende revelar também algumas novas canções do disco “Planetário”, ainda em processo de gravações entre o estúdio Fazenda das Macieiras, em Entre Rios de Minas, e a própria casa. A ideia é que o álbum seja lançado em um projeto com patrocínio da Natura Musical, em novembro, com possível turnê pelo país.

Sob regência de Marcelo Ramos, da Orquestra Sinfônica de Minas Gerais, o disco conta com acompanhamento de 14 músicos eruditos em 11 faixas inéditas – com exceção de “Mapa”, releitura de 1992. “Já tínhamos a vontade de trabalhar com cordas antes. Sentimos uma carência de repertório de várias orquestras no país. A ideia é que possamos criar uma referência autoral para nossas músicas serem tocadas em grandes concertos”, justifica Paulo Santos.

Outra novidade do disco é a participação da cantora Mônica Salmaso, introduzindo a canção no repertório do Uakti, ao interpretar “Sinfonia das Goteiras” (Artur Andrés e Bernardo Maranhão). “Essa era uma música instrumental, como a maioria que compusemos a seis anos ou mais e estavam guardadas. Achei que caberia bem na voz da Mônica e abrimos essa exceção, já que havia uma letra bonita do Bernardo”, diz Artur Andrés.

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