Abuso sexual

Marcius Melhem pediu sexo oral a atriz após contrato com a Globo

Após queda de censura, reportagem da revista Piauí revelou nesta segunda-feira, 14, série de ataques do humorista contra oito mulheres

Por Folhapress
Publicado em 14 de fevereiro de 2022 | 21:46
 
 
O humorista Marcius Melhem, ex-diretor da TV Globo Foto: João Motta/Globo

Avançar sobre uma atriz, só de toalha e com o pênis ereto; pedir um boquete para outra, como recompensa por tê-la trazido para a Globo; levar as mãos de mulheres para suas genitálias e dizer frases como "Você faz parte das minhas fantasias sexuais" ou "Como você está gostosa com essa roupa". Essas são algumas das descrições dadas por oito mulheres, que se dizem vítimas de abuso sexual por Marcius Melhem, ex-chefe do departamento de humor da Globo.

As informações foram publicadas em reportagem da revista Piauí nesta segunda (14), após ficar proibida por 172 dias, isto é, desde o dia 12 de agosto de 2021. A decisão havia sido tomada pela juíza Tula Corrêa de Mello, da 20ª Vara Criminal do Rio de Janeiro, a pedido da defesa de Melhem por suposta violação do sigilo do processo judicial. Em 31 de janeiro, o ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes derrubou a medida, considerando que a censura prévia à imprensa viola a Constituição.

Em dezembro de 2020, a Piauí trouxe à tona o caso envolvendo a atriz Dani Calabresa, que, afinal, não era a única pessoa a relatar esse tipo de violência por parte do humorista.

Todas as mulheres depuseram à promotora Gabriela Manssur, coordenadora da Ouvidoria Nacional do Ministério Público, seja em vídeo ou texto. Suas identidades estão sob sigilo.

 

Melhem recebia atrizes só de cueca 

Segundo os relatos, o flat alugado pela Globo, que funcionava como redação do departamento de humor, é um dos lugares recorrentes onde ocorreram esses abusos, datados entre 2010 e 2019. Melhem receberia as atrizes só de cuecas, ou ainda com as calças abaixadas, ou sem calças. Uma relata ter sido chamada de "piranha", outra se lembra de ele apontar para o banheiro e dizer "Vamos?", em tom convidativo, propondo sexo.

Outra atriz relembra ainda a vez em que Melhem pediu para tomar um banho no flat dela antes de ir para uma festa. Uma amiga estaria por lá na ocasião, mas teve um contratempo. Nisso, o humorista teria saído do banheiro, ereto, e tentado agarrá-la. Diante da resistência, soltou-a, mas fez menção ao episódio, em conversa por WhatsApp com a atriz, dando uma nova chance para que ela aceitasse a relação sexual.

No início de novembro de 2021, Melhem falou também à Delegacia de Atendimento à Mulher, no Centro do Rio, mas na transcrição do depoimento, ele gasta apenas duas linhas –de um total de oito páginas– se referindo a esse último caso. Nega que tenha deixado o banheiro só de toalha e que tentou agarrar a atriz à força.

Quando perguntado se recebia atrizes de "cuecas, com as calças abaixadas ou sem calças", respondeu que isso ocorreu apenas uma vez e que "se tratava de brincadeira e também não tinha conotação sexual." O termo "brincadeira", aliás, é recorrente na sua defesa.

Os casos envolvem também o bar Vizinha 123, em Botafogo, onde testemunhas relembram quando Dani Calabresa foi assediada.

 

Deixou a emissora de 'comum acordo'

Apesar das denúncias internas à Globo, a emissora e Melhem dizem que ele deixou a empresa "de comum acordo". Ele estava afastado desde março de 2020. Após cinco meses no exterior, voltou ao país, mas não foi reincorporado à televisão.

A revista, no entanto, teve acesso a documentos que descrevem que o humorista foi punido com demissão após o Compliance da emissora ter encontrado "alegações de práticas abusivas" graves.

Sem previsão de encerramento do caso, Melhem já teve depoimentos favoráveis de pelo menos cinco colegas, como as atrizes Flavia Reis, Patricia Pinho e Renata Castro Barbosa, e a diretora Alice Demier, do Zorra, e o humorista Welder Rodrigues.

Outras dez testemunhas deram relatos contra Melhem. Entre elas, os atores Marcelo Adnet, ex-marido de Dani Calabresa, George Sauma, Eduardo Sterblitch, a atriz Maria Clara Gueiros e o diretor Mauro Farias, que comandou o Zorra e o Tá no Ar.

Assessoria de Marcius Melhem emite nota à reportagem de O TEMPO

"Em mais uma edição completamente parcial, a revista Piauí disse ter tido acesso à investigação que corre em segredo de justiça,  mas publica apenas parte do processo, distorce a realidade e omite fatos e provas da defesa de Marcius Melhem. Aos fatos:

A cena do flat da atriz não aconteceu da forma descrita pela Piauí. A revista omite que a atriz seguiu amiga de Marcius por muitos anos após o episódio, convidando seu suposto abusador para seu casamento e para ir à sua casa conhecer sua filha recém-nascida, para citar dois exemplos. A relação só estremeceu 5 anos depois, quando ela não foi convidada para o programa Fora de Hora. A troca de mensagens entre ambos nesse período é a prova de que não houve nada de traumático na relação entre eles, até que ela fosse recrutada.
 
Quando descreve as brincadeiras que ocorriam no ambiente do humor, algumas em tom sexual, a Piauí não revela o farto material probatório apresentado pela defesa de Marcius Melhem de que as brincadeiras ocorriam dos dois lados. A atriz que o acusa de “exigir um boquete”, por exemplo, foi sua namorada por mais de um ano e ambos trocavam mensagens picantes da intimidade típica de casais. Há farto material comprobatório do namoro, cujo término não foi bem recebido pela atriz conforme dezenas de áudios e mensagens anexados ao processo. Até pouquíssimo tempo antes da denúncia de Dani Calabresa esta atriz ainda estava inconformada de ser apenas amiga. Depois assumiu a frente da vingança.
 
Nos e-mails internos da TV Globo, a própria Piauí afirma que como resultado do compliance Melhem não foi demitido, mas sim afastado das suas funções de gestor. Em seguida afirma que foi demitido. Uma narrativa errática e confusa.

A Piauí, que tem acesso a todo material que está sob sigilo, estranhamente disse não ter acesso a anexos do email do advogado Helcio Alves Coelho, membro do departamento de Compliance do Grupo Globo, onde estariam as conclusões do compliance.Tivesse a Globo apurado que houve assédio sexual teria feito homenagens a Melhem em sua saída?

A Piauí chega a citar como testemunha de acusação um ator que em depoimento desmentiu a Piauí do começo ao fim.

Esses são apenas alguns exemplos de mais um festival de absurdos da Piaui, que, no papel de assessoria de comunicação da acusação, vai tentar provar que não está errada desde o início. Não dará certo.

Por respeito à Justiça, Melhem não pode expor suas provas nesse momento. Parece que o segredo só vale para Melhem, mas não será para sempre. Quando a Justiça autorizar,a opinião pública irá conhecer toda a verdade, sem versões parciais e distorcidas. E muitos irão se chocar com o que está por trás das acusações na justiça e dos vazamentos fora dela"