Foi num momento de mar revolto que nasceu uma parceria musical inédita e profícua. Uma troca de mensagens durante a pandemia fez surgir um porto de onde não saem nem chegam barcos, navios ou afins, mas, sim, poesia. A junção dos versos inspiradíssimos do jornalista, poeta e compositor Raphael Vidigal com a melodia pujante do bandolinista, cantor e compositor Marcos Frederico resultou em “Porto-Poema”, faixa que chega em todas as plataformas de áudio nesta quarta-feira (7). O samba - que durante essa gestação de dois anos foi ganhando novos tons e uma vibe mais leve com a calmaria proporcionada pelo fim da crise sanitária causada pela Covid-19 - é um sopro de lirismo, leveza, graça e esperança.
Vidigal explica que a expressão que dá nome à composição surgiu de forma muito espontânea, durante a feitura da letra. Marcos gostou do termo e Rapha não titubeou em batizá-la. “Vou seguindo a melodia e descobrindo as palavras que melhor se encaixam nela. Costumo dizer que as palavras já existem dentro da melodia, o trabalho é trazê-las à luz, revelá-las. Posso dizer que sou um leitor de poesia, gosto desse universo lúdico, e essas palavras inventadas ou recriadas são uma constante nesse universo, em especial na poesia simbolista, que preza por essa liberdade. ‘Porto-Poema’ veio como complemento à expressão “velejei nas estrelas”, do verso anterior. É a união de algo concreto, que existe e nos ancora, um porto; e algo lúdico, que só existe na fantasia, o “poema", mas que nos ajuda a viver e conviver com esse dia a dia. Gosto da união de contrastes, do impossível, como é o caso de velejar nas estrelas”, explica o jornalista/compositor.
A canção faz lembrar um pouco “Que tal um Samba?”, de Chico Buarque com participação de Hamilton de Holanda, lançado no ano passado. Seja pelo virtuosismo do bandolim de Marcos Frederico e/ou pelo otimismo e frescor que a composição carrega. O músico de BH, aliás, joga nas 11. Além de ser um dos autores de “Porto-Poema”, ele ainda toca, canta, e criou a imagem da capa do compacto e os vídeos de divulgação.
Marcos Frederico celebra a criação em conjunto com Vidigal. “Com leveza e poesia, ‘Porto-Poema’ vem para lembrar que sempre haverá uma nova manhã. Sempre é dia de renascer. Espero que a música faça com que as pessoas dancem, se amem e se atentem para a música brasileira”, ressalta o bandolinista que se prepara para lançar seu oitavo disco autoral, que já está em fase de finalização. Aliás, “Porto-Poema” é o primeiro single deste trabalho.
A composição ainda conta com os vocais de Giselle Couto, o violão de sete cordas e o cavaquinho de Gustavo Monteiro e a percussão de Robson Batata. Oxalá que essa parceria inédita entre o poeta das palavras Raphael Vidigal e o poeta da melodia Marcos Frederico renda novos frutos e, parodiando os autores, que “a vida nos dê bem mais”.
Sobre os artistas
Natural de Belo Horizonte, Raphael Vidigal é jornalista de Cultura com passagens pelo jornal Hoje em Dia, e O TEMPO. É colaborador do programa “A Hora do Coroa”, comandado por Acir Antão, na Rádio Itatiaia, com pesquisas musicais e ainda é responsável pelo blog Esquina Musical, que mantém desde 2012. A música sempre se fez presente na trajetória de Vidigal. Em 2016, ele produziu o disco de chorinhos “Waldir Silva em Letra & Música”, no qual colocou letra em 12 melodias do homenageado.
Ele já fez parte do time de compositores do Concurso de Marchinhas Mestre Jonas e, em 2020, lançou o samba “Tempo da Estiagem”, com interpretação da cantora Deh Mussulini. Em 2021, iniciou parceria com Ed Nasque em “Arco-íris” com participação de Luisa Doné.
Já Marcos Frederico, que também é belo-horizontino, tem uma trajetória de mais de duas décadas na estrada musical e soma sete discos autorais. Exímio bandolinista, sua estreia no mercado fonográfico se deu em 2007 com o instrumental “Sinuca Tropical”. O último álbum foi “Marculelê”, lançado em 2020.
O músico mineiro também sempre marcou presença no Concurso de Marchinhas Mestre Jonas e é um dos maiores vencedores do projeto. Com influência do choro, MPB e música instrumental, tem entre seus parceiros nomes como o de Murilo Antunes, Flávio Henrique, Chico Amaral, Thiago Delegado, Edu Krieger, Aline Calixto e Brisa Marques.
FICHA TÉCNICA
Composição: Marcos Frederico e Raphael Vidigal
Voz/violão/bandolim: Marcos Frederico
Voz: Giselle Couto
Violão de sete cordas/cavaquinho: Gustavo Monteiro
Percussão: Robson Batata
Mixagem e masterização: Marcelinho Guerra
Gravada no estúdio Steroutono em janeiro de 2023