luto no cinema

Morre, aos 70 anos, o diretor Hector Babenco

Cineasta argentino sofreu uma parada cardíaca na noite desta quarta (13); naturalizado brasileiro e indicado ao Oscar, ele dirigiu Carandiru e Pixote

Por Folhapress
Publicado em 14 de julho de 2016 | 08:56
 
 
Argentino radicado no Brasil, Babenco foi um dos mais importantes cineastas do país arquivo ap - 9.12.2007

Morreu na noite desta quarta-feira (13), aos 70 anos, o cineasta Hector Babenco. Ele sofreu uma parada cardíaca, por volta das 23h, no Hospital Sírio Libanês. A informação foi confirmada à reportagem por sua ex-mulher, Raquel Arnaud e pelo produtor de seus filmes, Marcelo Torres.

Argentino radicado no Brasil, Babenco foi um dos mais importantes cineastas do país e chegou a dirigir filmes em Hollywood com Jack Nicholson e Meryl Streep. O cineasta deixa duas filhas, Myra e Janka, dois netos e sua mulher, Bárbara Paz. O velório será na Cinemateca, em São Paulo, nesta sexta (15), a partir das 10h e até 15h, no foyeur da sala BNDES.

 

Destaques na carreira

Realizou "O Beijo da Mulher-Aranha" (1985), filme que lhe rendeu uma indicação ao Oscar de melhor diretor e o prêmio de melhor ator a William Hurt. Também rodou longas aclamados como "Lúcio Flávio: O Passageiro da Agonia" (1977), Pixote: A Lei do mais Fraco" (1982) e "Carandiru" (2003).

FOTO: Divulgação
Cineasta Hector Babenco (1946 - 2016) era naturalizado brasileiro

Babenco nasceu em Mar del Plata, Argentina, em 1946. Era filho de imigrantes judeus. O pai, alfaiate, era antiperonista, e Babenco praticou esse mesmo ofício até os 17. Saiu da Argentina nessa época porque não queria prestar o serviço militar e foi viajar pela Europa. Desembarcou no Brasil em 1969, já casado com a italiana Fiorella Giovagnolli.

Vivendo em São Paulo na virada dos anos 1960 para os 1970 trabalhou como vendedor de enciclopédias e fotógrafo de restaurantes. A pedido da Secretaria Municipal de Cultura fez seu primeiro documentário em 1972, sobre o Masp. No ano seguinte, retratou a vida do piloto Emerson Fittipaldi em "O Fabuloso Fittipaldi".

Mas conquistou notoriedade quando migrou para o cinema de ficção. Seu primeiro longa do gênero foi "O Rei da Noite" (1975) traz a história de Tertuliano (Paulo José), filho de família tradicional que cai na boemia -e nos braços da prostituta Lupi (Marília Pêra).

O êxito que obteve o credenciou para dirigir seu próximo filme, um dos mais assistidos da história do cinema nacional: "Lúcio Flávio" (1977), drama político sobre um assaltante de bancos na época da ditadura. O personagem foi vivido por Reginaldo Faria. "Lúcio Flávio" levou quatro prêmios no Festival de Gramado e foi eleito o melhor filme do júri popular na Mostra de Cinema de São Paulo, em sua segunda edição.

Em 1982, o diretor lançou uma de suas mais famosas obras: "Pixote", história de um garoto pobre que sai da Febem e perambula com companheiros igualmente miseráveis pelas ruas de São Paulo. Entre idas e vindas, topa com uma prostituta Sueli, um dos papéis mais famosos de Marília Pêra.

Quando a atriz morreu, no fim do ano passado, Babenco lamentou à Folha de S.Paulo e disse que a atriz havia sido "crucial a ele. "Aquela famosa cena em 'Pixote', na qual ela amamentava o menino no colo dela, foi inventada na hora, não estava no roteiro", disse na ocasião. "Pixote" foi indicado ao Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro daquele ano e despertou as atenções internacionais para o diretor.

Em 1985, Babenco dirigiu aquele que foi o filme de maior repercussão internacional de sua carreira: a coprodução Brasil-EUA "O Beijo da Mulher-Aranha", baseado em romance de Manuel Puig. Na trama, dois presidiários (William Hurt e Raul Julia) de personalidades absolutamente distintas -um homossexual e um militante político- fantasiam enquanto dividem a cela numa cadeia sul-americana. O filme conta com Sonia Braga no elenco e rendeu a Babenco uma indicação tanto ao Oscar quanto à Palma de Ouro, em Cannes.

Babenco acabou ficando sem a estatueta da Academia, mas Hurt levou o Oscar de ator como Luis Molina, o sujeito afeminado que roda pelas ruas de São Paulo.

"Ironweed" (1987), rodado nos EUA, uniu o diretor a dois grandes atores: Jack Nicholson e Meryl Streep. O filme, contudo, fracassou em bilheteria. De 1991, "Brincando nos Campos do Senhor" trouxe Tom Berenger e John Lightgow como missionários na selva.

 

Luta conta o câncer

Nos anos 1990, o diretor foi vítima de um câncer no sistema linfático que o levou a um transplante de medula e a uma série de sessões de quimioterapia. A partir de então, Babenco se voltou para tramas mais autobiográficas, caso de "Coração Iluminado" (1998), história de um homem que retorna à Argentina após uma ausência de 20 anos para se encontrar com o pai doente. O filme tem Maria Luísa Mendonça e Xuxa Lopes, ex-mulher do diretor, no elenco.

Em 2003, já recuperado do câncer, o cineasta lançou "Carandiru", filme inspirado em "Estação Carandiru", de Drauzio Varela, colunista da Folha de S.Paulo. Wagner Moura, Caio Blat, Milhem Cortaz vivem presidiários nesse que é um dos mais caros filmes do cinema brasileiro e que retrata o massacre na Casa de Detenção.

"O Passado" (2007), é uma obra inspirada em livro homônimo de Alan Pauls, que traz Gael García Bernal no papel principal de um homem que se separa da companheira após 12 anos. Estreou na Mostra de São paulo daquele ano. No ano passado, Babenco lançou seu último longa, o semiautobiográfico "Meu Amigo Hindu" (2016), que retrata um cineasta (Willem Dafoe) às voltas com um tumor agressivo. 

 

 

Veja abaixo a repercussão da morte do cineasta:

 

Clique aqui para acompanhar a repercussão completa da morte de Babenco