Documentário

Mostra Ecofalante exibe o doc 'Golpe Corporativo' no MIS

A partir de uma cidade decadente, longa aponta a ameaça do corporativismo para aqueles que não pertencem às elites

Qua, 23/10/19 - 18h31
Uma das habitantes de Nova Jersey entrevistadas pelo documentário, que derruba muitos mitos sobre o "sonho americano" | Foto: Ecofalante/Divulgação
Sobre Camden, cidade situada no estado de Nova Jersey, há, hoje, uma tentativa clara: a de cobri-la com um certo "manto da invisibilidade". E os motivos para tal não são difíceis assim de detectar. Aquele que um dia foi um dos centros industriais mais importantes dos Estados Unidos, endereço de gigantes como RCA Victor, Campbell's Soup e outras; hoje está longe de corresponder ao que o imaginário mundial conecta ao conceito do "sonho americano".
 
Mas é por Camden, com suas estruturas hoje feias e deterioradas, com suas impactantes ruínas, que o documentário "Golpe Corporativo", atração desta quarta-feira à noite, na mostra "EcoFalante", em cartaz na cidade; começa.
 
O objetivo, aqui, é mostrar todo o compasso (ou descompasso) que culminou com a eleição do magnata Donald Trump à presidência dos Estados Unidos. O documentário mescla depoimentos de pessoas que já há tempos estudam o fenômeno do avanço do corporativismo mundo afora  (filósofos, jornalistas, historiadores) a falas de gente comum, como a senhora que perdeu a casa e hoje mora em uma barraca de camping, à margem de tudo.
 
Camden aparece como um exemplo palpável das teorias que já há tempos apontavam para este caminho - mas, bem, não é a única cidade. O documentário cita, por exemplo, Youngstown, em Ohio, que chegou a responder pelo posto de "capital mundial do aço"; entre outros pontos do território americano. São locais nos quais a prosperidade deu lugar à pobreza, que  muitas vezes deságua na tragédia, atrelada a outras mazelas, como a devastação ambiental. 
 
Em um dado momento, um transeunte narra a história do homem que foi encontrado morto ainda com a agulha da seringa com a qual injetou drogas cravada em seu corpo. O rapaz havia passado pouco antes pelo local, e pensou que o homem, na verdade, estava dormindo. Não se sabe se morreu de frio ou de overdose. American Way of Life? No more. No way.
 
Trump é citado pelos entrevistados com adjetivos como "imbecil", porém,  astuto. Constrange a elite com a sua deselegância, sua língua sem freios, seus modos reprováveis, sua aproximação com o fascismo, mas, ao mesmo tempo, esse segmento o tolera, à medida em que o republicano atua, nos bastidores, para garantir os privilégios dos mais abastados. Um jogo de toma lá da cá que garante a permanência do status quo. Mas Trump é visto como um sintoma, não como a doença.
 
Impactante na justa medida, e informativo, "Golpe Corporativo" é mais um exemplo de uma fértil produção que, mesmo por vezes contando com poucos recursos e poucas vitrines, consegue fazer ecoar questões urgentes, por vias por vezes marginais. Parabéns à Ecofalante pela iniciativa de trazê-lo ao Brasil na tela grande. 

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