Homenagem

Paulinho Boca de Cantor fala do amigo Moraes Moreira

O também integrante do Novos Baianos mandou um áudio emocionado à imprensa, falando da perda do timoneiro

Por Da redação
Publicado em 13 de abril de 2020 | 19:30
 
 
Paulinho: "Falávamos todos os dias, três, quatro vezes. Conversei com ele na Páscoa" Divulgação

Paulinho Boca de Cantor, também integrante do Novos Baianos, divulgou, hoje à tarde, uma mensagem por áudio para a imprensa, falando da perda do amigo Moraes Moreira. Emocionado, ele lembrou os primórdios do grupo, chegando aos dias atuais. Confira, a íntegra: 
 
"Queria muito ter atendido a todos que ligaram, mandaram mensagens, mas eu não ia conseguir atender a todos. Primeiro, pelo imenso número de pessoas que queriam saber e eu não tinha o que dizer. Só tinha que dizer que Moraes, nos últimos tempos, era o meu grande amigo, o amigo de todos os dias, a gente se falava todos os dias, as ligações eram para falar de trabalho ou para dar muita risada de tudo. Risada da vida, risada da nossa história. A gente não tem controle sobre nada, estamos vendo aí o que o mundo está passando, quantidade de pessoas que estão sendo atingidas por essa loucura dessa pandemia. Mas é importante que a gente fale desse amor, dessa coisa que começou 50 anos atrás, quando encontrei ele, Galvão, e a gente pensou que poderia fazer alguma coisa junto. E as pessoas foram chegando, Baby, Pepeu, Jorginho, Didi, Dadi, Baixinho, Bola, Bolacha, Charles, Gato, e fomos juntando e fazendo uma outra família. Sem laços sanguíneos, mas com uma afinidade tremenda. E a afinidade veio exatamente por meio dessa alegria, dessa coisa que permanece até hoje. Pode acontecer o que acontecer, mas na hora que a gente se encontra, é uma alegria, uma festa, e aí a música flui tranquilamente, naturalmente. E o que é importante é que essa música que a gente começou a fazer há 50 nos, está aí, viva. E o Moraes era um grande timoneiro. Aquele violão que não tinha nada igual, todos os artistas brasileiros que tocam violão sabem da capacidade que ele tinha de fazer um show de voz & violão e colocar todo mundo para dançar. As composições, contando a vida, o que a gente estava vivendo ali, aquela alegria. Agora é que me recuperei um pouco para falar, porque tenho que falar, mas não é falar como foi, pois a gente sabe que não tem controle sobre nada, mas é falar que a gente se falava três, quatro vezes.... todo dia. Ontem achei estranho, mas anteontem, a gente falou sobre a Páscoa, a gente estava em casa, ele até falou que ia mandar fazer um bacalhau. A gente sempre se perguntava: 'Como é que tá?'. E ele estava sempre bem. Ele dizia: 'Não, estou bem, o fígado está bom, o coração tá bom'. Mas claro, a gente já tem uma certa idade. Porque somos Novos Baianos, mas gosto de dizer, de brincar, que somos 'Usados Baianos', até porque, a gente vive intensamente. Ele viveu intensamente a música, a festa, o Carnaval. Queria agradecer a todos que me procuraram. Não posso atender um de cada vez, mas fica aí essa mensagem, para que todos possam ver. O carinho, a amizade... Estávamos cuidando dos Novos Baianos como nunca. Sempre que acontecia algo profissional, a gente se falava. A gente tinha essa amizade, esse amor. Era só ver quando a gente se encontrava,  como era o abraço. Ele me chamava de Labous, que vem do meu apelido de dentro do Novos Baianos, que era La Bouche, ou seja, a boca, em francês. E eu chamava ele de Antonio ou de Moringueira. A gente estava muito próximo, muito perto. Só agora consegui dizer que, além de muito triste, tenho a certeza absoluta de que todo o Brasil vai reverenciar para sempre essa arte e a vida desse grande homem, desse grande compositor, desse grande baiano, Moraes Moreira".