Literatura

Poetas experimentam podcasts e redes sociais para difundir seus versos

Pedro Muriel vai lançar neste sábado (15) seu 'Poemacast' no Spotify e no domingo o espetáculo de mesmo nome será apresentado no Teatro Sesiminas

Por Carlos Andrei Siquara
Publicado em 15 de junho de 2019 | 00:03
 
 
Podcasts, Instagram, Facebook e vídeos, entre outros, são plataformas que poetas vêm experimentando Hélvio/Divulgação

O mineiro Pedro Muriel publicou seu primeiro poema no Facebook em 2014. No mesmo ano, ele criou a página Cadeira Atômica do Pedrão, na qual ainda segue postando alguns dos seus escritos. O retorno veio rápido, e logo seus poemas conquistaram muitos leitores, entre eles Suely Machado, diretora do Grupo Primeiro Ato, que inseriu uma das poesias num espetáculo de dança.

Foi a partir dessa experiência, realizada em 2018, que Muriel viu o potencial de um trabalho mais amplo com seus textos por meio de outras vozes. “Eu pensei em fazer um livro que as pessoas pudessem acessar no lugar que elas mais frequentam hoje em dia, que é o celular. Eu juntei alguns amigos e pessoas importantes na minha trajetória literária para contribuir com sua voz, seus sotaques e suas marcas na leitura desses poemas”, relata Muriel.

Dessa parceria, nasceu o “Poemacast”, livro com 60 textos declamados, em formato de podcast, que a partir deste sábado (15) vai estar disponível gratuitamente na plataforma Spotify. Além disso, o projeto inclui um espetáculo de mesmo nome que vai estrear no Teatro Sesiminas neste domingo (16). Ao lado de Pedro Muriel, vão estar no palco Lula Ribeiro, Daniela Zuppo, Joana Ribeiro, Clara Assumpção e Iara Machado.

“A ideia é levar o espetáculo para o Brasil todo, e o resultado está muito interessante, cheio de ritmos e sonoridades, vozes do Brasil e até de Cabo Verde, que compõem um conjunto bastante atraente”, diz Muriel. O percurso dele pode ser aproximado daquele de outros escritores que vêm conquistando espaço, a partir do uso das redes sociais para publicar poemas e pequenas narrativas, o que antes acontecia principalmente por meio de blogs.

É o caso, por exemplo, de Zack Magiezi, Clarice Sabino e Wally Wilde, que, inclusive, estão confirmados para participar da oitava edição do Festival Literário de Araxá, cuja abertura acontecerá no dia 19. Magiezi alimenta seu perfil no Instagram com poemas e já possui mais de 1 milhão de seguidores.

“Eu comecei a postar em blogs, depois fui para o Facebook, em 2013. No ano seguinte, criei um perfil no Instagram, em que continuo até hoje. Eu vi que era interessante escrever na máquina e fotografar os poemas, porque o Instagram é um lugar de registro de imagem, e eu tento criar um tipo de texto próprio para aquele espaço”, diz o poeta. 

Clarice, que é sobrinha-neta do escritor Fernando Sabino (1923-2004), também se vale dessa rede social. Um diferencial do seu trabalho é a combinação entre poesia e desenho. “Todas as postagens são uma forma de experimentação. Eu comecei com a fotografia acrescida de legendas, depois colocava o texto em cima da foto, até que um dia minha irmã viu uns rabiscos e perguntou por que eu não postava aquilo. Eu achava que as pessoas poderiam não gostar, mas, depois que incluí o desenho, a interação aumentou muito, e os poemas começaram a ser compartilhados em diversas páginas”, conta a escritora. 

Wally Wilde, por sua vez, encontrou na fotografia o principal meio para levar seus escritos ao Instagram. “Eu acabei desenvolvendo uma identidade em cima de uns cartõezinhos que escrevo à mão. No começo, eles eram mais escuros, e agora estou em uma fase nova, com fundo mais amarelado”, diz Wilde.

Para ele, o retorno imediato dos leitores serve como estímulo. “Mas também é um pouco assustador, porque você pode acabar entrando numa espécie de linha de produção. Na internet, tudo fica velho muito rápido, e o texto de ontem já morreu. Então você tem que produzir um texto novo, e chega uma hora que isso é um pouco demais. É o ônus da coisa”, pondera Wilde.

Clarice também compartilha visão semelhante. “No Instagram, há uma dinâmica em que você deve postar algo novo o tempo todo, e eu respeito muito meu tipo de escrita. Não acho que devemos ceder a esse tipo de pressão, até porque, às vezes, sinto vontade de compartilhar o que tenho no momento, mas também outros textos que já produzi há mais tempo”, completa a escritora. 

Aliada

Apesar desses problemas, a internet, para todos esses autores, é uma grande aliada. Pedro Muriel, por exemplo, recorda que foi por meio dela que ele se viu estimulado a reunir seus poemas e editar livros, o que não aconteceu de maneira imediata, porque ele foi fazer faculdade e, no ambiente acadêmico, também recebeu retorno positivo de seus escritos. Ele frisa que a poesia mudou sua vida.

“Eu encontrei nela uma maneira de ser livre, apesar da minha limitação física, que, às vezes, parece um cárcere, com a necessidade de usar aparelho respiratório e cadeira de rodas. A poesia fez com que eu pudesse experimentar e alcançar outras pessoas, como se ela me oferecesse assim um lugar muito bonito e único”, diz Muriel.

Programe-se

O espetáculo "Poemacast" será realizado neste domingo, às 11h, no Teatro Sesiminas (rua Padre Marinho, 60, Santa Efigênia). Ingressos: R$ 15

Ouça dois poemas de Pedro Muriel: