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Balada visual de  um homem que é muitos 

Todd Haynes leva ao cinema o imaginário e a trajetória do cantor folk por meio de seis personagens diferentes

Por daniel oliveira
Publicado em 16 de maio de 2014 | 03:00
 
 
Atores vivem facetas de fases, canções e personas públicas de Bob Dylan Europa

“Tudo que criava era mal interpretado. Ele aceitava o caos, mas o caos não o aceitava”. A frase de “Não Estou Lá”, exibido neste domingo às 18h na mostra “Cinema e Rock’n’roll” no Cine Humberto Mauro, é a melhor síntese de como o longa do diretor Todd Haynes consegue chegar no cerne da obra de Bob Dylan. Um músico que compreendeu e aceitou a complexidade e a ausência de sentido de um mundo em constante mutação. Mas que, ao fazer disso a matéria-prima de suas canções, não foi aceito pelo mundo.

Lançado no Festival de Veneza de 2007, onde ganhou os prêmios especial do júri e de melhor atriz para Cate Blanchett, o filme abandona a ideia da biografia convencional de encontrar um sentido para o sujeito na sua história de vida. Em vez disso, “Não Estou Lá” transforma as várias fases da carreira de Dylan, e suas várias facetas públicas, em seis personagens que encarnam o espírito camaleônico e caótico do cancioneiro folk.

Blanchett é o rockstar de língua afiada e lançador de tendências, objeto da fascinação da mídia e do público. Christian Bale é o cantor folk que se torna obcecado com uma nova religião que pode apresentar uma resposta às suas inquietações espirituais. Heath Ledger é o ator enfrentando o fim de um relacionamento. O pequeno Marcus Carl Franklin é um pobre garoto que vive de caronas e do violão que toca nas ruas. Ben Whishaw é o poeta sendo interrogado por suas convicções desconcertantes. E Richard Gere é o artista circense que vem alegrar o dia das bruxas de uma vila no interior.

Misturando causos de canções de Dylan com passagens de sua vida e outros momentos de pura ficção inspirada no espírito do músico, “Não Estou Lá” compõe um mosaico que faz juz à vasta e complexa obra do músico. Blanchett recebeu a maioria dos louros pela interpretação, mas a verdade é que todo o elenco – assim como ela – está excelente. Em meio à pobreza criativa da fórmula de cinebiografias, o longa de Haynes é um respiro bem-vindo de originalidade com uma trilha musical para ficar dias no som do carro ou no iPod.