Inhotim

Canções de Bituca moldadas por Zélia Duncan 

Em dois shows, amanhã e domingo, a artista carioca interpreta Milton Nascimento em arranjos de violoncelo

Por LUCAS SIMÕES
Publicado em 02 de outubro de 2015 | 03:00
 
 
Zélia, Milton e o empresário André Midani, que intermediou o projeto em que a carioca canta canções de Bituca CRISTINA GRANATO/DIVULGAÇÃO

Apesar de dizer diversas vezes que não pretendia “reinventar” as canções de Milton Nascimento gravadas por vozes do calibre de Elis Regina e Nana Caymmi, a palavra surpresa é indissociável do que Zélia Duncan faz no novo show preenchido só com músicas de Bituca, em apresentações amanhã e domingo, no Inhotim. É que, em vez de arranjos modernos, a cantora conta apenas com o solitário violoncelo de Jaques Morelenbaum para segurar alguns dos maiores clássicos da MPB em sua própria voz.

“Milton é um grande compositor. Diversas músicas dele marcaram minha vida e muitas delas estarão no show. Essa formação não é usual. Por isso, será surpreendente”, atesta Zélia, que deu o pontapé inicial na carreira ao apresentar em um festival da Funarte de Brasília, aos 16 anos, a canção “Fazenda”, lançada por Milton Nascimento no álbum “Geraes” (1976).

A proposta de cantar a obra de Bituca faz parte do projeto “Inusitado”, encabeçado pelo empresário André Midani. Ele propôs a artistas brasileiros performances pouco convencionais, como a atriz Fernanda Montenegro declamando letras da Velha Guarda da Mangueira e Elza Soares entoando sambas ao som dos beats de dois DJs.

No caso de Zélia Duncan, o empresário sugeriu que a cantora mergulhasse no universo de Milton Nascimento após vê-la participar do tributo a Tom Jobim, em 2013, no qual também estava presente o experiente violoncelista Jaques Morelenbaum. “Sempre fui a favor dos artistas terem carta branca para escolher o que quiserem. Sugeri o Milton para Zélia e ela só topou fazer pelo laço que tem no início da carreira com ele e por ser algo inédito para ela”, diz Midani.

O fato de a cantora ter apenas o violoncelo como suporte durante uma hora e 30 minutos de show revela o desafio a mais: lidar com um instrumento que não foi feito para oferecer apoio farto aos vocais – como um arranjo de banda ou até mesmo um simples violão poderiam fazer.

Apesar de ter participado de formatos similares ao lado de Caetano Veloso e Gal Costa, Jaques Morelenbaum diz que haverá uma diferença nos shows, principalmente nos do Inhotim, no Magic Square, porque é a céu aberto. “A intenção é de criar um novo ambiente formado principalmente por um público espontâneo”.

A própria Zelia Duncan nutre uma relação de empatia com o Inhotim, que ela conheceu por indicação da cantora Fernanda Takai, e prometeu retornar periodicamente. “Amo o Inhotim, me fiz a promessa de voltar sempre para acompanhar as galerias que vão mudando com o tempo”, disse No roteiro, a cantora segue um recorte específico da carreira de Milton Nascimento, entre os anos 1967 e 1981, considerada a fase mais frutífera do compositor mineiro – incluindo a produção dois discos “Clube da Esquina”, além dos marcantes “Travessia” (1976) e “Caçador de Mim” (1981). Nesse contexto, Zélia Duncan até se depara com um cancioneiro que pede corpo, batuque, agitação, como “Fé Cega, Faca Amolada” e “Caxangá”. O jeito para esquentar o repertório de Bituca diante das características solitárias do violoncelo foi contar com a percussão espontânea de palmas e coro do próprio público. “Até mesmo com o violoncelo eu arrisco alguns suingues, coisas mais ousadas. Mas para o show ganhar vida nesses momentos sem instrumentação pesada, só com a presença do público, que é o fundamental, que é para quem a Zélia está cantando”, diz Jaques Morelenbaum.. SHOW.
 

Serviço. Zélia Duncan e Jaques Morelenbaum apresentam canções de Milton Nascimento, no projeto “Inusitado”. Serão dois shows, amanhã e domingo, ambos a partir das 15h, no Palco Magic Square, no Inhotim (rua B, número 20, Brumadinho, centro). Os ingressos, que também garantem a entrada no parque, custam R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia-entrada).