Em cartaz

Sem a verdadeira liberdade poética

Escrito e dirigido por Terence Davies, “Além das Palavras” é carregado pela performance de Cynthia Nixon

Sex, 28/04/17 - 03h00
Boas atuações de Cynthia Nixon e Jennifer Ehle são os destaques do longa | Foto: Cineart / divulgação

Em “Além das Palavras”, em cartaz na capital, o diretor Terence Davies se digladia com duas das fórmulas mais engessadas do cinema atual: a cinebiografia e o longa de época. E o grande problema do filme é que, incapaz de se livrar das amarras desses subgêneros, ele acaba não fazendo jus à maior qualidade atribuída aos poemas de sua protagonista, Emily Dickinson: a liberdade e inventividade de forma e de linguagem.

O longa narra a história da poeta norte-americana desde o fim dos estudos, em um rígido internato de freiras, até a morte por nefrite, em 1886. Adulta, ela é interpretada pela ótima Cynthia Nixon (“Sex and the City”), de longe a melhor coisa do filme – trazendo à vida o senso de humor afiado de Dickinson, sua inteligência e feminismo à frente de seu tempo, constritos por uma sociedade conservadora, pelas próprias inseguranças e pelo espírito recluso da artista.

A atriz carrega bem o arco da protagonista, de uma mulher sagaz e bem-humorada na juventude ao amargor da doença e da solidão à medida que vai perdendo entes queridos e vive paixões não-correspondidas ao longo dos anos. Seu trabalho é ajudado por outra boa performance, de Jennifer Ehle como Lavinia, irmã de Emily e confrontadora das incoerências da protagonista.

Só que, com o texto verborragicamente literário e a encenação teatral de Davies – que funcionou tão bem em “Amor Profundo” –, “Além das Palavras” nunca parece convencer como filme. O cineasta filma com muitos enquadramentos fixos e um rigor formal que, se ressaltam a reclusão inerte da Emily mais velha, não traduzem cinematograficamente a fluidez e a liberdade da linguagem de seus poemas.

Com isso, o tom do filme soa pouco natural – e os diálogos, ainda que bem escritos, soam discursivos, tentando ilustrar com muito pouca sutileza aspectos da personalidade ou da literatura da protagonista. O resultado, com mais de 2h, é cansativo – e, mesmo para os fãs e interessados, fica aquém do que a poeta e a performance de Nixon mereciam. 

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