Comportamento

'Sonic: O Filme' bate recordes e faz sucesso entre adultos e crianças

Icônico personagem do videogame volta aos holofotes com adaptação cinematográfica, que lidera as bilheterias no país há três semanas

Por Bruno Mateus
Publicado em 08 de março de 2020 | 04:00
 
 
Fã do game, o ilustrador Rubem Cunha e Lima se surpreendeu com o filme Ramon Bitencourt/O Tempo

Embora viva o universo Sonic nos videogames de uma maneira intensa desde que se encantou com o personagem, quando ainda era criança, o ilustrador Rubem Cunha e Lima, 29, entrou em uma sala de cinema na noite da última terça-feira com receio. A expectativa não era das melhores - na verdade, ele esperava o pior. No entanto, os primeiros segundos de filme, com elementos que remetem ao jogo que foi febre nos anos 90, bastaram para levá-lo de volta à infância. “O filme trabalha para atingir sua nostalgia”, comenta. 

Dali em diante, Cunha e Lima lembrou-se dos tempos de videogame, quando, na casa de amigos, passava horas e horas tentando inutilmente controlar aquele ouriço azul maluco e inconsequente na tela da televisão. “Eu entrei no jogo”, diz. “A sensação que tive foi: ‘cresci, estou aqui agora e vivi para ver uma coisa que era muito importante quando eu era pequeno ter sucesso na tela do cinema’. Isso foi o que me deixou mais emocionado”, completa.

A experiência do ilustrador é a mesma de outros tantos espectadores que, diante da adaptação cinematográfica do icônico personagem nascido em 1991 na franquia de jogos produzido pela japonesa Sega, entraram em uma viagem ao passado permeada por memórias afetivas e recordações hoje familiares. 

“Sonic: O Filme” estreou nas salas do país em 13 de fevereiro e, pela terceira semana consecutiva, segue na liderança de bilheteria nacional, faturando mais de R$ 36,9 milhões desde então - R$ 12 milhões somente no primeiro fim de semana, quando levou 700 mil pessoas aos cinemas. Nos Estados Unidos, a película ultrapassou “Detetive Pikachu” como melhor fim de semana de estreia de um filme baseado em videogame, arrecadando cerca de R$ 244 milhões.

Os números dão a dimensão do sucesso do personagem, que, no longa, tenta se adaptar à vida na Terra ao lado do policial Tom (James Marsden). A dupla se une para impedir que o vilão Dr. Robotnik, interpretado por um inspirado Jim Carrey, capture Sonic e use seus poderes para dominar o mundo. 

O professor e crítico de cinema Carlos Quintão, 45, não é fã do personagem, mas assistiu ao longa para comentar em seu podcast semanal, o “Cabine Cine Rádio”. O longa também o surpreendeu. Na opinião de Quintão, o histórico das adaptações de games para o cinema é decepcionante. O longa do ouriço azul, no entanto, tem pontos positivos: “É um filme infantojuvenil competente, não me desagrada. Ele cumpre a função de apresentar o Sonic ao público que não o conhece. Não acho um grande filme, mas tem coisas interessantes”. 

“Quando vi o trailer no cinema, eu arrepiei e disse: ‘Preciso ver esse filme’”, conta o comediante Ricardo Bello. Ao se deparar com um personagem tão marcante da sua infância na telona, ele diz que foi “emoção atrás de emoção”. Para ele, a união entre tecnologia e memória afetiva é a receita do sucesso: “E ainda tem o Jim Carrey, meu ídolo no humor, que está sensacional no filme”.

Várias gerações

Quem for às salas de cinema perceberá, de cara, que, independentemente da faixa etária, o veloz ouriço cativa o público. Sejam os adultos que viveram a era de ouro do game e estão ali pela memória afetiva, sejam as crianças que ainda convivem com o personagem em jogos modernos para videogames e celulares ou em imagens que habitam o mundo infantil, como mochilas e outros utensílios escolares, o bonequinho azul de tênis vermelho nunca saiu de cena.

Nos anos 90, o engenheiro mecânico Arthur Novais, 33, ia a lan-houses e fliperamas jogar "Sonic". Ele gostava da complexidade e da velocidade do game: “O Sonic é muito veloz, difícil de controlar”. O engenheiro diz que sempre fez questão apresentar ao filho Gabriel, 8, coisas que fizeram parte de sua infância - e com Sonic não foi diferente.

“É um filme divertido. Foi uma oportunidade para aproveitar um pouco do que vivi e do que ele está vivendo agora”, comenta Novais. O que Gabriel mais gosta no Sonic “é a velocidade e o cabelo”. Antes de ver o ícone azul nas telas do cinema, ele admite ter ficado ansioso. “Assisti ao trailer umas 500 vezes”, brinca.

Ícone: Sonic faz parte da cultura pop

Em junho de 1991, Cleidson Lima tinha 18 anos e era apaixonado por videogame. Naquele ano, a produtora japonesa Sega lançou o “Sonic: The Hedgehog” (ou Sonic: O Ouriço). “Foi um impacto enorme, muito parecido com o que foi o surgimento do Mario Bros., alguns anos antes. As pessoas passaram a ter outra referência de mascote”, diz. Quase 30 anos depois, o jornalista, que é curador do Museu do Videogame Itinerante, faz uma comparação interessante entre os dois personagens. 

Sonic, que surgiu para competir com Mario, apresenta características completamente diferentes do tipo baixinho, bigodudo e barrigudinho do herói da Nintendo. “O Sonic é mais jovem, rápido e dinâmico, um espelho do adolescente visceral, inconsequente, que segue intuição e não calcula suas ações, enquanto o Mario é um senhor encanador que está em busca de sua princesa”, compara. “Sonic foi o jogo que alavancou as vendas do Master System no Brasil”, acrescenta, em referência ao console de videogame produzido pela Sega. 

De acordo com Lima, Sonic tem os requisitos necessários para ser classificado como um símbolo da cultura pop das últimas décadas, extrapolando, com o filme, o nicho do videogame. O longa, segundo o jornalista, mostra o apelo de Sonic junto a diferentes gerações: “Ele tem um grande potencial não só do ponto de vista do consumo capitalista, mas também do consumo cultural”. O sucesso de Sonic também vem na esteira de uma “onda retrô”, conforme Lima diz, que valoriza a memória afetiva e o resgate de itens do passado recente. “Vemos isso na moda, nos quadrinhos e também em filmes e no videogame”, reitera.

O professor de cinema Cláudio Quintão também reconhece a força midiática do personagem nos últimos 30 anos. “Nós conhecemos a figura do Sonic, o visual. Sei que ele corre muito, uma espécie de The Flash. (risos)”, comenta o acadêmico. Segundo ele, é inevitável que crianças, jovens e adultos tenham contato de alguma forma com o personagem: “Ele está presente em diversos meios”. 

Primeira versão do personagem não agradou

”Sonic: O Filme” deveria ter sido lançado em novembro do ano passado. No entanto, meses antes, quando um primeiro teaser foi divulgado, a produção foi alvo de uma enxurrada de críticas, grande parte delas em relação ao visual do personagem. Em maio, o diretor Jeff Fowler escreveu no Twitter: “Vamos levar um tempo para deixar o Sonic direito”.

O ilustrador Rubem Cunha e Lima comemora a mudança estética do Sonic e diz que se as alterações não tivessem sido feitas, o resultado seria outro. “Fizeram um excelente trabalho. O filme é centrado no Sonic, claro, e ele tem que expressar emoção. Se fosse o design antigo, as pessoas não sentiriam empatia e não o levariam a sério”, avalia.

O jornalista Cleidson Lima tem opinião semelhantes. “Ninguém tinha gostado, os olhos eram diferentes, ficou mais parecido com um ouriço do que com um personagem. Com a remodelagem e a sugestão dos fãs ficou perfeito”, diz o curador do Museu do Videogame Itinerante. (BM) 

Sonic Run: BH recebe corrida temática

O sucesso do filme inspirou a Sonic Run, corrida temática que chega a Belo Horizonte em 15 de março, no Minas Shopping. São duas opções de percurso – 2 km e 5 km para crianças e adultos em três categorias. No roteiro, personagens do universo Sonic e obstáculos do jogo farão parte das intervenções. As inscrições podem ser feitas até o dia 11 pelo site sonic5k.com.br

O farmacêutico Paulo Henrique Cândido Vieira, 27, soube do evento pelas redes sociais. Embora tenha diminuído a frequência, ele diz que continua jogando “Sonic” no videogame e claro, já foi ao cinema conferir o filme. “O Sonic é um personagem atemporal, não fica velho. Ele é um ícone dos jogos e consegue atingir várias gerações”, afirma. “Participar da corrida é como se sentir um Sonic”, brinca, em referência à velocidade, principal característica do personagem. (BM)