ÀS MARGENS DA SECA

Fazendeiros “doam” água 

Copasa inicia campanha em municípios com situação mais grave

PUBLICADO EM 19/09/14 - 03h00

A cidade de Viçosa, na Zona da Mata, encontrou uma maneira inusitada de evitar o racionamento. Sem chuvas e com o ribeirão Bartolomeu, que abastece a cidade, em seu pior nível de todos os tempos, a solução foi recorrer a represas particulares, localizadas em sítios e fazendas, para garantir o abastecimento da população.


“Há dez dias, conseguimos a abertura de uma represa. Isso segurou por esse período. Agora, o nível baixou muito de novo. Amanhã (hoje), vou procurar outra represa”, diz o diretor técnico do Serviço Autônomo de Água e Esgoto da cidade (SAAE), Edson Bering. De acordo com ele, existe previsão de chuva na cidade para a próxima segunda-feira. “Vamos torcer para chover. A situação está crítica”, afirma.

A Estação de Tratamento de Água (ETA), que abastece a cidade, está com menos de 40% de sua vazão habitual. A situação da cidade só não é pior porque, de acordo com Bering, a população atendeu à campanha para economizar água. Além da campanha, a prefeitura adotou uma postura mais rígida para coibir o desperdício: quem for flagrado lavando calçadas ou carros com mangueira ou desperdiçando água de alguma maneira, paga multa de R$ 70 e fica com o fornecimento de água cortado por 24 horas.

Campanha. A campanha de economia de água que o SAAE de Viçosa já faz, a Copasa está impedida de realizar nas 600 cidades que atende em razão das limitações impostas pelo período eleitoral. Mas a empresa conseguiu a aprovação do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) para iniciar a campanha em 12 cidades onde a situação é mais crítica.

São elas: Entre Rios de Minas (região Central), Arcos e Santo Antônio do Monte (Centro-Oeste), São Gonçalo do Sapucaí e Lavras (Sul), Rio Paranaíba e Campos Altos (Alto Paranaíba), Prata (Triângulo), Pará de Minas, Igarapé, Barbacena (Central), e Espera Feliz (Zona da Mata). Nesses locais, de acordo com a empresa, “a situação tende a tornar-se mais grave em função da queda mais acelerada da vazão dos mananciais”. Nas outras cidades, a campanha será retomada depois das eleições.

A Copasa não informou como serão as campanhas. Em alguns desses municípios, a empresa já perfurou poços profundos para encontrar água e garantir o abastecimento. Mesmo com a medida, algumas cidades dizem que estão sob “racionamento velado”.

Em Rio Paranaíba, a prefeitura diz que em julho e agosto houve uma “setorização” na distribuição da água. O problema foi amenizado com um acordo que permitiu o uso de água de uma represa pertencente à Universidade Federal de Viçosa (UFV), que tem um campus na cidade. A água dessa represa deve ser suficiente para abastecer a população por 90 dias.

Em algumas cidades mineiras, o racionamento já foi decretado oficialmente. Em Itabira, na região Central, a população fica sem água por sete horas diárias, por um período indeterminado. Em Uberlândia, no Triângulo, o fornecimento de água é cortado diariamente desde o início deste mês.

Seca.
Vazão
. De acordo com a Copasa, a seca atual é a pior dos últimos cem anos no Estado. Segundo a empresa, a vazão dos rios caiu, em média, 40%, mas há casos em que a situação é bem mais crítica. 

Energia e água: lista de preocupação

Pela primeira vez, o acesso à água e a energia entrou no top 10 das preocupações das maiores mineradoras do mundo. Estudo da EY (nova marca da Ernst & Young) mostra que, em 2013, as mineradoras gastaram US$ 11,9 bilhões em infraestrutura para água no mundo todo – aumento de 250% em relação a 2009. No mesmo período, os preços globais de energia saltaram 260%.
No ano passado, o acesso aos dois recursos estava em 12º lugar no ranking. Aumento de produtividade e alocação e acesso a capital estão no topo da lista.