Governo Federal

Composição de ministérios é desafio da nova administração

Alto escalão de Jair Bolsonaro chegou a ser ventilado, mas sem confirmações

Paulo Guedes reforçou a importância de implementar as reformas estruturais rapidamente | Foto: Daniel Ramalho/AFP
PUBLICADO EM 29/10/18 - 03h00

Com a vitória nas urnas decretada nesse domingo (28), os próximos meses antes da posse de Jair Bolsonaro (PSL) como presidente da República serão dedicados à formação de seu ministério e base no Congresso. Durante a campanha, alguns nomes foram ventilados como possíveis chefes de pastas, apesar de apenas dois terem sido confirmados oficialmente pelo agora presidente eleito.

Próximo ideologicamente de Bolsonaro e companheiro de plenário há anos, o deputado federal Onyx Lorenzoni (DEM-RS) será o ministro da Casa Civil, responsável pelo diálogo entre o Executivo e o Congresso e por outras articulações. O economista Paulo Guedes, que formulou o plano econômico da campanha, também será confirmado como ministro da pasta de Economia – que deve juntar Fazenda, Planejamento e Comércio e Indústria.

Segundo o deputado estadual Léo Portela (PR), que visitou Bolsonaro na terça-feira passada, no Rio de Janeiro, Lorenzoni deve ser o único parlamentar com mandato a ocupar um cargo no ministério.

“Não haverá nenhum político com mandato compondo ministério, só o Onyx, que vai fazer a articulação. Nesse caso, é um cargo que é melhor que seja parlamentar, já que se trata de relações com o Congresso. De resto, sem indicações partidárias no primeiro escalão nem negociações”, afirmou Portela. Ele e o pai, o deputado federal Lincoln Portela (PR-MG), foram os primeiros mineiros com mandato a se posicionarem favoravelmente à candidatura de Bolsonaro, no início de 2017.

Na avaliação do presidente do PSDB mineiro, deputado Domingos Sávio, a escolha de Lorenzoni foi positiva. “É um deputado experiente e que já mostra que não há indicação política ou partidária nos ministérios”, disse.

Minas. Depois de os mineiros terem ficado de fora do ministério de Michel Temer (MDB) – algo inédito na história republicana do Brasil – a expectativa é que haja representantes do Estado entre os escolhidos de Bolsonaro.

Na articulação com o Congresso, também é possível que a bancada mineira tenha destaque. Presidente do PSL em Minas, o deputado federal Marcelo Álvaro Antônio, o mais votado no Estado e coordenador da campanha de Bolsonaro na região, é cotado como líder de governo na Câmara. O parlamentar tem tido canal aberto com o presidente eleito há meses.

Composição. O plano de governo de Jair Bolsonaro propunha a redução de ministérios para 15, contra os 21 existentes na administração Temer. Destes, além de Lorenzoni, outros sete já têm nomes especulados como ministros.

Amigo pessoal de Bolsonaro e cogitado para ser o candidato a vice-presidente – a negociação não avançou por questões partidárias –, o general da reserva Augusto Heleno (PRTB) é o mais cotado para assumir o Ministério da Defesa.

Outros generais da reserva que podem ocupar postos no ministério são Oswaldo Ferreira, com a pasta de Transportes ou Infraestrutura, e Aléssio Ribeiro Souto, cotado para a Educação. O ex-professor da FGV Stavros Xanthopoylos também é cotado para assumir o Ministério da Educação – que deve absorver a parta da Cultura.

O presidente do PSL Nacional, o advogado Gustavo Bebianno, foi apontado internamente na campanha como possível ministro da Justiça. Outro amigo pessoal de Bolsonaro pode assumir em uma importante pasta. Henrique Prates, presidente do Hospital do Câncer de Barretos, foi ventilado para a Saúde. O astronauta e tenente-coronel Marcos Pontes, chegou a ser citado oficialmente por Bolsonaro para o Ministério da Ciência e Tecnologia.

Para a Agricultura, o presidente da União Democrática Ruralista (UDR), Luiz Antonio Nabhan Garcia, deve ser confirmado. Candidato derrotado ao governo do DF, Alberto Fraga (DEM) também é cotado para a pasta de Relações Institucionais.

Deputados mineiros já avaliam adesão

Se depender da bancada mineira na Câmara Federal, o governo Jair Bolsonaro (PSL) deve ter uma base considerável. Na avaliação do atual coordenador do grupo de Minas no Congresso, deputado Fábio Ramalho (MDB), é provável que a bancada se forme conjuntamente com a nova administração.

“Isso deve acontecer naturalmente, mas será uma coisa equilibrada. Eu estarei pronto para ajudar. O Brasil e Minas precisam sair da situação de crise e voltar a crescer logo”, destacou o emedebista.

Nacionalmente, a expectativa é que o MDB também embarque no governo Bolsonaro. O PSDB, ainda dividido, estuda a adesão. No que depender do presidente do PSDB mineiro, deputado Domingos Sávio, pode ser que a sigla também acompanhe a nova gestão.

“Ele vai precisar de um Congresso que queira ajudar nas reformas pela moralidade e na mudança política. Gente que quer agregar, e não querer cargos e privilégios. Eu estarei lá, sou da base deste projeto, mas também quero manter a posição de independente”, disse o tucano, que apoiou Bolsonaro um dia após o primeiro turno. Mesmo com o endosso, Domingo Sávio falou ao então candidato que discordava de algumas propostas, como a fusão dos ministérios da Agricultura e do Meio Ambiente – já refutada pela equipe bolsonarista.

Pegou mal. Internamente, membros da cúpula do PSL avaliam que a indicação de Lorenzoni, que foi citado na Lava Jato, para um ministério pode prejudicar a imagem de Bolsonaro.

Expectativa no Congresso é de base sólida

No Congresso, a previsão do PSL é que o presidente eleito, Jair Bolsonaro, monte uma base parlamentar sólida. Antes mesmo do primeiro turno, no início de outubro, a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) se reuniu com o então candidato e anunciou seu apoio oficial.

A frente reúne 261 de 594 membros do Congresso, tanto na Câmara Federal quanto no Senado. Antes, a maioria de seus membros era historicamente ligadas ao PSDB e fortemente integrada por articuladores do chamado centrão, mas o grupo foi se aproximando de Bolsonaro à medida que o então candidato tucano ao Planalto, o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin, estagnava nas pesquisas.