Na disputa presidencial

Depois de dominar o segundo turno em 2014, Minas fica de fora de todas as chapas

Josué Gomes (PR), Marcio Lacerda (PSB), Castellar Guimarães Filho (PHS) e Marcelo Álvaro Antônio (PSL) foram cogitados, mas alianças não se concretizaram

PUBLICADO EM 07/08/18 - 14h02

As articulações políticas dos últimos dias culminaram em uma mudança considerável do rumo do Estado na corrida pelo Palácio do Planalto. Se dez dias atrás pelo menos quatro nomes de mineiros eram cotados para a composição de chapas presidenciais, no atual cenário não há nenhum representante de Minas Gerais na disputa presidencial. O contexto atual apresenta uma realidade eleitoral completamente oposta a da observada em 2014, na qual os belo-horizontinos Aécio Neves e Dilma Rousseff dominaram o segundo turno das eleições.

Esta é a terceira vez desde a redemocratização do país que um mineiro não é chamado para compor uma chapa presidencial. Nas outras duas, em 1994 e 1998, assumiram o carioca Fernando Henrique e o pernambucano Marco Marciel. Vale lembrar que Minas se mantém como o segundo maior colégio eleitoral, segundo os últimos dados divulgados pela Justiça Nacional.

Segundo o cientista político da Ufop Adriano Cerqueira, o fato de não ter nenhum candidato mineiro compondo chapa para a Presidência é um reflexo da falta de importância dos políticos daqui no cenário nacional. “Basicamente é isto: não apareceu nenhuma liderança suficiente para encabeçar uma chapa presidencial nem para assumir o posto como vice-presidente”, argumenta Cerqueira.

Cientista político formado pela PUC, Malco Camargo, por sua vez, argumenta que, o fato de não haver nenhum representante mineiro na disputa pelo Palácio do Planalto não interfere em nada no contexto eleitoral. “O Estado, no momento, está sem uma liderança nacional. Por isso, essa liderança não consegue um parecer majoritário no Brasil”, aponta Camargo.

Para Cerqueira, o eleitorado mineiro deverá ser convencido a votar nos nomes de outros Estados por outras razões que não o regionalismo. “A importância de Minas enquanto colégio eleitoral dentro da disputa presidencial permanece bem como o fato de ser um estado síntese do eleitorado brasileiro. Os mineiros devem ser convencidos a votar nas chapas, provavelmente, pelos temas, como o da segurança, do feminino, do conservadorismo e do progressismo”, pontua.

Negociações frustradas. Dentre os mineiros mais cotados para compor a presidência estavam os do ex-prefeito Marcio Lacerda (PSB) e do empresário Josué Gomes (PR). Além desses, também foram ventilados os nomes do advogado Castellar Guimarães Filho (PHS) e do o deputado federal Marcelo Álvaro Antônio (PSL).

Lacerda foi chamado para se unir à chapa do candidato Ciro Gomes, do PDT. O ex-prefeito chegou a manifestar seu interesse de acompanhar Ciro na corrida presidencial, uma vez que eles são amigos e chegaram a trabalhar juntos na época em que o presidenciável comandou o Ministério da Integração Nacional. Entretanto, o socialista declinou do convite e apresentou sua decisão final de que concorreria à cadeira do Palácio do Planalto - sua candidatura, porém, ainda é incerta.

Filiado ao PR e filho do ex-vice-presidente do Brasil José Alencar, o empresário Josué Gomes foi cogitado por mais de um candidato. O primeiro a flertar com ele foi Michel Temer (MDB), ainda em 2017, quando o presidente pensava em se candidatar. Depois, foi a vez de o ex-presidente Lula (PT) convidá-lo para compor a chapa, mas a prisão do petista frustrou as investidas. Em abril, Ciro Gomes (PDT) convidou-o para se unir a ele, e dois meses depois, foi a vez de Geraldo Alckmin (PSDB), apoiado pelo centrão, chamá-lo para compor chapa. Josué, entretanto, recusou todos os convites e decidiu não seguir ninguém sob a justificativa de não querer se envolver com a política.

De acordo com Cerqueira, a indefinição dos objetivos de Gomes e Lacerda pesaram nessa indefinição. “Alguns nomes que foram cotados para vice ou era de gente que não estava muito convencida em sair candidato, como Josué Alencar, ou eram pessoas que ainda estavam se definindo se investiriam em uma disputa para o governo do Estado, como é o caso do Marcio Lacerda”, afirma.

O nome do deputado federal por Minas Gerais Marcelo Álvaro Antônio, do PSL, foi cogitado pelo presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) para compor a candidatura, mas o deputado acabou optando pelo nome de reserva Hamilton Mourão (PRTB), natural de Porto Alegre (RS). Já o advogado Castellar Guimarães Filho (PHS) foi preterido por Marina Silva (Rede), que chamou o médico baiano Eduardo Jorge (PV) para se juntar a ela.

Moeda de troca. Além de não ter nenhum representante disputando a eleição presidencial, Minas Gerais acabou virando moeda de troca em acordos partidários nacionais. Graças a aliança entre PT e PSB, Marcio Lacerda (PSB) foi obrigado a deixar a corrida pelo Palácio da Liberdade, em Minas Gerais, em troca da desistência de Marília Arraes (PT) ao governo de Pernambuco. O ex-prefeito, entretanto, resiste a esse acordo e já afirmou que sua candidatura está mantida.

O mesmo, porém, não ocorreu com Rodrigo Pacheco (DEM). Depois de acordo firmado, na tarde desta segunda-feira (7), entre tucanos e democratas, o deputado federal foi convencido a deixar a candidatura para dar vantagem a Antonio Anastasia (PSDB). Pacheco, então, ficou com a vaga ao Senado na chapa do PSDB.

“A desistência forçada, apesar de o Marcio Lacerda não ter entregado os pontos, mostra o desespero com que os partidos brasileiros estão vivendo nos últimos tempos. As definições das chapas presidenciais foram feitas de atropelo, de última hora, com muitas incógnitas, não teve estratégica, foi uma coisa reativa e mal formulada”, opina Cerqueira.