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Como votou a sua vizinhança na eleição para prefeito de Belo Horizonte

Kalil vence em todos os 329 pontos de votação, mas tem desempenho pior em áreas mais ricas; adversários ultrapassam os 20% em alguns quarteirões

Por Cristiano Martins
Publicado em 19 de novembro de 2020 | 03:00
 
 
Mapa interativo mostra resultados detalhados dos votos do prefeito reeleito e seus principais adversários Foto: Reprodução / O TEMPO

 

Bairro Belvedere, entre as avenidas José Maria Alckmin e Professor Cristovam dos Santos. Foi naquele pequeno pedaço da região Centro-Sul de Belo Horizonte, em alguns dos quarteirões mais ricos da cidade, que Alexandre Kalil (PSD) amargou o pior resultado na disputa pelo segundo mandato. Ainda assim, os “apenas” 24% obtidos nas urnas daquela área no último domingo (15) foram suficientes para garantir a vitória do prefeito em todos os 329 locais de votação da capital, segundo análise realizada por O TEMPO em parceria com o site Pindograma.

Rodrigo Paiva (Novo) e Bruno Engler (PRTB) até chegaram perto, com respectivamente 23% e 18% das preferências na vizinhança, mas viram o rival conquistar a maioria dos eleitores em um dos principais redutos de seus partidos. Enquanto isso, a diferença foi avassaladora a pouco mais de um quilômetro dali, dentro do aglomerado Santa Lúcia. Do lado menos privilegiado da avenida Senhora do Carmo, a vantagem de Kalil nos arredores das vilas Barragem, Estrela e Santa Rita de Cássia chegou a 69 pontos percentuais em relação ao segundo mais votado: 74%, contra 5% de João Vítor Xavier (Cidadania). O alto percentual chama ainda mais atenção por incluir os votos brancos e nulos, e não somente os válidos.

 

VEJA O MAPA INTERATIVO E LEIA A ANÁLISE COMPLETA ABAIXO

 

Vitória esmagadora e desafio na região Centro-Sul

Além do triunfo em todas as áreas da cidade, o levantamento baseado nos boletins de urna do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) revela que o candidato à reeleição só não venceria o pleito no primeiro turno se dependesse dos resultados de apenas 63 dos 329 locais. O desempenho de Kalil ultrapassou a metade dos votos válidos em quatro a cada cinco pontos de votação na capital (81%).

Os dados indicam uma menor preferência pelo atual prefeito em praticamente toda a região Centro-Sul, à exceção dos aglomerados, do bairro Mangabeiras e de parte do Centro. Curiosamente, Kalil obteve “só” 35% dos votos nos quarteirões em volta do edifício onde ele mora, no bairro de Lourdes. Além disso, a votação no candidato do PSD foi mais baixa nos arredores do Buritis e da Pampulha, outras zonas majoritariamente ricas de Belo Horizonte.

Por outro lado, o prefeito foi reeleito com resultados arrasadores em áreas periféricas, com o desempenho ultrapassando os 70% dos votos válidos em ao todo 136 locais de votação, isto é, mais de um terço. Destaque para a alta aprovação nos aglomerados da região Centro-Sul, nas imediações dos bairros Taquaril e Alto Vera Cruz e em áreas da zona Norte da capital, além das vitórias absolutas em todas a regional Barreiro.

 

Bruno e Áurea se concentram em áreas nobres

As vitórias mais apertadas de Alexandre Kalil em locais de votação das regiões Centro-Sul, Pampulha e Oeste podem ser em boa parte explicadas pela polarização dos eleitores desses bairros entre o conservador Bruno Engler (PRTB) e a progressista Áurea Carolina (PSOL).

O mapa dos dois adversários antagônicos é bastante similar, com os resultados mais positivos concentrados nessas áreas da capital. Segundo colocado no pleito, o bolsonarista chegou à casa dos 20% dos votos totais em uma parte do Belvedere e no bairro São Luiz, à beira da lagoa. Já a quarta candidata mais votada desta edição obteve os desempenhos mais destacados nos bairros Planalto, entre as avenidas Vilarinho e Dom Pedro I (24%), e Lourdes (19%).

Terceiro candidato mais bem avaliado pela população, João Vítor Xavier (Cidadania) registrou uma votação homogênea e espalhada pelo município, com intensidade mais elevada nas regionais Venda Nova, Barreiro, Nordeste e Noroeste. As maiores preferências pelo radialista foram contabilizadas em parte do Bairro das Indústrias (13%) e no Conjunto Jatobá (12%), vizinhos às cidades de Contagem e Ibirité, respectivamente.

 

Metodologia

A análise foi realizada por O TEMPO com base em uma metodologia criada pelo site Pindograma. A partir dos boletins de urna divulgados pelo TSE, os votos de cada seção são agregados por local de votação, instalados quase sempre em escolas e universidades. Em seguida, são calculadas as áreas em torno de cada um deles, agrupando os setores censitários mais próximos segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A geolocalização dos pontos de votação é feita por meio do cruzamento entre dados do TSE, do IBGE e do Ministério da Educação.

 

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