Pint of Science

Aceitação do público prova que ciência pode ser assunto de bar 

Temas com viés científico foram ‘traduzidos’ de forma descontraída

Sáb, 28/05/16 - 03h00

Imagine uma sala de aula diferente: em vez das tradicionais carteiras, mesas de bar. No lugar do giz e do quadro negro, copos de cerveja. Em vez de silêncio, um bate-papo descontraído sobre temas como zika vírus, alimentos transgênicos, doenças mentais e física quântica, entre outros. Essa é a proposta do Pint of Science, festival internacional de divulgação científica que acontece anualmente em 12 países e em sete cidades brasileiras – Belo Horizonte, Campinas, Dourados, Ribeirão Preto, Rio de Janeiro, São Carlos e São Paulo –, simultaneamente.

Pela primeira vez em Belo Horizonte, o evento foi realizado nas noites de segunda a quarta-feira desta semana em três estabelecimentos da capital: no Itatiaia Rádio Bar, na Cantina do Lucas e no café do museu MM Gerdau. Durante os três dias, cada local recebeu dois pesquisadores mineiros com o intuito de aproximar a população dos trabalhos feitos nas universidades.

O Pint of Science surgiu em 2013 na Inglaterra e neste ano foi trazido para a cidade por meio da Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia e Ensino Superior (Sectes), em parceria com a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig). O alto fluxo de participantes sinaliza que o objetivo foi cumprido: mostrar que as pesquisas estão mais próximas das pessoas comuns do que parece.

De acordo com o professor Evaldo Vilela, presidente da Fapemig, esse tipo de evento é necessário para a cidade, pois sempre há um público interessado por ciência. “As pessoas gostam de cientistas, mas não sabem que na sua própria cidade há pessoas produzindo ciência. Geralmente, tem-se a ideia de que o pesquisador é aquele cara de cabelo bagunçado que fica o dia inteiro trancado em um laboratório, e a ideia aqui é aproximar os pesquisadores e seus trabalhos da população”, conta.

Para a coordenadora do programa de popularização da ciência e da tecnologia da Sectes, Marina Andrade Alves, o grande diferencial do evento é a forma lúdica com que a ciência é tratada. Segundo ela, os três dias de evento superaram as expectativas.

“Para a escolha dos bares de BH, foram levados em conta a localização e o público de cada um. Já os temas foram escolhidos a partir de um painel disponibilizado pelo evento na Inglaterra. Tentamos escolher temas diversificados e trazer pesquisadores de todas as regiões de Minas Gerais. Durante os dias de evento, foi maravilhoso ver o público e os pesquisadores tão interessados em compartilhar o conhecimento. Tivemos um saldo positivo”, avalia Marina.

Saldo positivo. Os nove temas expostos nos três dias – de modelos de ensino nas escolas à nanotecnologia – foram bem variados (veja mais no infográfico ao lado). A maneira como foram apresentados também. Às vezes por meio de slides e projeções, às vezes por intermédio de brincadeiras, bate-papo e piadas. Entretanto, independentemente do tema e da apresentação, os olhares atentos do público chamaram atenção dos palestrantes.

Foi o caso do professor da Universidade Federal de Lavras (Ufla) José Alberto Nogales. Ao final de sua palestra sobre a história do universo e a teoria da relatividade, ele disse que não esperava tanto interesse do público em relação a um tema pouco discutido em mesas de bares.

“Foi surpreendente a curiosidade das pessoas que estiveram presentes. O que vi foi um público variado, formado por jovens e adultos. Geralmente, essas pessoas têm acesso às notícias que chegam pela internet, e essas informações, por serem muitas, são também bastante poluídas. Quando há a oportunidade de elas escutarem alguém que é referência e trabalha com isso, gera um interesse ainda maior”, avalia.

O formato do evento também chamou atenção. A possibilidade de sair das salas de aula e poder sentar em uma mesa de bar enquanto escutam sobre temas que eles só têm acesso dentro das instituições de ensino potencializou o viés positivo do evento.

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