Saúde

Adeptos do peixe cru devem ficar atentos ao risco de contaminação 

Congelar pescados elimina o risco de verminoses, mas não de bactérias

Seg, 19/09/16 - 03h00

No último mês, a edição mais recente do periódico científico “New England Journal of Medicine” trouxe um caso com potencial para deixar muitos amantes de sushis e sashimis de cabelos em pé. Segundo relato na publicação, uma japonesa de 36 anos precisou ser submetida a uma cirurgia para a retirada de vermes de seu esôfago e intestino. Os parasitas em questão, da espécie Diphyllobothrium latum, foram adquiridos de um peixe cru ingerido pela paciente, que começou a sentir fortes dores abdominais.

Esses vermes são contraídos pelos peixes quando esses se alimentam de um crustáceo contaminado. Eles se alojam na carne do peixe e, quando o ser humano come um animal contaminado, pega a doença, chamada difilobotríase.

“O verme adulto fica no tubo digestivo, podendo causar sintomas como diarreia, dores abdominais, sensação de excesso de gases, um pouco de fraqueza e até anemia causada por deficiência de vitamina B12, porque o verme se alimenta disso”, comenta Estêvão Urbano Silva, presidente da Sociedade Mineira de Infectologia.

O tratamento da doença, segundo o médico, é realizado por meio de medicações para vermes, que são ministradas por via oral. Depois, o paciente deve fazer exames de fezes periódicos para confirmar que a pessoa ficou realmente curada.

No Brasil, por outro lado, a chance de uma infecção por difilobotríase é baixa. “Aqui, temos um procedimento padrão que é fazer passar os filés de peixe por uma mesa com luz embaixo. Se ele estiver infectado, o verme irá aparecer no contra-luz”, explica Lílian Viana Teixeira, professora de inspeção e tecnologia de pescados na Faculdade de Veterinária UFMG.

Além disso, a maioria dos salmões que chegam ao Brasil são congelados, outra medida de prevenção. “O congelamento, no freezer comum, por 24 horas, faz com que o verme não tenha mais a capacidade de infectar. Isso é eficaz contra 99,99% dos vermes”, diz.

Mas ela faz um alerta: quando o assunto é peixe, outros perigos são muito mais reais. “Se o manipulador que está mexendo com o peixe não cuida da higiene do local, das mãos, se o gelo de conservação não for filtrado, a chance de contaminação por uma bactéria é muito maior”, alerta. Entre as mais comuns, estão a salmonela, o estafilococo e os coliformes fecais. (Com Litza Mattos)

Observação

Cheiro. A carne do peixe denuncia sua qualidade facilmente pela aparência e pelo cheiro. Observar as características do produto e as condições dos locais de compra e consumo reduz os riscos.

Flash

No Brasil. No único levantamento nacional sobre o assunto, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária identificou 27 casos da doença no Estado de São Paulo de março de 2004 a março de 2005. Mas a veterinária Lílian Viana Teixeira garante: não haver motivos para alarde.

Minientrevista

Estevão Urbano Silva, presidente da Sociedade Mineira de Infectologia

Como prevenir a difilobotríase?

Existe a estratégia do congelamento dos peixes numa temperatura de -18°C durante pelo menos 24 horas, suficiente para matar as larvas. E a gente tem que confiar na qualidade do estabelecimento (de comida japonesa). Cabe também aos órgãos de vigilância sanitária fazer avaliações sobre os procedimentos feitos nesses locais. Em casa, a dica é fazer o cozimento dos peixes ou manter o congelamento por pelo menos 24 horas.

Em São Paulo teve um surto em 2004. É de se alarmar?

São casos não muito comuns, não devemos causar alarde. É muito válida essa preocupação, mas não se pode causar a impressão de que todo mundo que come terá (a doença).

Familiares da pessoa infectada têm que adotar cuidados?

O parasita é resistente, tem que se estimular o saneamento básico – isso serve para qualquer parasita. A pessoa deve usar o vaso sanitário e sempre higienizar as mãos.

Mais alguma observação?

É importante que as pessoas tenham cuidado com peixes e que a população e os governos invistam em outras formas de prevenção de parasitas, usem o sistema de higienização com (rede de) esgotos, senão os ovos que forem eliminados podem contaminar a água e, então, os ciclos persistem. (LM)