Acessibilidade

Aluna com paralisia inspira app que facilita comunicação

Monitorados por professora, ex-estudantes da Fatec Tatuí (SP) desenvolveram o projeto

Sex, 30/06/17 - 03h00

Um aplicativo promete facilitar a vida de mais de 470 mil pessoas – segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – que têm algum tipo de deficiência motora, como a paralisia cerebral, e têm dificuldade para se comunicar. Chamado inicialmente de App Marina, o software apresenta frases prontas e baseadas em atividades do dia a dia – “estou com sede”, “quero estudar” e “eu te amo”. Assim que são clicadas, elas emitem som, possibilitando a comunicação.

O projeto foi idealizado por ex-estudantes do curso de gestão da tecnologia da informação da Faculdade de Tecnologia do Estado (Fatec) Tatuí, no interior de São Paulo. Tiago Antônio da Cruz, José Felipe Brito Vieira e Tiago Aparecido de Souza instalaram o aplicativo no tablet que ajuda a jovem Marina de Oliveira, 22. Ela tem paralisia cerebral, é cadeirante e tem a capacidade de fala comprometida.

Vieira explica que o projeto ficou pronto em apenas dois meses. “Quando descobrimos que ela tinha um tablet, pensamos: podemos transformá-lo na voz dela. Conseguimos tornar isso real entre setembro e novembro de 2015”, afirma. Pensado a princípio para o sistema Android, o aplicativo deve estar disponível em breve para outras plataformas digitais.

Origem. A iniciativa partiu da professora orientadora Patrícia Moreno, que percebeu a dificuldade que a aluna de gestão empresarial tem para se comunicar. Antes do aplicativo, Marina apontava palavras escritas em uma pasta com várias páginas e demorava para poder formar uma frase. A partir daí, Patrícia procurou os estudantes.

Depois de colocar a ideia em ação, agora os desenvolvedores já trabalham para criar uma startup na área de tecnologia assistiva para aprimorar o projeto. A nova versão do app chama-se Your Voice. As melhorias vão incluir a instalação de GPS e a possibilidade de edição de frases. Além disso, pessoas com autismo e idosos também podem ser beneficiados.

Mas, para o sucesso da iniciativa, os tecnólogos da informação estão buscando investidores. No Facebook, a página do projeto pode ser acessada em www.facebook.com/appyourvoice.

Até então, o resultado foi tão positivo que o aplicativo ganhou o primeiro lugar na categoria informática e ciências da computação durante a décima edição da Feira Tecnológica do Centro Paula de Souza (Feteps), em 2016.

Porém, o maior prêmio é a autonomia de Marina. “Hoje eu me comunico com as pessoas e exponho minhas ideias. Pretendo começar a trabalhar com marketing e continuar os estudos”, diz a jovem, que está escrevendo um livro autobiográfico.

Condição tem origem no nascimento

O neurologista André Carvalho, professor de neurologia da Faculdade Ipemed, explica que a paralisia cerebral tem origem em “alguma coisa que deu errado durante o nascimento do bebê”. As principais causas, segundo ele, são a falta de oxigênio ou quando o cordão umbilical provoca asfixia. Nesse caso, há o comprometimento motor da criança (incapacidade de se locomover e de realizar a maioria dos movimentos físicos) e, algumas vezes, cognitivo (como a fala e a escrita).

Para ele, iniciativas como o App Marina podem facilitar a vida. “A pessoa pode expor aquilo que pensa e sente a todos com quem convive. Além disso, o aplicativo vai favorecer a interação entre o médico e paciente, oferecendo um diálogo importante para acompanhamento na hora do tratamento”, garante.

Brasil. De acordo com a Associação Brasileira de Paralisia Cerebral, sete entre cada mil bebês nascidos podem ter paralisia. Por ano, são até 40 mil novos casos em todo o país.


Pernambuco

Pai tem iniciativa semelhante

Na cidade de Recife, em Pernambuco, a dificuldade de comunicação entre pai e filha levou à criação de um aplicativo com a mesma funcionalidade do App Marina. Chamado de Livox – Liberdade em Voz Alta, ele foi idealizado pelo analista de sistemas Carlos Pereira, pai de Clara Pereira, 9, que tem paralisia cerebral.

O software, lançado em 2011, conta com frases, imagens e sons por associação, que traduzem as necessidades básicas do cotidiano dessas pessoas. Além disso, ele possibilita a criação de palavras e descrição de pensamentos utilizando diversos critérios, como cor, forma e tamanho.

Considerado o primeiro aplicativo do gênero que usa a língua portuguesa, o Livox ganhou vários prêmios no Brasil e no mundo: o Prêmio Empreendedor 2016, em São Paulo, e o de melhor aplicativo de inclusão social do mundo, o World Summit Award Mobile, promovido pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 2015. Além desses, a iniciativa também venceu o Desafio de Impacto Social do Google, que rendeu ao aplicativo um investimento de R$ 2,2 milhões.

Segundo o site da empresa, o Livox oferece a capacidade de comunicação a mais de 20 mil pessoas, que já têm acesso ao software em todo o país.

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