Segurança

Arquitetura do medo domina 

População e empresas aumentam investimento em segurança e transformam a estética urbana

Dom, 19/10/14 - 03h00
Atrás das grades. O engenheiro Luiz Costa diz que trabalha cercado por grades, monitoramento por câmera 24 horas e alarme | Foto: LINCON ZARBIETTI / O TEMPO

O engenheiro Luis Costa, 29, fica apreensivo cada vez que tem que esperar o portão da garagem do prédio onde mora abrir ou quando escuta algum barulho mais forte na recepção da construtora onde trabalha. “No escritório é tudo fechado. Para chegar à minha sala são mais de oito cadeados, além das chaves normais. É grade em cima de grade”, afirma.

Costa nunca foi uma vítima direta da violência, mas episódios com pessoas próximas o tornaram mais preocupado com a segurança. “A casa de uns parentes já foi assaltada, e levaram tudo. No outro escritório em que eu trabalhava, bandidos entraram armados”, conta o engenheiro, que há três anos decidiu investir cerca de R$ 2.000 por mês em segurança.

Ele não está sozinho. De acordo com a Associação Brasileira das Empresas de Sistemas Eletrônicos de Segurança (Abese), nos últimos dez anos, o mercado vem crescendo em média 10% anualmente. Somente em 2013, o setor movimentou R$ 4,6 bilhões.

O consumo maior dos equipamentos é feito pelo setor não residencial, que responde por 85% do mercado, mas o vice-presidente da Abese, Claudinei Freire, acredita em uma mudança nos próximos cinco anos. “As casas representam hoje 15%, mas esse número já foi bem menor”, diz.

Segundo Freire, a ascensão da classe C, com o aumento do poder aquisitivo, a disseminação da criminalidade e o barateamento dos equipamentos são apenas alguns dos fatores que deverão contribuir para o maior investimento em segurança residencial. “Da minha carteira com 3.000 clientes, metade já é de residências”.

Para o arquiteto Guto Requena, a “arquitetura do medo” já é um dos estilos arquitetônicos predominantes no país, e isso vem modificando as cidades e a forma como a população tem se protegido. “A estética dos edifícios todos nós já conhecemos: muros altos, grades opulentas, cercas elétricas, arame farpado, guaritas e sistema de vigilância sugerem uma falsa promessa de segurança e blindagem, negando a ideia de cidade e aprisionando os moradores em bolhas de ilusão”, diz.

Novas tecnologias. O mercado tem investido amplamente na modernização dos equipamentos e em novas opções em segurança, segundo Luciana Ulhoa – gestora de marketing da Emive em Belo Horizonte. “O cliente pode adquirir um sistema de câmeras, com alta tecnologia, que transmitem imagens por meio da banda larga em tempo real, a partir de qualquer dispositivo Wi-Fi (smarthphones, tablet) de qualquer parte do mundo”.

Freire também conta que é possível disparar um alarme a partir de uma análise inteligente de vídeo que identifica um movimento não previsto.

Números

R$ 4,6 bi foi o faturamento do mercado de segurança eletrônica em 2013 no Brasil

R$ 1.245 kit básicoé o custo de um de equipamentos com alarme monitorado

R$ 3.530 custa um sistema com quatro câmeras, mais uma central de gravação

Minas Gerais

A Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds) informou por nota que o Estado destinou 54,5 bilhões para a segurança pública desde 2003. O efetivo das Polícias Militar, Civil e do Corpo de Bombeiros é de cerca de 61 mil homens, e de 18.166 viaturas. As vagas no sistema prisional saltaram de 6.169 em 2003 para 32.160 em julho de 2014 (421%). O Olho Vivo está presente em 12 municípios com 700 câmeras.

Capital

Em Belo Horizonte, a Secretaria de Segurança Urbana e Patrimonial informou que até outubro foram gastos mais de R$ 66 milhões com a Guarda Municipal. Criada em 2003, a guarda conta atualmente com um efetivo de 2.149 servidores. De acordo com a prefeitura, a poda de árvores também faz parte dos investimentos em segurança. Neste ano, já foram podadas 23.990 árvores, com um gasto de R$ 2,5 milhões.

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