Visita ao chuveiro

Banho todos os dias? Pandemia faz pessoas repensarem hábito

Especialistas, porém, alertam para a importância da higiene, realizada com frequência, na saúde

Qua, 30/06/21 - 03h00

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Cascão, personagem criado pelo cartunista Mauricio de Sousa na década de 1960, sempre deixou claro que tomar banho não é a praia dele. O integrante da Turma da Mônica tem o que os médicos chamam de “ablutofobia”, que é medo de se lavar e de encarar o chuveiro. Por outro lado, há quem não tenha a fobia e apenas entende o banho como um hábito que não precisa ser realizado diariamente, como é o caso da youtuber Viih Tube, 20, que, no “Big Brother Brasil 21”, da Globo, chegou a ficar quatro dias seguidos sem visitar o chuveiro da casa. Nos primeiros 40 dias de programa, ela tomou apenas 22 banhos – Viih alegou, após deixar o reality, que agiu assim porque tinha medo de expor, sem querer, partes do corpo que não gostaria. Pelo mundo, por vários motivos, tem crescido o número de pessoas que nos últimos meses têm repetido comportamento semelhante ao que a youtuber teve no “BBB 21”, optando por dar um intervalo de alguns dias entre um banho e outro. 

De acordo com o levantamento recente do site de pesquisas YouGov, no Reino Unido, uma em cada seis pessoas (17%) está tomando banho com menos frequência durante a pandemia. Entre os britânicos de 18 e 24 anos, 27% reduziram o hábito de banhos diários. Depois que a pesquisa foi divulgada, diversas pessoas, de países como Estados Unidos, usaram as redes sociais para contar que, nesse período, assim como os britânicos, adotaram a mesma prática. “Uma das possíveis explicações pode ser o trabalho remoto, em que a interação pessoal deixa de acontecer e a preocupação com a aparência e cuidados pessoais acaba ficando em segundo plano”, comentou o sociólogo Cláudio Santiago Dias Jr., integrante do Departamento de Sociologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Mesmo com o fim das restrições em muitos desses lugares, há quem continue sem visitar o chuveiro diariamente. 

Para além de ser uma herança da pandemia do novo coronavírus, o banho, ressalta o sociólogo, é um hábito que varia de acordo com a cultura de cada país. “No Brasil se observa que a prática de banhos diários é bastante difundida na população, mesmo com todos os problemas sanitários presentes em diversas regiões do país. Ao contrário dos dias de hoje, no Brasil Colônia os banhos eram raros entre os portugueses, mas muito comuns entre os indígenas, que transmitiram esses hábitos para a população brasileira”, explicou. 

Segundo pesquisa da consultoria de análise de tendências Euromonitor, divulgada em 2015, os brasileiros são considerados as pessoas mais limpas do mundo, pois tomam, em média, até 12 banhos por semana. Os franceses, norte-americanos e espanhóis tomam um banho por dia. No Reino Unido e na Turquia, praticamente só metade da população faz isso diariamente. “Atualmente pode-se dizer que o brasileiro é o campeão mundial do banho. Mexicanos, colombianos e australianos também tomam muito banho, ao contrário, por exemplo, dos chineses, em que cerca de 40% da população toma apenas um banho por semana”, completou Claudio Santiago.  

‘O banho é importante para a nossa higiene geral’ 

Membro da diretoria da Sociedade Brasileira de Dermatologia no Rio de Janeiro, a médica Regina Schechtman observa que em países do Hemisfério Norte, como a Inglaterra, o clima frio contribui para a diminuição do número de banho das pessoas. Assim como o sociólogo Cláudio Santiago Dias Jr., a dermatologista pontua o fato de as pessoas estarem saindo pouco de casa durante a pandemia. “Com isso, elas não estão suando nem se expondo ao ambiente externo”, disse. Ela também mencionou a questão cultural: “Alguns povos acreditam que tomar muito banho faz mal para a pele e que vai ser bom ter uma camada protetora, mas isso não é verdade. Nós já temos a nossa camada natural cutânea, uma barreira que nos protege”.  

Diante disso, Regina afirma que o ideal para essas pessoas que vivem nessas condições seria tomar banho dia sim, dia não. “O recomendado é não ficar mais de um dia sem tomar banho. Nossa pele contém uma colonização bacteriana e, para mantê-la em equilíbrio, tem que ter higiene”, ressaltou a médica. “O banho é importante para a nossa higiene geral. Precisamos ter a pele limpa para evitar infecções bacterianas em áreas de dobras; áreas que utilizamos para as nossas funções fisiológicas; e o couro cabeludo, uma área que contém alta densidade de glândulas sebáceas”, explicou. “A falta de banho pode ocasionar doenças como impetigo, foliculite e furúnculo, que podem ser causados pelos estafilococos”, alertou a médica, referindo-se às bactérias que vivem na nossa pele e que esperam uma lesão para poder entrar no nosso organismo. 

Mas, e se tratando de um país tropical, como é o caso do Brasil? Existe uma quantidade de banhos ideal que devemos tomar? “Se é uma pessoa que não tem nenhum problema na pele, tomar banho uma vez por dia é o ideal”, garantiu ela, frisando também que o excesso de banhos pode ser prejudicial para a saúde. “O excesso de banhos, principalmente quando se usam sabonetes antissépticos, tira a gordura da pele, a camada natural de proteção dela, e vai ressecá-la. Isso pode levar a eczemas (inflamações agudas ou crônicas na pele), piora de outras dermatites, além da xerose, que é o ressecamento da pele”, afirmou.  

Cuidados básicos 

A dermatologista Regina Schechtman listou alguns cuidados que devemos ter com a pele durante o inverno. Segundo ela, banhos muito quentes são prejudiciais, pois provocam o ressecamento do tecido. “O ideal é que a temperatura da água seja igual à nossa temperatura corporal, cerca de 37°C. Acima disso, 40°C, 45°C, já é maléfico”, afirmou. Banhos longos e em excesso também devem ser evitados. 

O recomendado, segundo a dermatologista, é substituir os sabonetes antissépticos pelos que tenham óleos (como os óleos essenciais) ou aqueles que sejam mais cremosos. “Ao sair do banho, em vez de se secar fazendo movimento como se estivesse esfregando a pele, seque de maneira suave e deixe a pele ligeiramente úmida. Em seguida, passe um hidratante, se você tem a pele normal ou oleosa. Para quem tem a pele mais seca, o ideal é usar algum óleo, como o de amêndoas”, explicou. Caso perceba coceira, vermelhidão, entre outros sintomas, a orientação é a de sempre: procurar um médico.

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