Carbofobia

Carboidrato: vilão ou aliado da saúde e da boa forma?

Substância é o nutriente mais abundante do planeta e é a principal fonte de energia do organismo

Seg, 20/09/21 - 04h00
Carboidrato: vilão ou aliado da saúde e da boa forma? | Foto: iStockphoto/Divulgação

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Em pleno inverno, as altas temperaturas têm causado uma sensação de um verão antecipado, o que tem levado mais pessoas a buscar, cada vez mais cedo, por aquelas dietas milagrosas que prometem deixar o corpo na medida dos padrões idealizados de beleza. O problema é que, além de serem pouco efetivas e insustentáveis, essas “modinhas alimentares” podem vender uma imagem de saúde quando, na verdade, são perigosas. 

“Ao contrário do que pregam essas ‘dietas da moda’, a alimentação é uma atividade complexa, que deve ser feita de maneira individualizada, porque cada corpo tem suas necessidades próprias e o que vale para um pode não valer para o outro”, assevera a nutricionista Júnea Drews, mestranda em nutrição clínica experimental pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). 

“De tempos em tempos, elegemos um tipo de alimento que passa a ser visto como pouco saudável ou fica associado ao ganho de gordura. Foi o que já aconteceu com o ovo, com o leite e com a manteiga, para ficar em alguns exemplos. O alvo da vez têm sido os carboidratos, presentes em grãos, cereais, farináceos, frutas e açucarados. Mais recentemente, esses produtos têm sido apontados como substâncias inflamatórias, vilões do emagrecimento e até inimigos do humor”, indica. 

Tanto pavor pelos carboidratos, substância que é o nutriente mais abundante do planeta e é a principal fonte de energia do organismo, levou os profissionais da nutrição a cravar o termo “carbofobia”. A expressão é usada para designar uma postura excessivamente restritiva em relação à substância, mas não chega a representar um distúrbio alimentar. “Um dos problemas é que, para essas pessoas, comer deixa de ser algo prazeroso, tornando-se uma fonte de preocupação e de ansiedade”, critica Júnea. 

Evidentemente, comer carboidratos de maneira imoderada não é uma boa ideia. “O excesso vai gerar inflamações e ganho de gordura, o que vai ampliar o risco de ocorrência de doenças cardiovasculares”, adverte. Por outro lado, evitar esses alimentos a qualquer custo é também temerário, embora, em um primeiro momento, essa dieta restritiva pareça mesmo promissora.  

“De fato, a pessoa vai perceber que desinchou ao iniciar uma rotina alimentar em que o carboidrato foi radicalmente cortado. E esse resultado nos leva a crer que esses alimentos é que eram o problema. Mas, se não fizermos isso com o devido acompanhamento, uma série de efeitos nefastos serão produzidos”, informa.  

Para começar, a sensação de desinchaço custa também a perda da chamada massa magra. “Como aquela era a principal fonte de energia, o organismo vai precisar se adaptar e buscar uma alternativa. Por isso, ele vai usar a massa muscular, que é muito hidratada. Então, junto dela, também perdemos água”, comenta. Além disso, para sintetizar a massa magra e transformá-la em energia, “o organismo vai quebrar a proteína em um processo que gera muita amônia, que provoca dor de cabeça e, consequentemente, mau humor”, cita. O quadro é agravado pela dificuldade de relaxar, uma vez que os carboidratos integrais mantêm a glicemia à noite, favorecendo um sono de melhor qualidade. 

Outras consequências maléficas são a gastrite e a desregulação intestinal. “Isso vai acontecer porque muitos alimentos ricos em fibras são também ricos em carboidratos. Então, ao abrir mão desses itens fibrosos, a camada protetora do estômago e do intestino fica prejudicada, deixando esses órgãos mais vulneráveis”, examina. Ela ainda lembra que as dietas muito restritivas são, no longo prazo, insustentáveis. “O que significa que todo o peso perdido será rapidamente recuperado”, sentencia. 

Simples e complexos 

Júnea Drews explica que há diferentes tipos de carboidratos. De um lado, há os que têm composição simples. “Eles estão presentes no pão francês, nos açucarados e até no suco de laranja coado”, diz. Ela indica que, nesse caso, esses alimentos possuem estrutura molecular monossacarídeos e oligossacarídeos, sendo facilmente absorvidos pelo organismo e liberando energia quase que imediata. Após sua ingestão há um grande aumento nos níveis de glicose na corrente sanguínea.  

De outro lado, há os “carboidratos complexos”, presentes na laranja, quando se come também o bagaço, na maçã com a casca e em outras frutas e legumes. “São itens ricos também em fibra e, por isso, vão demorar mais a cair na corrente sanguínea, sendo mais indicados para quem busca perder peso”, informa. “Uma salada, por exemplo, pode ter carboidratos e ser rica em diversos outros tipos de nutriente”, detalha.  

A profissional explica que, para algumas pessoas, pode haver a indicação de uma tentativa de substituição gradual das fórmulas simples pelas mais complexas. Contudo, não é regra. “Se uma pessoa vai fazer exercícios e, meia hora antes come um pão francês, ela pode ter mais energia e render melhor no treino”, garante. “Resumindo, todo carboidrato pode ser benéfico dependendo de como for consumido”, finaliza. 

Restrição. A nutricionista Júnea Drews avalia que somente em casos específicos – como no caso de pessoas com diagnóstico de epilepsia – uma dieta restritiva vai ser recomendada. “Alguns perfis de diabéticos também podem receber essa recomendação, mas, mesmo nesses casos, não estamos falando de uma dieta radical”, diz.

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