Avanço

Ciência está mais perto de transplantar órgãos de porco para humano

Pesquisadores conseguiram, pela primeira vez, eliminar vírus em animais

Sáb, 12/08/17 - 00h20
No laboratório. Pesquisadores editaram gene em porcos e conseguiram avançar na busca do xenotransplante | Foto: bbc/reprodução

Washington, EUA. Cientistas dos Estados Unidos conseguiram eliminar, com sucesso, um vírus presente no DNA de 37 porcos, superando um dos maiores obstáculos à doação de órgãos do animal para seres humanos.

A eGenesis, empresa de biotecnologia, admite que evitar que os órgãos de suínos sejam rejeitados pelo corpo humano continua sendo um grande desafio. Mas, para especialistas, esse foi um primeiro passo promissor e animador.

O estudo, publicado na revista científica “Science”, começou com a análise de células da pele dos porcos. Os pesquisadores identificaram a presença de 25 retrovírus endógenos de porco (Perv, em inglês) no código genético do animal.

Experimentos mostraram que esses vírus poderiam escapar para infectar os tecidos humanos. Os cientistas usaram, então, a tecnologia Crispr de edição de genes para eliminá-los.

Na sequência, aplicaram a técnica de clonagem, a mesma usada para criar a ovelha Dolly, para colocar o material genético dessas células em um óvulo de porco e criar embriões. O processo complexo é insuficiente, mas 37 leitões nasceram saudáveis.

“Esses são os primeiros porcos Perv-free (sem Perv)”, afirmou à BBC Luhan Yang, cofundadora e diretora científica da eGenesis e pesquisadora da Universidade de Harvard.

Eles também são “(os animais) mais geneticamente modificados em termos de número de alterações”, acrescentou.

Longas filas. Se o xenotransplante – transplante de órgãos entre diferentes espécies – funcionar, tem potencial para diminuir as longas filas de espera por um transplante.

“Admitimos que ainda estamos nos estágios iniciais de pesquisa e desenvolvimento”, disse Yang. “Sabemos que temos uma visão audaciosa de um mundo sem escassez de órgãos, o que é muito desafiador, mas essa também é a nossa motivação para mover montanhas”, completou.

Os porcos são particularmente promissores para o xenotransplante, pois seus órgãos são de tamanho similar aos dos seres humanos, e os animais podem ser criados em grande quantidade.

Os pesquisadores estão investigando novas modificações genéticas para tornar os órgãos de porcos mais compatíveis com o sistema imunológico humano.

 

À espera de um transplante

100 mil pessoas aguardam doadores de órgãos nos EUA.
34 mil brasileiros estão na fila de transplantes.

 

Estudo tem caráter promissor, mas traz questões éticas

Washington. Para Darren Griffin, professor de genética da Universidade de Kent, a descoberta representa um “passo significativo” para tornar o xenotransplante uma realidade. “No entanto, há muitas variáveis, incluindo questões éticas, para serem resolvidas antes disso.”

O professor Ian McConnell, da Universidade de Cambridge, também reconhece o caráter promissor do estudo. “Esse trabalho fornece um primeiro passo no desenvolvimento de estratégias genéticas para a criação de uma raça de porcos em que o risco de transmissão de retrovírus seja eliminado”, diz.
Mas remover os vírus é apenas metade do desafio. Até mesmo os órgãos doados por outras pessoas podem causar uma forte reação imune que leva à rejeição do transplante.

Os pesquisadores tiveram que superar desafios inesperados para realizar a edição de tantos genes de uma vez só. A tecnologia Crispr funciona como uma combinação de um sistema de navegação por satélite e um par de tesouras. O navegador encontra o lugar certo no código genético, enquanto as tesouras executam o corte. Mas fazer 25 cortes ao longo do genoma do porco levou à instabilidade do DNA e à perda de informações genéticas.

 

Estudo

Alteração. O grupo de cientistas norte-americanos conseguiu fazer crescer células de porco viáveis sem os retrovírus, ao adicionar uma série de fatores de reparação de DNA que o comunicado não especifica.

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