Esotérico

Como a antroposofia vê o homem ante a pandemia

Abordagem valoriza a individualidade e integra o pensar, o sentir e o agir

Por Da Redação
Publicado em 02 de junho de 2020 | 03:00
 
 
Iracema de Almeida Benevides alia a antroposofia em sua prática médica Foto: Arquivo Pessoal

Uma das principais características da medicina antroposófica é a abordagem centrada no paciente a partir de uma concepção de saúde que valoriza sua individualidade e considera que as dimensões emocional, mental e espiritual são tão relevantes quanto a dimensão corpórea nos processos de adoecimento. Ênfase especial é colocada na busca pelo envolvimento do paciente direta e ativamente em seu processo de prevenção, tratamento e recuperação do bem-estar por meio de atividades de educação e autoeducação para o cuidado.

Essa abordagem foi sistematizada na Europa, no início do século XX, a partir do trabalho conjunto de um grupo de médicos, liderados por Ita Wegman e Rudolf Steiner, filósofo contemporâneo. Trata-se de um sistema complexo, de caráter multiprofissional e que integra a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares, desde 2006, e também o Programa de Homeopatia, Acupuntura e Medicina Antroposófica da Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte desde 1994.

Em sua abordagem médica integra o pensar, o sentir e o agir, pois considera que o ser humano possui corpo, alma e uma dimensão espiritual. “Por meio do seu corpo, o ser humano relaciona-se com a natureza e com os processos inerentes aos seres vivos: respiração, circulação, nutrição, aquecimento, excreção etc.”, explica Iracema de Almeida Benevides, médica formada pela Universidade Federal de Minas Gerais, mestra em gestão e economia da saúde, especialista em nutrologia e saúde da família.

Segundo a médica que utiliza os conhecimentos da medicina antroposófica em sua prática clínica, “por meio da dimensão anímico-espiritual, o indivíduo elabora seus sentimentos, seus afetos, seus processos de desenvolvimento e sua autoconsciência em uma perspectiva individual”. “Cada um de nós tem um ‘eu’ que deve atuar como regente da orquestra”, disse.

Para Iracema, um dos grandes desafios em tempos de pandemia, em que o estresse é aumentado por uma série de fatores, “é exatamente manter o regente (nosso eu) confiante, fortalecido, firme no comando, para que ele seja capaz de sustentar a integração harmoniosa dessas três dimensões da vida psíquica – pensar, sentir e agir”.

A médica ressalta que “precisamos conseguir manter nosso pensar bem organizado para sermos capazes de ler e interpretar nossa realidade corretamente e termos clareza sobre as medidas mais adequadas para cada momento”. “Precisamos manter o nosso sentir equilibrado para não ficarmos vulneráveis ao medo, à tristeza, à desesperança, à ansiedade. Precisamos que nosso agir esteja vinculado ao pensar e sentir”, diz.

Ela explica que nosso regente, o eu, “vive no calor: calor físico e calor humano”. “Alguns bons exercícios para o fortalecimento do eu são: manter-nos conectados com quem amamos e mantermos os corações aquecidos, lembrarmos as situações em que conseguimos superar desafios graças aos nossos esforços. A solidariedade também é um ótimo alimento para o eu”, explica.

Como fortalecer corpo e mente

A pandemia teria um sentido dentro da antroposofia? “Penso que a Covid-19 possa nos dar a oportunidade de refletirmos sobre nossos valores como humanidade: cultura, ciência, sociedade. Uma dessas reflexões é que somos profundamente interconectados: seres humanos e natureza – um único planeta, diversos processos, mas temos caminhado em uma marcha destrutiva à beira do irrecuperável”, analisa a médica Iracema de Almeida Benevides.

A origem exata do vírus é desconhecida, mas sabe-se que o estresse causado a animais pode levar os vírus a sofrer mutações. “Temos destruído cada vez mais os habitats dos animais e poluído o meio ambiente. Outras reflexões que precisamos fazer: será que precisamos realmente comprar tanto, viajar tanto, produzir tanto lixo? Esse período de distanciamento social pode estar reacendendo a lembrança de como podemos viver com menos e de como pode ser bom ficar em casa e ler um bom livro, fazer atividades manuais, entre outras”, conclui. (AED)

Para manter o corpo saudável

* A nutrição afetiva é fundamental. As pessoas devem buscar estar em conexão com familiares, amigos e rede social;

* Incorpore a prática de exercícios meditativos e contemplativos que tragam equilíbrio e serenidade ao pensar e ao sentir;

* Busque conhecer e disseminar histórias da Covid-19 com desfecho favorável e ver aspectos positivos em todas as situações, mesmo aquelas muito ruins;

* Evite o uso excessivo e por tempo ininterrupto de recursos digitais e eletrônicos, especialmente as crianças, pois eles podem aumentar o estresse, a insônia e o desgaste;

* Planeje rotinas para os dias da semana equilibrando as diferentes atividades ritmicamente;

* Alterne atividades intelectuais com artísticas, de trabalho doméstico, de movimento corporal e de lazer.

Alimentação na perspectiva antroposófica

* Ao consumir alimentos de origem vegetal, equilibre o consumo de raízes, folhas, frutos e sementes;

* Busque consumir, sempre que possível, alimentos de origem orgânica, familiar, sustentável, biodinâmica;

* Evite olhar as telas digitais enquanto se alimenta;

* Mesmo ante a necessidade de manter a distância interpessoal, procure realizar as refeições em família, junto com as pessoas da residência;

* Respeite as preferências e as necessidades individuais;

* Procure comer devagar, percebendo o sabor dos alimentos.