Budismo

Equívocos da novela ‘Joia Rara’ 

Monjas e especialista mostram conceitos usados erroneamente na atração que estreia no dia 16; interpretações sobre reencarnação e renascimento são o foco central

Ter, 10/09/13 - 03h00

Tenzin Gyatso, o 14º dalai-lama, líder espiritual tibetano, é considerado a reencarnação do bodisatyva da compaixão. É também visto como a manifestação de Chenrezig, na verdade o septuagésimo quarto numa linhagem que pode ser seguida até um menino brâmane que viveu na época de Buddha Shakyamuni.

 

“Frequentemente me perguntam se eu realmente acredito nisso. Não é simples responder. Mas quando levo em conta minha experiência nessa vida atual e minhas crenças budistas, não tenho nenhuma dificuldade em aceitar que eu estou conectado espiritualmente aos 13 dalai-lamas precedentes, a Chenrezig e ao próprio Buda”, disse ele, certa vez.

Inspiradas nessa história de reencarnação e em outras, as diretoras Thelma Guedes e Duca Rachid escreveram “Joia Rara”, próxima novela das 18h, que vai ao ar no dia 16. Nela, Mel Maia dá vida a Pérola, menina pura e preciosa que é a reencarnação de Ananda, vivido por Nelson Xavier, um líder espiritual budista.

Engana-se quem acredita que a reencarnação é um consenso dentro da filosofia budista. Segundo a monja Isshin Havens, 65, sensei, missionária internacional oficial do Soto Zen Budismo e líder do Jisui Zendô Sanga Águas da Compaixão, em Porto Alegre, “o budismo considera que não existe algo fixo, concreto, permanente, que se chamaria de alma, como se fosse uma pedrinha que vai de uma vida para outra, sendo polida, ou como se um motorista tivesse simplesmente trocado de carro”.

A monja comenta que hoje ela não tem mais nada a ver com aquela criancinha de três anos que ela foi um dia. “Mudou tudo, não trago mais em mim nenhum átomo daqueles, todos os meus pensamentos mudaram. A isso damos o nome de impermanência”.

Tudo muda e se transforma o tempo todo. Para os budistas, quando o homem entende o conceito de impermanência, elimina os apegos que geram o sofrimento. “O que pode continuar depois da morte é o fluxo de consciência que não é sólido. É a energia vital em movimento. São nossas ações positivas e negativas que criam um magnetismo que mantém essa consciência. O que vai eventualmente para outro renascimento é esse fluxo mental, a energia cármica, que guarda a somatória dos efeitos de todas as ações do passado”.

Monja Isshin explica que as memórias são voláteis. “Quando o corpo morre, esse fluxo de consciência vai se transformando, mas não é exatamente a continuação daquela pessoa. No zen, não falamos desse universo posterior. Focamos nossa atenção apenas nesta vida. Quando ficamos especulando sobre o que vem depois, desviamos nossa atenção sobre nosso trabalho aqui e agora, que é a libertação de todo sofrimento. Não temos como comprovar nada, tudo é especulação. Nos recusamos a falar se Deus existe ou não, mas não porque somos ateístas. Estamos renascendo milhares de vezes por segundo, e isso é tudo”, finaliza a monja.

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