Comportamento

Homens assumem riscos 'idiotas e estúpidos', aponta levantamento

Dados do prêmio Darwin e das internações hospitalares mostram “coragem masculina

Por Da Redação
Publicado em 29 de março de 2015 | 03:00
 
 
Paraná. O padre Adelir de Carli se perdeu após voar içado por mil balões na cidade de Paranaguá Foto: REPRODUÇÃO / GLOBO MINAS

Pesquisadores na Inglaterra parecem ter encontrado evidências que confirmam o que muitos já suspeitavam: os homens são mais propensos do que as mulheres a assumir riscos potencialmente prejudiciais, muitas vezes até com resultados fatais.

Para comprovar essa curiosa constatação, eles analisaram os últimos 20 anos (de 1995 a 2014) do Darwin Awards – honraria concedida desde 1991 àqueles que cometeram erros tão idiotas pondo fim à própria vida. Para escolher os “vencedores”, o prêmio inspirado no cientista Charles Darwin, o pai da evolução, pressupõe que a atitude fatal contribuiu para assegurar a sobrevivência da espécie humana.

A análise revelou que dos 318 prêmios avaliados durante esse período, 282 foram concedidos a homens e apenas 36 a mulheres – estabelecendo assim, uma diferença significativa entre os 88,7% vencedores do sexo masculino, e os 11,3% do sexo feminino.

O estudo diz que este achado é inteiramente consistente com a “Teoria do Idiota Masculino” (MIT, sigla em inglês), hipótese de que “os homens são idiotas e fazem coisas estúpidas”. O estudo também suspeita que eles são mais propensos a se envolverem em profissões e esportes de maior risco.

Exemplos de vencedores do Darwin incluem um homem que tomou a decisão de engatar seu carrinho de compras na traseira de um trem para chegar em casa mais rápido. Um padre brasileiro também conquistou o prêmio em 2008. Foi o padre Adelir de Carli, que morreu após ser içado por mil balões inflados na cidade portuária de Paranaguá, no Paraná.

“À prova de balas”. Um potencial candidato é aquele concorrente que apresenta pouca ou nenhuma avaliação real do risco, no entanto, o comitê do prêmio Darwin tenta fazer uma clara distinção entre mortes idiotas e mortes acidentais.

Por exemplo, é pouco provável que a honraria seja concedida a um indivíduo que atire em si mesmo tentando mostrar que a arma está descarregada. Isso ocorre com muita frequência e é considerado um acidente. Por outro lado, o candidato que atirar para demonstrar que a arma está carregada pode ser elegível ao prêmio.

Segundo o estudo, o álcool também pode desempenhar um importante papel em muitos eventos que levam a um prêmio Darwin, porque faz com que eles se sintam “à prova de balas”.

Emergências. Além do prêmio, outro dado que confirma as diferenças sexuais no comportamento de risco são os registros de internações hospitalares de emergência. Em 2014, 58.695 pacientes do sexo masculino foram atendidos no Hospital João XXIII, quase 20 mil a mais do que as 38.881 pacientes do sexo feminino.

Para explicar essa diferença, o médico especialista em emergências médicas Marcelo Lopes Ribeiro diz que o homem sempre foi mais aventureiro do que a mulher e “sempre faz mais ‘gracinha’”.

“A mulher é mais medrosa, e se desafiada, ela teoricamente perde a coragem. Já o homem, quando desafiado, cria uma coragem interna que ninguém consegue explicar. Ele acha que é mais forte, indestrutível, e é também muito mais imprudente. 90% das fraturas expostas em quedas de moto ocorrem em homens, mulher não fica fazendo zigue-zague”, analisa o coordenador da internação no Hospital de Pronto-Socorro João XXIII.

Série na TV
Aventura
. Neste mês, Luigi Cani estreou a série “Mestre dos Ares”, mostrando os saltos que fez de monumentos naturais pelo mundo. A série será exibida no programa Fantástico.

O Prêmio Darwin
O que é
: honraria póstuma concedida desde 1991 àqueles que cometeram erros idiotas pondo fim à própria vida.

Nome: Inspirado no criador da Teoria da Evolução, Charles Darwin. Baseia-se no pressuposto de que tais pessoas, ao se autodestruírem, eliminaram seus “maus genes”.

Critérios para a escolha dos candidatos: Deve ser a causa de sua própria morte. Deve mostrar uma má aplicação de senso comum. Deve ser eliminado do “pool” genético da humanidade. Deve ser capaz de bom senso. O evento deve ser verificado.

‘Tenho os melhores anjos da guarda’

O atleta Luigi Cani não é exatamente um entusiasta do Professor Pardal, personagem dos quadrinhos que criava alguns inventos desastrosos, mas gosta de assumir riscos. “Isso surgiu por conta da minha necessidade de superação e de controlar um medo. O risco me traz uma sensação de controle muito forte e isso me estimula muito”, diz.

Referência no esporte aéreo radical, ele já correu risco de morte algumas vezes. Uma delas em 2004 quando treinava para o recorde mundial de salto e pouso com o menor e mais veloz paraquedas do mundo. Muitas das suas aventuras inclusive já foram bastante contestadas pelas mulheres com quem ele convive. “Nos primeiros dez anos nem sempre eu tive o apoio delas, mas hoje tenho o apoio e admiração”, reconhece.

Longe de ser um candidato ao Darwin, Cani reconhece sua vulnerabilidade e explica como procura se assegurar. “Risco de sofrer um acidente nós corremos todos os dias ao simplesmente pegar um taxi. Eu me especializei em gerenciamento de projetos de risco por 12 anos nos Estados Unidos. O risco sempre irá existir, mas eu estou sempre com os melhores anjos da guarda do universo”, confia Cani.