Oriental

Meditar na montanha do silêncio

O monge Mokugen-san apresenta o Templo Zen das Alterosas, espaço de meditação e cerimônias

Por Da Redação
Publicado em 29 de abril de 2014 | 03:00
 
 
Sentados.Thiago Kamon, o monge Mokugen-san, abade do Templo Zen das Alterosas, Leonardo Meirelles e o noviço Raphael Campos Foto: Ana Elizabeth Diniz

“Maka hannya haramitta shingyo”, frase japonesa que significa a grande sabedoria da iluminação do sutra do coração, foi repetida após meditação de 40 minutos realizada no Templo Zen das Alterosas, localizado no alto do bairro Serra, em Belo Horizonte.


O noviço Raphael Campos, 24, o servidor público Thiago Kamon, 31, e o filósofo Leonardo Meirelles, 47, entoavam o sutra ao lado de José Costa, 61, que, após ordenado, o monge recebeu o nome de Mokugen-san.

A opção pelo zen budismo aconteceu aos 25 anos. Foi ordenado pela primeira vez pelo monge Ryotan Tokuda, em Minas Gerais, e anos mais tarde, no Japão, onde viveu por 22 anos, pelo mestre Nakamura.

De volta a Belo Horizonte em 2012, começou a procurar um espaço. A ideia era transmitir de modo correto, direto e puro a tradição do zen adquirida com os mestre Dogen e Keizan Jokin da escola Soto Zen do Japão, que tem como matrizes os tradicionais templos Eihei-ji e Soji-ji. 

“Há mais de 2500 anos, desde o Shakyamuni Buda até os dias de hoje, o dharma budista é transmitido por todas as gerações de budas e patriarcas. Peculiarmente, o zen é transmitido de coração a coração, de corpo a corpo, além das escrituras, transcendendo o mundo das palavras. O zen budismo não tem dogmas, é uma prática simples que vai direto à essência do ser humano no cotidiano”, relembra Mokugen-san.

O nome Alterosas reflete as montanhas e, em japonês, o templo recebe o nome de Tenmokuzan Kogakuzenji, que significa Montanha do Silêncio Templo Zen das Montanhas Altas. É lá, no alto da montanha, que acontecem as práticas e cerimônias para leigos, simpatizantes e aqueles que desejam trilhar o caminho do budismo.

“O templo não funciona como um mosteiro onde vivem noviços, mas realizamos meditações três vezes por semana, cerimônias como nascimento, iluminação e nirvana do Buda, de reverência e agradecimento aos Budas, arrependimento, luto, funerais de seres humanos e animais, casamentos, batizados, cursos de culinária japonesa vegetariana, língua japonesa e visitas guiadas ao templo”, apresenta o monge.

O templo oferece ainda a ginástica makkoro, palavra japonesa que significa o método de olhar para frente. Ela normaliza as articulações do corpo, especialmente as da cintura e coxa, para que o sangue e os impulsos nervosos fluam normalmente.

“É como uma meditação em movimento, que considera o corpo e a mente como uma unidade. Preconiza o rejuvenescimento e o retardamento do envelhecimento. Nosso corpo envelhece devido à queda da atividade metabólica de nossas células, tendo como causa a atrofia pelo não uso ou embotamento pelo uso exagerado. Diz-se que o envelhecimento começa sorrateiramente pelos pés, assim como as plantas começam a envelhecer pelas raízes e os prédios ficam comprometidos quando suas bases ficam fracas”, observa Mokugen-san.

Para o zen todas as atividades do cotidiano, como lavar louça, fazer almoço, limpar o chão e tomar chá são práticas tão importantes quanto a meditação. “Consideramos que o momento presente é sagrado, tem valor nele mesmo, assim como tudo o que fazemos e vivemos”, destaca Mokugen-san.

O monge explica que meditar “não é ativar a mente, mas uma prática fisiológica. Quando meditamos, a mente é deixada naturalmente, estamos presentes de forma natural e não, pela vontade. A meditação é um treino para entrarmos nesse estado de mente plena, ver o mundo como ele é a partir do aqui e agora”.

Mokugen-san exerce a função de abade do templo e divide a tarefa de cuidar do espaço zen com três monges registrados oficialmente na escola Soto Zen do Japão: Gustavo Mokusen-san, formado em física pela Universidade Federal de Minas Gerais e pós-graduado pela NASA, ordenado monge em 2004; Cristiano Eiko-san, formado em economia, ordenado monge em 2010 e Claudia Miho-san, formada em psicologia, atriz, diretora e dramaturga e ordenada monja em 2010.

SERVIÇO: O Templo Zen das Alterosas oferece meditações em grupos (zazenkai) aos domingos, às 19h, às quintas, às 19h30m, e às terças, às 6h. Rua Itaparica, 245, Serra. Informações: (31) 8716-2244 e pelo site www.zen.org.br


Celibato
Sim e não.
Monges de todas as linhagens do Japão são celibatários, mas nos países onde
se pratica o budismo
theravada eles não podem se casar.

Por dentro do zen
Zazen –
prática alegre e saudável de estar no aqui e agora

Sesshin – oportunidade de aprofundamento do treinamento zen

Sutras – orações, literatura e cânticos em que estão contidos os ensinamentos do Buda

Dharma – ensinamentos do Buda

Sanga – comunidade de praticantes

Iluminação – é a própria prática do dia a dia, com atenção plena. Não é para ser buscada ostensivamente e nem aprendida