Educação

Pais jovens são menos pacientes para impor limites aos seus filhos

Especialista critica atitude de atriz que trancou filho no quarto por 2 horas

Por Da Redação
Publicado em 24 de janeiro de 2018 | 03:00
 
 
Família. A atriz Luana Piovani é casada com Pedro Scooby e é mãe dos gêmeos Liz e Bem, 2, e de Dom, 5 Foto: REPRODUÇÃO / INSTAGRAM

Palmadas, puxões de orelha e deixar o filho trancado no quarto por algumas horas são alguns dos modelos de castigos que a atriz Luana Piovani assumiu adotar para educar o filho Dom, 5. A declaração dada em seu canal no YouTube nesta semana levantou novamente o debate, entre pais e especialistas, sobre o castigo ser usado como estratégia para impor limites aos filhos.

A filósofa Tania Zagury – autora de 33 livros, entre eles, “Limites sem Trauma”, com um capítulo dedicado ao tema – reconhece que esse é um dos questionamentos mais frequentes dos pais e familiares. Ela explica que as gerações vêm lidando de diferentes formas com o assunto.

Na análise de Tania, até cinco décadas atrás, o castigo físico fazia parte da educação, tanto na família como na escola, e era aceito como natural. “Se criança não obedecia, apanhava”. Já a partir da metade do século XX, educadores e pedagogos começaram a publicar estudos mostrando que a criança se tornava obediente porque tinha medo do castigo. “A raiz da mudança começou com a introdução do diálogo. Percebeu-se que bater cria medo e pode criar atitudes dúbias, ou seja, a criança faz na frente do pai uma coisa e, nas costas, outra”, explica.

Após essas duas gerações terem experimentado atitudes de um extremo ao outro – dos pais que batiam para os que não impunham nenhum tipo de castigo –, a filósofa acredita que a geração atual vem enfrentando novos desafios. “Estamos agora com uma outra geração de pais que foram criados com muita liberdade. De maneira geral, eles têm dificuldade de ter limites para si próprios”, diz. No vídeo, Luana Piovani diz que deixar o filho trancado no quarto por duas horas de castigo está sendo positivo, uma atitude que foi criticada por Tania Zagury. Para ela, isso pode provocar algum tipo de trauma na criança.

Na análise de Tania, é comum ver pais “egocentrados”, que levam seus bebês para blocos de Carnaval e estádios de futebol, porque “preferem correr o risco a deixar de fazer o que gostam”.

“São pais jovens deslumbrados e até superapaixonados pelos filhos, mas, no dia a dia, quando criança já sabe se opor, eles não dão conta e, ao se defrontarem com essas situações, não têm paciência”, afirma.

Para a psicóloga clínica especialista em atendimento sistêmico de família Marina Reis Botelho, “não é a ação que vai contar, é a consequência dessa ação”. “Se a frequência do castigo for demais, significa que não é efetivo, e os pais têm que tentar outra coisa”, diz.

Segundo Tania, é preciso que os pais percebam que a criança não aprende rápido. “Às vezes é necessário repetir anos a fio mesma coisa até que o conceito se forme. Só diálogo não funciona, é preciso que haja também alguma sanção”, defende.

 

Lei da Palmada completa 4 anos

Está em vigor há quatro anos a Lei 13.010/2014, que ficou conhecida como Lei da Palmada, proibindo o uso de castigos físicos e de tratamento cruel ou degradante como formas de correção, de disciplina e de educação. No entanto, a psicóloga clínica Marina Reis Botelho reconhece que os relatos dos pais que ela atende em seu consultório ainda são frequentes. “(A palmada) não deve ser a primeira tentativa e não é recomendada com frequência”, diz.

Flash

Norma. Casos de castigos podem ser comunicados ao Conselho Tutelar mais próximo.