Tendência

Solteira e feliz depois dos 30

Cada vez mais, mulheres mostram que o sonho de se casar e ter filhos não é regra obrigatória

Dom, 09/03/14 - 03h00
Liberdade. Paula Costa, 29, rejeita a cobrança que sente de se encaixar em padrões e ter diploma, trabalho, casamento e casa “ideais” | Foto: pedro gontijo

Em vez de ir ao casamento da última amiga solteira em 10 de dezembro do ano passado, a cineasta argentina Paula Schargorodsky, 35, adormeceu no sofá de casa. Descabelada e descalça, ela pegou uma câmera, filmou as roupas e os sapatos jogados no chão e disparou: “Eu não sou uma dessas meninas que sonham com vestidos brancos e bebês. (…) Obviamente, há algo que não quero enfrentar”.

A história da cineasta, que leva uma vida cigana de viagens e aventuras justamente na idade em que se esperaria que ela estivesse casada e com filhos, chegou a 600 mil acessos no YouTube em pouco mais de um mês. Longe das câmeras, outras mulheres que chegaram ou passaram dos 30 também não vislumbram o casamento no horizonte. E, não, isso não tem nada a ver com a falta de homens disponíveis na praça.

“(Quando) você chegar a tal idade, tem que estar formada, trabalhando de tal jeito, casada com amor, morando numa casa (desse jeito)... Mas a felicidade não é a pautada pelo modo como alguém vive nessa faixa etária. Eu sinto que quero me conhecer ainda mais e fazer outras escolhas”. É assim que a designer Paula Costa, 29, define a etapa de vida em que os 30 batem à sua porta. Depois de emendar vários namoros desde os 15 anos, ela decidiu fazer análise para se conhecer melhor e descobriu que a falta de respostas também dá graça à vida.

“Hoje eu prefiro viver sem a certeza do que vai ser e investir em mim e em minha carreira. Namorei sério desde muito nova. Não tenho essa vontade, e sem vontade não dá. De repente com 80 anos, quem sabe? Morando numa casa diferente do meu marido, olha que legal (risos). Mas posso chegar aos 45, ter um filho, e não casar”, diz a designer.

Solteira há poucos meses, a corretora de seguros Kelly Cristina de Paula Oliveira, 29, terminou o único relacionamento sério que manteve durante longos 13 anos. Ela até pensa em ter filhos em cinco ou seis anos, mas, mesmo assim, não se imagina casada tão cedo. “Isso tomaria muito tempo para minha profissão agora. E não acho que preciso casar para ter filhos, mas se acontecer um amor, é claro que vai ser bem-vindo e posso casar, sim”, diz.

Amor bem-vindo é a expressão que faz nascer um sorriso instantâneo no rosto da coordenadora de projetos integrados Viviane Breder de Paula. Aos 37 anos, com um filho de 15, fruto de um relacionamento passageiro, ela condiciona o ato de casar à nostálgica crítica de Nelson Rodrigues aos relacionamentos, dizendo que “em 1911 ninguém bebia nem um copo d'água sem paixão”. “Quando quis casar, meu namorado não queria. Quando me pediram a mão, eu não queria. Acontece. Eu sou antiga e acredito no amor, tem que fazer as coisas com paixão, como tudo na vida”, conta.

Para a psicóloga Cláudia Maryorga, do Departamento de Psicologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a ruptura com o tradicional padrão de constituir família na faixa dos 30 anos vai além de uma espécie de contestação, mas faz parte da busca por uma forma pessoal de ser feliz. “A mulher tem uma necessidade cada vez maior de ir à luta. Ir à luta por um salário e carreira melhores, ir à luta para se conhecer mais, ir à luta por si mesma, para ser feliz”, diz.

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