Natureza

Consumo da chamada 'água crua' é sucesso no Vale do Silício, EUA

Líquido não passa por nenhum tratamento antes de ser engarrafado

Por Da Redação
Publicado em 23 de fevereiro de 2018 | 03:00
 
 
No Vale do Silício, nos EUA, o consumo da chamada “água crua” está ganhando novos adeptos nos últimos meses Foto: YouTube/reprodução

Garantir o acesso a recursos sustentáveis é um dos maiores desafios que o mundo enfrenta hoje e, numa tentativa de mudar o estilo de vida, surgem alternativas à água engarrafada e à de torneira. No Vale do Silício, nos Estados Unidos, o consumo da chamada “água crua” está ganhando novos adeptos nos últimos meses.

Eles afirmam que o líquido é tirado diretamente de sua fonte natural e tem uma série de benefícios para a saúde, graças à presença de compostos minerais e probióticos. O movimento existe há vários anos – teve suas raízes no movimento de alimentos crus –, mas tem recebido atenção ultimamente depois que as empresas começaram a engarrafar e vender água de nascente não tratada.

Valores. Para se ter um exemplo, há registro de que a água não tratada e não esterilizada está sendo comercializadas na Califórnia por US$ 35,95 (R$117,01) por galão, e dois galões e meio a US$ 9,54 (R$ 31,05) por recarga, por uma pequena start-up do Maine, chamada Tourmaline Spring.

Consumidores da água “crua” defendem os benefícios naturais do produto. A astróloga americana Kati Magoon, 29, afirma que, há dois meses, toda a família passou a bebê-la. “Quando eu bebo, sinto-me limpa. Ela tira a dor e a inflamação. Sinto-me desperta e alerta, mas é um processo natural, porque a água não tem substâncias, ela é pura”, diz. “Minha filha de 7 anos e meu filho, de 5 são ensinados a terem muita consciência em tudo, especialmente comida e água”, conta.

Mas nem tudo são flores. O empresário Daniel Jackson, 33, também dos EUA, relata os efeitos colaterais que teve depois de ingerir a água sem tratamento. “Eu bebi e senti dor na barriga o dia todo. Durante os dias seguintes, tive diarreia aguda e perdi 6 kg por desidratação”, declara. Jackson ainda chama a atenção dos norte-americanos.

“O dinheiro gasto nessa água seria suficiente para alimentar uma aldeia síria por uma semana. Como posso saber que um galão de água não vem de um lixo de poço no sul do Sudão? Procurem investigar antes”, pondera.

Números. Um relatório do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos EUA, divulgado em 2017, calculou 42 surtos associados a água potável em 2013 no país.

Lei. Nos EUA, a Agência de Proteção Ambiental estabelece diretrizes de saúde para os poços públicos, reservatórios e nascentes de que muitos americanos dependem.

Médico aponta para os riscos da ingestão

De acordo com o infectologista Carlos Starlin, consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia, o ideal é evitar o consumo de água sem nenhum tipo de tratamento. “Os mananciais podem ser contaminados por coliformes fecais de animais, incluindo as aves, que são transmissoras de doenças, como a salmonela, aos seres humanos. Além disso, há outros organismos vivos, como bactérias e fungos, que podem oferecer perigo”, expõe.

Segundo o médico, os riscos também podem estar dentro de casa. Ele afirma que os purificadores e filtros não tratam a água – essa é uma tarefa das companhias de tratamento. Os aparelhos apenas melhoram a qualidade, ao reduzir o cloro e reter partículas e micro-organismos. “Para evitar problemas de doenças, é preciso fazer a manutenção regular dos aparelhos usados em casa ou no trabalho”, orienta.

FOTO: Tourmaline Spring/divulgação
Uma pequena start-up do Maine, EUA, é uma das fabricantes da água “crua”