Alcoolismo

Consumo moderado ajuda a resgatar ‘bebedores-problema’ 

Programa Moderação e Controle deve estar disponível no Brasil em, no máximo, dois meses

Dom, 26/04/15 - 03h00

Moderação e controle. Duas palavras que parecem distantes de quem possui algum tipo de problema decorrente do consumo exagerado de bebidas alcoólicas. Essas atitudes se tornam ainda mais difíceis quando a abstinência completa é colocada como a única forma de recuperação.

Segundo o Instituto Nacional de Alcoolismo e Abuso do Álcool dos Estados Unidos, os bebedores problemáticos (não dependentes, mas que estão começando a ter problemas com o álcool) já são quatro vezes mais que os diagnosticados como alcoólatras. Para essas pessoas, existe o programa Moderação e Controle (Moderation Management – MM, em inglês).

“Nos Alcoólicos Anônimos (AA) você é obrigado a identificar-se como um alcoólico ou um viciado. Embora esse reconhecimento seja um passo importante, o rótulo de alcoólatra não é necessário para que você controle seu consumo ou pratique a abstinência”, afirma Donna Dierker, neurocientista da Faculdade de Medicina da Universidade de Washington, nos Estados Unidos.

Também membro do MM, ela conta que o programa não é considerado tratamento ou terapia, mas uma forma de “ajuda mútua que pode funcionar com ou sem tratamento adicional ou terapia”, não oferece serviços clínicos e pode ser disponível online ou em reuniões presenciais.

Com cerca de 20 mil participantes em todo o mundo e presente em mais de 12 países (Austrália, Reino Unido, Tailândia, França, Irlanda, Bélgica, Índia, EUA, Canadá e México, por exemplo), o programa também estará disponível no Brasil.

Em entrevista exclusiva a , o engenheiro Igor L., 55, responsável por trazer o programa para o país, disse que as primeiras reuniões devem acontecer em, no máximo, dois meses. “O enfoque é totalmente diferente do AA, que vê o alcoolismo como doença a ser tratada. O que eu mais gostei é que eles conscientizam as pessoas de que elas têm um beber problemático e que esses problemas têm efeitos negativos na vida”, diz. O TEMPO

Um dos primeiros passos é anotar semanalmente quantas doses e em quais horários a pessoa está bebendo, mas a metodologia também utiliza um esquema de nove passos (similar aos 12 passos do AA) e tabelas para orientar os membros em relação à quantidade de doses que a pessoa pode ingerir durante a semana e o dia.

“Outra vantagem é que, às vezes, o programa de abstinência total, principalmente no começo, priva as pessoas de situações sociais, como festas que têm bebidas alcoólicas. No Moderação e Controle, não. A pessoa vai para a festa preparada, sabendo quanto pode beber”, conta. Segundo Igor, umas das orientações é que se atrase o máximo possível para ingerir a primeira dose e, depois que a toma, é preciso esperar no mínimo 30 minutos para tomar a segunda.

Na prática, uma vez que as pessoas atingem sérios estágios de dependência, mudar seus hábitos de beber torna-se bem mais difícil, além de o tratamento ser mais caro, mas Igor diz que o novo método também pode ser utilizado por essas pessoas. “Se já desenvolveu a dependência, ela tem duas opções: partir para um programa de abstinência total ou frequentar os dois”, diz.

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