Saúde

Epidemia ligada a cigarro eletrônico avança nos Estados Unidos

Casos de doenças pulmonares após uso de ‘vaping’ chegam a 530 e morte, a sete; mais da metade dos pacientes têm 25 anos

Sáb, 21/09/19 - 06h00
OMS diz que os cigarros eletrônicos “são inquestionavelmente nocivos e deverão ser regulados” | Foto: EVA HAMBACH / AFP - 2.10.2018

A epidemia de doenças pulmonares relacionadas ao uso do cigarro eletrônico (“vaping”) continua avançando nos Estados Unidos, onde os casos passaram de 380 para 530, enquanto o número de mortos se manteve em sete, segundo o informe semanal da última quinta-feira.

Mais da metade dos pacientes têm menos de 25 anos, e três quartos são homens, disse Anne Schuchat, subdiretora do Centro de Controle e Prevenção de Doenças. Dezesseis por cento dos pacientes são menores de 18 anos. 

Os laboratórios da Agência de Drogas e Alimentos (FDA) estão analisando mais de 150 amostras suspeitas, mas ainda não identificaram as substâncias responsáveis por essas doenças pulmonares agudas, disse Mitch Zeller, diretor da divisão de tabaco do órgão.

“Não existe denominador comum sobre os produtos utilizados, como foram usados, onde foram comprados e o que pode ter acontecido entre o momento da compra e o do uso, em que é inalado”, insistiu Zeller.

Os pesquisadores são muito cautelosos sobre a possível causa das doenças, seja por uma marca, um produto ou uma fonte. Em muitos casos, as recargas envolvidas continham THC, o princípio psicoativo da maconha.

Em 11 de setembro, o presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou que seu governo proibirá nos próximos meses os produtos de “vaping” com sabor.

Na ocasião, o secretário de Saúde, Alex Azar, indicou que, após o lançamento de uma nova guia reguladora, haverá 30 dias de prazo para sua entrada em vigor, momento a partir do qual “todas as cargas com sabor de cigarros eletrônicos, exceto o tabaco, terão que ser retiradas do mercado”.

A indústria do cigarro eletrônico movimentou US$ 10,2 bilhões no mundo em 2018, segundo a empresa de estudos de mercado Grand View Research. O produto é vendido desde meados dos anos 2000.

Para as pessoas que já fumam, o consenso científico atual é que substituir o cigarro pelo vaporizador é menos nocivo: a nicotina fica, mas as substâncias cancerígenas presentes nos cigarros deixam de ser inaladas.

“Embora seja difícil quantificar com precisão a toxicidade em longo prazo do cigarro eletrônico, evidentemente esta é muitíssimo menor que a do cigarro tradicional”, indicou em 2015 a Academia de Medicina francesa.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) se mostra mais prudente, tomando como referência um informe de 2014: “Não há provas suficientes para quantificar o nível preciso de risco”, mas, de qualquer forma, “os Sistemas Eletrônicos de Administração de Nicotina (Sean) são inquestionavelmente nocivos e deverão ser regulados”.

No Brasil

Preocupada com os casos de doenças pulmonares associadas ao uso de cigarro eletrônico nos EUA, a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia divulgou um comunicado para que profissionais fiquem atentos caso recebam pacientes com náuseas, tosse, falta de ar e dor na região do tórax, sobretudo se forem usuários do “vaping”. 

A sociedade sugeriu, ainda, que médicos brasileiros avisem os pacientes sobre os potenciais riscos desses utensílios. Diagnosticado com pneumonia no início do mês, o publicitário Pedro Ivo Brito, 29, teve o quadro agravado por fazer uso do dispositivo. Há um ano, o design sofisticado do cigarro atraiu sua curiosidade.

“Quando eu disse que fazia uso do cigarro eletrônico no hospital, os médicos falaram que não era o único motivo, mas que agravou o meu quadro”, diz.

O publicitário ficou internado por cinco dias no Hospital Beneficência Portuguesa, em São Paulo, e teve de passar até por uma cirurgia torácica para drenar a água que estava nos pulmões. Brito começou a fumar cigarro comum aos 15 anos. O eletrônico, ele conheceu há um ano, nos EUA. 

“Em Miami, é comum ver as pessoas fumando cigarro eletrônico até nas ruas. Nunca foi minha intenção substituir o cigarro comum pelo eletrônico. Só que comecei a fumar mais o eletrônico”, conta. Para ele, o trauma foi o melhor tratamento para abandonar os dois tipos de cigarros. “Não desejo a ninguém o que eu passei”, fala. (Com Estadão Conteúdo)

Entenda

  • O ‘vaping’ consiste em inalar vapores gerados pelo aquecimento de um líquido no cigarro eletrônico.
  • Esses líquidos contêm nicotina – substância que causa dependência e pode afetar o desenvolvimento do cérebro antes dos 25 anos
  • Não contêm alcatrão (cancerígeno) nem monóxido de carbono (causa de doenças cardiovasculares), mas têm partículas finas com potencial tóxico, como metais (níquel, chumbo), e aditivos ainda não estudados sob a forma vaporizada.
     

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