Efeitos

Estudo usa LSD e música para investigar emoções

Na pesquisa, droga mostra ser uma possível aliada em caso de transtornos mentais

Por Da Redação
Publicado em 07 de fevereiro de 2017 | 03:00
 
 
LSD é vendido em papel absorvente e dividido em quadradinhos Foto: GIULIANO GOMES/Estadão conteúdo - 18.3.2008

Zurique, Suíça. Um grupo de pesquisadores do Hospital Universitário de Psiquiatria em Zurique, na Suíça, recorreu ao uso da música junto com a droga LSD – e um inibidor de seus efeitos – para descobrir como o cérebro atua perante a situações e momentos que as pessoas dão importância. A pesquisa é mais uma entre outras anteriores que indicam benefícios dessa droga em tratamentos de alguns transtornos mentais.

Publicado recentemente na revista “Current Biology”, o estudo dividiu 22 participantes em três grupos. No primeiro, foi utilizado placebo; no segundo, os voluntários tomaram LSD; e no terceiro foi usada uma combinação de LSD com cetanserina, droga antagonista dos receptores de serotonina – neurotransmissor responsável pela sensação de bem-estar. Além disso, os participantes foram convidados a ouvir uma série de músicas, enquanto eram realizados os testes.

O LSD altera a atuação do cérebro, fazendo com que as pessoas que o usam atribuam um maior significado às coisas e aos momentos vividos. De acordo com a pesquisa, os participantes que estavam sob efeito da droga, ao ouvirem músicas que não tinham significado qualquer para eles, foram influenciados pelo entorpecente. Ou seja, o LSD “despertou” sensações nos participantes.

“Agora sabemos que receptores, neurotransmissores e regiões do cérebro estão envolvidos quando percebemos nosso ambiente tão significativa e relevantemente”, observa Katrin Preller, líder da pesquisa, segundo a agência Ansa.

Contudo, o mesmo não aconteceu com os participantes que tomaram a droga com o inibidor. Eles foram capazes somente de atribuir um significado às músicas que realmente lhes diziam algo, uma vez que a parte do cérebro responsável por emoções, memória e desejo se manteve intacta.

“Verificamos que a atribuição de significado pessoal e sua modelação pelo LSD está mediada pelos receptores e pelas estruturas da linha média cortical, que também estão envolvidas de forma crucial na experiência de um sentido”, acrescentou Preller.

Ambiente. Com as ressonâncias magnéticas também foi possível perceber que as células e as regiões do cérebro estão envolvidas quando as pessoas olham para o ambiente como significativo e relevante. De acordo com o estudo, pessoas com problemas psiquiátricos, que perdem a capacidade de atribuir relevância a momentos, podem encontrar no uso do LSD a oportunidade de ter prazer novamente.

Para os pesquisadores, a forma de atuação da droga pode ser, no futuro, um importante passo para tratamentos e terapias psiquiátricas, uma vez que ajuda a compreender melhor a atuação do cérebro.

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Cientistas debatem benefícios

Londres, Reino Unido. A partir da análise de vários estudos, cientistas vêm defendendo o uso do LSD e de outras drogas, como a maconha, em terapias.

O especialista britânico James Rucker, do King’s College London, por exemplo, defende que drogas psicodélicas sejam reclassificadas, e o uso, liberado em pesquisas científicas, testes clínicos e desenvolvimento de novos medicamentos.

De acordo com o cientista, pesquisas indicam que os psicodélicos foram amplamente testados, no passado, em psiquiatria clínica e mostraram eficácia para problemas de ansiedade associados a câncer, transtorno obsessivo compulsivo, dependência de álcool e tabaco e cefaleias.

Mas os testes clínicos foram banidos pela legislação britânica em 1967 – o que, segundo ele, acabou com a pesquisa na área.

Além disso, um artigo publicado no jornal britânico “The Guardian” relatou que um crescente número de pessoas tem usado LSD, maconha e ecstasy para ajudar com uma variedade de doenças, incluindo anorexia nervosa, dores de cabeça, enxaquecas e ataques de síndrome do pânico.