Guia do folião consciente

Formas de curtir o Carnaval de olho também no bem-estar geral

Medidas provam que é mais do que possível se divertir sem destruir o planeta e respeitando a diversidade durante os dias de folia

Por Da Redação
Publicado em 24 de fevereiro de 2019 | 03:00
 
 
Rebeca Xavier e Carol Toledo, da Butic Bardot Foto: JOÃO LEUS

As amigas Rebeca Xavier e Carolina Toledo estão muito engajadas na montação da folia neste ano. Mas não só pela diversão. Elas são mais um dos muitos exemplos de quem está disposto a aproveitar a folia com mais consciência ambiental. Aliás, neste ano, a pauta é curtir um Carnaval consciente não só ambientalmente, mas também livre do assédio e das fantasias ofensivas e com respeito à diversidade de gênero. 

Na vitrine da loja Butic Bardot, na Savassi, da qual Rebeca e Carolina são sócias, a oferta de fantasias e adereços está maior neste ano, assim como produtos pensados especialmente para quem quer aproveitar a folia com respeito e consciência. “Investimos em glitter biodegradável e vegano, para o qual há uma procura muito maior neste ano, principalmente para quem vai curtir a folia na praia”, contou Rebeca. 

Além dele, copos divertidos para levar para a festa e evitar o consumo desenfreado de plástico – só em 2017, foram retirados das ruas, após o fim dos cortejos, o montante de 840 t de lixo, segundo a Superintendência de Limpeza Urbana (SLU). “Percebo que o público está mais consciente nas compras. Existe uma troca muito legal com as clientes, que chegam mostrando outras novidades nesse sentido”, analisa ela, que, ao lado de Caroline, testou a produção de confete ecológico, feito a partir de folhas secas.

Novo momento

A consciência do consumidor também foi algo analisado por Patricia Lima, fundadora da marca Simple Organic, de cosméticos sustentáveis. “Esse tipo de pensamento vem crescendo de maneira muito rápida, e isso não é sazonal. As pessoas estão buscando o equilíbrio em todos os momentos da vida. Quem tem uma preocupação ao longo do ano em ser sustentável, sejam as marcas ou o consumidor final, no Carnaval não vai se esquecer disso”, acredita. 

A marca digital de moda Amaro também aproveitou a época para viralizar uma mensagem contra o assédio, em parceria coletivo feminista Não É Não. “Infelizmente, o assédio é uma realidade muito presente no país. O número é alarmante, e fizemos uma chamada clara para que cidadãos, marcas e instituições se unam para mudar definitivamente essa realidade”, acredita.

Vá de lata

O porta-lata customizado também está à venda a fim de incentivar a bebida em lata durante a festa, já que, aqui no Brasil, a opção de alumínio tem uma taxa de reciclagem de quase 98%, uma opção mais sustentável do que garrafinhas de vidro ou plástico. Neste caso, a atenção só precisa ser redobrada por conta da higiene dos ambulantes.

“A contaminação pode ocorrer em qualquer parte desse percurso. Além disso, para refrigerar as latas, o método mais adotado é o uso das caixas tér-micas com gelo, que também podem ter sido contaminadas por roedores ou outros animais”, diz o gerente técnico do Laboratório Lustosa, Adriano Basques, que incentiva, além do uso do copo, os canudos também reutilizáveis.  (Com Jessica Almeida)

GUIA

"Não é Não"!

Desde 2017, o Carnaval de rua em BH também protagoniza a campanha Não É Não, criada pelo coletivo carioca feminista de mesmo nome. Por meio da distribuição de tatuagens temporárias contra o assédio, a iniciativa fez sucesso entre as mulheres e, neste ano, vai marcar presença em mais de 30 blocos. No embalo, várias outras empresas também criaram novas ferramentas para viralizar uma mensagem contra o assédio. Neste Carnaval, a marca Amaro (foto) se uniu ao mesmo coletivo para criar uma nova tatuagem temporária: “Minha roupa não é um convite”. “No Carnaval, onde vemos festas tomarem as ruas das cidades no Brasil, a mensagem de respeito e conscientização tem que ser ainda mais forte”, disse Denise Door, head de brand marketing da empresa. Mais de 10 mil tatuagens já estão sendo distribuídas através de parceiros da marca e dos blocos de Carnaval.

 

Make do bem


Folia sem glitter definitivamente não faz sentido. Acontece que as partículas de brilho que mais fazem sucesso no Carnaval, seja no corpo ou na maquiagem do folião, são feitas de plástico, material que não é biodegradável e é um dos principais poluentes do oceano e uma ameaça à vida marinha. A boa notícia é que muitas marcas, como Pura Bioglitter, Shock, Purpurine e Simple Organic (foto) criaram suas versões de glitter ecológico, feitas a partir de ingredientes vegetais e minerais, ou seja, 100% natural. Para aplicar, use protetor solar ou gel sem álcool no corpo, rosto e, inclusive, no cabelo. Para retirar após a folia, use fita adesiva antes do banho e descarte no lixo. Mas, se optar em usar o glitter comum, a dica é usar um filtro de pano para coar café no ralo do box do banheiro, vedar o entorno com fita adesiva e, depois do banho, retirar e descartar de forma consciente. 

 

Pegue sua latinha!


Na hora de beber, opte por bebidas enlatadas – embalagem mais reciclada no Brasil. “Apoiamos o uso das bebidas em lata por causa dos resultados ecológicos e sociais que ela promove. Para nós, que pensamos os bastidores planejando a logística de tudo que acontece na cidade nesta época, tanto as latinhas quanto os catadores são grandes aliados que auxiliam a rápida coleta do material”, disse Nathália Trajano, produtora da Do Brasil Projetos e Eventos, empresa responsável pela estrutura e logística do Carnaval de BH. De olho no potencial, marcas apostaram na versão em lata para divulgar a sua bebida neste ano, como as cervejarias Vinil, Krug Bier e Albanos (foto), que vai lançar a versão da pilsen puro malte no dia 2 de março nos blocos “Volta, Belchior” e “Gato Escaldado”. 

 

Joga pra cima!


Já pensou em fazer o seu próprio confete ecológico? Aqui, no Brasil, o produto geralmente já é feito de papel reciclado, o que já colabora bastante com o meio-ambiente. Mas a novidade instiga foliões a produzirem seu próprio confete a partir de folhas caídas das árvores e flores secas. A proposta, criada pelo engenheiro ambiental Vitor Hugo Sampaio, foi viralizada na internet e convida mais pessoas, como as foliãs Caroline Toledo e Rebeca Xavier, a produzir as bolinhas a partir de um furador (foto). Além de ter custo zero, ainda colabora para que o confete que sobra no chão não suje a cidade nem agrida o meio ambiente após o bloco passar.

 

Leve seu copo


Imagine a quantidade de plástico gerado a partir de cada bebida consumida no Carnaval em copo descartável. O lixo gerado após cada feriado de Momo é imenso se levarmos em conta, proporcionalmente, que o Brasil consome 720 milhões de copos descartáveis por dia – isso representa 100 mil toneladas por ano, segundo a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos (Abrelpe). Para amenizar esse cenário, uma das iniciativas mais legais deste Carnaval é convocar o folião a levar o seu próprio copo para curtir a festa na rua. A opção reutilizável pode ser feita de materiais diversos como inox ou silicone – este, criado pela empresa Menos 1 Lixo, é ideal para guardar na pochete. Em BH, a cervejaria Sátira criou sua versão ecológica (foto) feita à base de material reciclado, como a borracha produzida a partir de câmera de pneu reutilizada. No copo cabem até 500 mL. Ele vem com uma cordinha para ser pendurado no pescoço e será vendido por R$15 nas unidades da Sátira, até o fim da folia.

 

Xixi direcionado e reciclado

Fazer xixi no bloco pode ser um pesadelo para as mulheres. Foi por isso que a marca Fleurity desenvolveu um condutor urinário (foto) que permite que elas façam o número 1 de pé. Dessa forma, acabou aquele suplício de ter que se equilibrar sem escorar no banheiro químico ou fazer na rua, sujando a cidade. O produto custa R$ 49 no site da marca (loja.fleurity.com.br) e há descontos quanto mais unidades são compradas. Além disso, o xixi dos foliões será aproveitado como fertilizante no Jardim Botânico de Belo Horizonte. No ano passado, a tecnologia foi testada, mas ficou só nos laboratórios. Em 2019, o material vai servir de adubo para as flores da Fundação Zoobotânica da capital. A pesquisa é desenvolvida pelo Departamento de Química da UFMG, que instalará 25 coletores em banheiros químicos durante a festa. 

 

Sem ofensa!

Uma das partes mais legais da folia é poder se fantasiar e brincar com a imaginação, mas é melhor tomar cuidado, porque a sua diversão às vezes pode significar o sofrimento de outra pessoa. Fantasias podem parecer inofensivas, mas às vezes reforçam visões preconceituosas. É o caso de quando homens se vestem de mulheres, brancos se vestem de negros ou quando o tema do traje é uma cultura ou etnia. Bloco LGBT e feminista da cidade, o Garotas Solteiras incentiva seus foliões a não apostarem nesse tipo de caracterização. “A mulher, em geral, é colocada de um jeito muito estereotipado quando os homens se vestem, com piadinhas, trejeitos, sexualização do corpo”, afirma Clara Tannure, 24, uma das vocalistas do bloco. “Tem o blackface também, que historicamente era uma forma de brancos zombarem de negros. Enfim, qualquer coisa que faça graça com povos ou culturas. Tem tanto tema, personagens de filmes, desenhos, super-heróis. Não precisa fazer graça com a identidade do outro”, lembra.

 

Reutilizar é preciso


Resgatar peças adquiridas de outros Carnavais sem desfazer-se delas por completo, em vez de investir em novas produções. Essa é uma das propostas conscientes que preza pelo upcycling carnavalesco, ou seja, dar uma nova cara a vestimentas com o que você já tem em mãos – isso vale, também, para os instrumentos musicais que agitam os blocos. “A gente aconselha que as clientes tragam essas peças de volta para a loja para gerar novos looks”, disse Rebeca, da Butic Bardot, que oferece esse serviço especial durante esse período. Para o próximo ano, a loja quer realizar um bazar de troca carnavalesca entre amigos que quiserem mudar de visual nos diferentes dias de folia, sem gastar muito.

Já na internet, as mineiras Natalia Resende (@nanaty_) e Mayara Leão (@mayleao) criaram em seus perfils no Instagram um destaque dedicado aos tutoriais descomplicados de fantasia e adereços, além o mapa da mina onde comprar acessórios em BH.