Preconceito

Gordofobia se manifesta na família, no trabalho, na rotina 

Imagem de quem é obeso é de pessoa preguiçosa, gulosa e sem autocontrole

Dom, 23/11/14 - 03h00

O Brasil despertou, nas duas últimas semanas, para uma forma de preconceito pouco debatida: a gordofobia. O estopim para isso foi o protesto de quatro misses plus size de topless na frente do Congresso Nacional, em Brasília.

O episódio que motivou o protesto foi o comentário de uma recepcionista de hotel, afirmando que a cama seria pequena para elas. Mas o preconceito contra os gordos vai muito além dos comentários maldosos e das piadas.

Em julho deste ano, a professora Mariana Cristina Justulin foi aprovada em um concurso público da rede estadual de ensino de São Paulo, mas não pôde assumir o cargo por conta de seu Índice de Massa Corporal (IMC), que era de 43 – o recomendado é entre 18,5 e 24,9. Em 2012, um estudo das universidades de Manchester e Monash, na Austrália, constatou que obesos sofrem mais preconceito em seus locais de trabalho.

Os julgamentos também vão além de ofensas explícitas. “Nós somos discriminadas no dia a dia. Se você é gorda e está chupando um picolé na rua, todo mundo vai olhar. Eles vão pensar ‘por que ela está tomando esse picolé se ela está daquele tamanho?’. Se um gordo está sentado sozinho em um restaurante, todo mundo vai olhar para o prato dele. Eu fico com vergonha de almoçar sozinha porque sei que vou ser julgada”, reclama Flávia Gon Soares, 29, Miss Brasil Plus Size Baixada Santista, que estava no protesto.

Em muitos casos, a própria família discrimina o membro com peso acima do considerado ideal. “Em visitas a tias, não importava se fosse num intervalo de uma semana, um mês ou um ano, ao me ver, o primeiro comentário era se eu tinha emagrecido. Quando era recebida sem comentários sobre emagrecimento, era um sinal de que eu tinha engordado e o assunto surgiria algum tempo mais tarde”, conta a gerente de marketing Tereza Dias, 29.

Segundo a pesquisadora australiana Deborah Lupton, professora da Universidade de Canberra e autora do livro “Fat” (“Gordo”, em tradução livre), o preconceito contra obesos vem da imagem que se construiu de pessoas com esse biotipo. “Há uma ideia de que, se a pessoa deixa seu corpo ficar desse tamanho, ela é preguiçosa, gulosa, não tem autocontrole e não liga para sua saúde”, afirma.

Outro ponto que reforça o preconceito é a luta médica contra a obesidade. “Este é um dos problemas que os gordos identificam: nós deveríamos focar em aconselhar sobre estilos de vida saudáveis para pessoas de todos os tamanhos. Magros podem estar muito fora de forma e ter uma dieta pobre, então, o tamanho do corpo não representa, por si só, uma doença”, defende a pesquisadora.

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