Tendência

Gravidez após os 40 se torna mais comum, mas não está livre de riscos

Anúncio da gestação de Ivete Sangalo aos 45 anos renova debate

Qui, 14/09/17 - 03h00
Após anunciar gravidez de gêmeos nas redes sociais, Ivete foi a estrela na gravação do “The Voice Brasil” | Foto: Fabio Rocha / Globo

O anúncio da gravidez de gêmeos da cantora Ivete Sangalo, aos 45 anos, reflete uma tendência social que está associada à realidade da mulher moderna: o ato de se tornar mãe mais tarde.

De acordo com o Ministério da Saúde, o número de mulheres que foram mães após essa idade saltou 49,5% em 20 anos, passando de 51.603 em 1995 para 77.138 em 2015, dado mais recente disponível, divulgado em fevereiro.

Já as estatísticas de 2015 mostram que 72.290 dessas mulheres tinham entre 40 e 44 anos, e outras 4.475 estavam na faixa etária dos 45 aos 49. Outras tiveram experiências mais ousadas: 373 experimentaram a maternidade após os 50 – entre elas, 21 já eram sexagenárias quando deram à luz.
Mas o alerta deve estar ligado. A gestação depois dos 40 anos exige mais cuidados. Mesmo com a melhora das condições de saúde da população de maneira geral, as chances de engravidar continuam diminuindo com a idade. Após os 40, elas caem de forma drástica.

“O corpo feminino vai priorizar aqueles óvulos em melhores condições de fecundação e desenvolvimento, ou seja, os que são utilizados na juventude. Além disso, a probabilidade de erros na divisão celular ou mesmo de alteração celular do embrião também aumenta com a idade”, explica o médico geneticista Ciro Martinhago, doutor em genética reprodutiva pela Universidade Estadual Paulista (Unesp).

O médico explica que, aos 20 anos, o risco de anomalias genéticas é de 0,5%. O índice dobra aos 35 anos, indo para 2% aos 37 anos, chegando a 5% aos 40 anos e alcançando 10% aos 44 anos. O principal risco é o desenvolvimento da síndrome de down, mas há também as síndromes de Edwards e de Patau, entre outras. Isso porque a chance de aborto espontâneo salta de 10% em mulheres de 20 anos para 40% aos 40 anos. Dos 45 anos em diante, esse número pode subir para 75%.

Ainda que o foco dessas preocupações seja a saúde do bebê, a mãe também corre riscos maiores em gestações tardias. Segundo a ginecologista Cláudia Navarro, diretora-clínica da LifeSearch, a mulher pode ter doenças como hipertensão, alterações cardíacas e diabetes. Contudo, a mais preocupante é a pré-eclâmpsia. “O mais comum é que apareça depois da 37ª semana. Mas pode acontecer em qualquer época da segunda metade da gravidez, incluindo durante o parto ou depois –- geralmente nas primeiras 48 horas”, diz.

Embora os riscos existam, Cláudia afirma que determinados cuidados podem ajudar – e muito – a gestação tardia. “Para a mulher nova, que quer engravidar tarde, aconselhamos o congelamento dos seus óvulos o quanto antes para aumentar as chances de fertilização. Para a mulher madura, sugerimos procurar um especialista antes de tomar qualquer atitude. E para ambas, sempre manter uma vida saudável, com prática de atividades físicas e boa alimentação”, orienta.

Na TV. Ivete Sangalo estava bastante emocionada na gravação do “The Voice Brasil” (Globo). Ao anunciar no palco que está grávida de gêmeos, a cantora chorou e disse que a reação das pessoas a emocionou


Mulher se torna mãe aos 47 sem tratamento

FOTO: arquivo pessoal
Méri e o filho, Deud Calil, hoje com 3 anos: ela engravidou quando tinha 46

No caso da cantora Ivete Sangalo, a gestação aconteceu por meio da inseminação artificial, método muito comum entre as mulheres que decidem engravidar depois dos 40 anos.

Mas e quando o processo ocorre naturalmente e sem planejamento? Foi o caso da funcionária pública Méri Kramel. Moradora da cidade de Serrania, em Minas Gerais, ela descobriu uma gestação aos 46 anos, em 2014. “Eu estava namorando havia pouco mais de um mês quando desconfiei da gravidez. Fiz o exame e deu positivo. Foi uma bomba para mim e toda a minha família porque, além da idade, aconteceu tudo naturalmente, sem nenhum tratamento”, explica. O caçula, Deud Calil, faz 3 anos no fim deste mês.

Méri conta que já foi casada e se separou ao descobrir que o ex-marido era estéril. Por isso adotou o filho mais velho, hoje com 13 anos. Mas a gestação surpresa foi super bem-vinda. “O Deud é a alegria da casa e das nossas vidas”, afirma.

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