Luto

Grupo em BH ajuda a superar a perda de um ente querido

Profissionais fazem atendimento gratuito em encontros no centro da capital

Por Da Redação
Publicado em 11 de abril de 2014 | 03:00
 
 
Sofrimento. Maria Geralda está tentando lidar com a perda de sua casa, depois que um barranco derrubou seis cômodos do imóvel Foto: FERNANDA CARVALHO / O TEMPO

Faz 14 dias que Maria Geralda de Paula Nascimento, 54, perdeu sua casa. Em uma manhã de sábado, um barranco encharcado de água desceu, levando com ele tudo o que estava pela frente. Dos oito cômodos que a casa de Maria Geralda tinha, só sobraram a cozinha e um quartinho.
 

“Agora parece que minha ficha está caindo. Tenho um sentimento de tristeza, de impotência, não tenho nem palavras para descrever direito o que eu sinto”, fala entre lágrimas.

As perdas são, talvez, as situações mais difíceis da vida das pessoas. A perda de um bem valioso – como uma casa –, o término de um relacionamento, a morte de um ente querido são exemplos de situações que desencadearão o processo de luto. Nesses casos, a mente deve trabalhar para deixar no passado o objeto que perdemos, razoavelmente esquecido, e ser capaz de estabelecer novas relações amorosas após esses traumas.

Apoio. Para auxiliar quem passou pela perda de uma pessoa próxima, foi criado em Belo Horizonte o Grupo de Atendimento a Enlutados (GAL), coordenado pela psiquiatra Mariel Paturle e pela psicóloga Júnia Drumond.

“O GAL surgiu de um projeto da equipe da Sociedade Brasileira de Tanatologia e Cuidado Paliativo de Minas Gerais (Sotamig) para atender a demanda da sociedade de um espaço para elaborar o luto, uma vez que possuímos poucos profissionais capacitados para lidar com esse tipo de atendimento. Além disso, não sabemos lidar com as perdas e com a morte, o que faz com que as pessoas enlutadas se isolem e sejam condenadas ao silencio”, explica Mariel.

A cada ano, são formados dois grupos que se reúnem em oito encontros semanais na Associação Médica de Minas Gerais (AMMG), no Centro da capital. Os atendimentos são gratuitos, voltados a pessoas que perderam um ente querido há pelo menos dois meses. “Antes desse tempo, as pessoas têm um apoio social, ainda estão anestesiadas, sem a consciência e extensão do acontecido. A partir dessa época é que elas começam muitas vezes a se sentir desamparadas e muito pior emocionalmente”, afirma.

Nessas horas, o apoio de especialistas e pessoas que passam por situações similares é muito bem-vindo. “É verdade que o processo de luto é muito solitário, cada um tem seu tempo, uma dimensão própria da perda. Mas as experiências dos outros vão nos fornecer vias de identificação e de auxílio mútuo”, defende o psicanalista Fábio Belo, coordenador do curso de psicologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

“Existir esse espaço de vivência e compartilhamento dos sentimentos já é benéfico. As pessoas recebem também informações esclarecedoras sobre esse processo do luto. Trocam experiências e muitas vezes possibilidades de como reinventar a vida são levantadas pelo grupo”, complementa a coordenadora do GAL.

Dor. Seja pela morte de uma pessoa querida, ou por outro tipo de perda, todo luto implica necessariamente em sofrimento. “Trabalhar o luto implica em sofrer, estar triste, assumir sua impotência, falar do objeto perdido e preparar o terreno para aceitar outros objetos. A pessoa tem que sofrer, mas com a certeza que é uma tarefa e que dá resultado. Vale a pena porque o sofrimento vai ceder, vai desaparecer”, garante o professor.

Serviço

Sessões. O GAL terá sessões nos dias 15, 22 e 29 de abril e 6, 13,20 e 27 de maio na AMMG (Av. João Pinheiro, 161 – Centro). É necessária inscrição prévia. Informações pelo telefone (31) 3247 1616.