Gestação

Hipnose ajuda a aliviar a dor durante o trabalho de parto

Prática pode reduzir em até 30% o tempo para concepção e em até 50% o uso de analgesia

Sáb, 18/11/17 - 02h00
A gestante que adota hipnose aprende a respirar corretamente para o trabalho de parto | Foto: Andressa Cassetti/divulgação

O trabalho de parto da dentista Carine Esther Muniz Tavares Branco, 34, durou pouco mais de três horas e foi “tranquilo”, nas palavras dela, em grande parte por causa das técnicas de “hypnobirthing” (parto por hipnose). “Aprendi a respirar corretamente durante os encontros com minha doula, meses antes do nascimento do bebê. No dia do parto, concentrei muito durante as contrações. Sempre que elas chegavam, eu tentava recebê-las não como dor, mas como o corpo trabalhando para meu filho nascer”, conta.

Visualizar imagens que remetessem à tranquilidade e ao bem-estar foi fundamental para que o trabalho de parto fosse rápido e menos dolorido, diz a dentista. “Uma das técnicas ensinadas é mentalizar cenas boas, imagens que são importantes para você. Eu imaginava meu filho nos braços, dentro da banheira, eu o chamava em pensamento. Consegui curtir meu parto, conversar e rir”, explica.

A advogada Clarissa Homsi, 44, teve a primeira filha de parto natural, na banheira, com duração de cinco horas, desde as primeiras contrações. Ela também atribui a rapidez e tranquilidade às técnicas de auto-hipnose. “Fiquei boa parte do tempo ouvindo CD com minhas músicas preferidas, leves, calmas, concentrando, chamando meu bebê. No intervalo de cada contração, eu conseguia até rir”, disse.

Dois meses antes do nascimento de seu bebê, Clarissa fez pesquisas sobre hipnose no parto, reuniu material sobre o assunto, tirou dúvidas com sua doula e treinou. “Sou muito ansiosa, mas estava certa de que conseguiria um parto saudável e o mais natural possível. As técnicas de respiração e concentração foram fundamentais para que eu não focasse apenas nas dores”, disse.

Segundo o presidente da Associação Brasileira de Hipnose (ASBH), obstetra Osmar Colás, a aplicação de técnicas de auto-hipnose pode reduzir em até 50% o uso de anestesias e medicamentos durante o parto e até 30% o tempo do trabalho de parto. “A mulher fica completamente consciente. Ela aprende a ter controle sobre os pensamentos e a respiração”, diz.

Há cinco anos atuando como doula, a educadora perinatal e consultora em amamentação Lena Rúbia Bezerra fez, no mês de julho, o curso de hipnose no parto em Belo Horizonte. Desde então, ela sempre usa alguma técnica dessa prática com as gestantes que atende. “Vejo resultados incríveis, passo para elas que a nossa mente tem poder, o que desejamos pode acontecer. Ensino ativar afirmações positivas para que ela se lembre no momento do trabalho de parto – por exemplo, ‘vou conseguir, terei um parto dos sonhos, tranquilo’ – aliadas ao controle da respiração”, diz.

A hipnose é reconhecida e regulamentada pelos conselhos de medicina, psicologia, odontologia e fisioterapia. Mas o médico obstetra Clóvis Antônio Bacha, membro do Comitê de Gravidez de Alto Risco e Mortalidade Materna da Associação dos Ginecologistas e Obstetras de Minas Gerais (Sogimig), alerta que a prática não é recomendada no trabalho de parto. Bacha explica que a dor é um mecanismo de defesa e que é perigoso anulá-la. Segundo ele, acabar com a dor no trabalho de parto pode ocultar uma série de complicações inerentes a esse momento, como a rotura do útero.

Para aliviar a dor de forma natural, Bacha recomenda um banho quente de chuveiro. “A água acalma e, por meio de seu estímulo tátil, provoca um arco reflexo ou um reflexo na medula, que diminui a dor das contrações”, explica.

Causas das dores. No livro “Parto Sem Medo”, de 1933, o médico Grantly Dick-Read concluiu que o medo e a tensão são responsáveis por 95% das dores do parto.

Aromaterapia pode levar a relaxamento

Óleos essenciais em massagens ou até mesmo para perfumar o ambiente ajudam a trazer tranquilidade. A jornalista Renata Ferri, 33, pretende usar essas técnicas para aliviar a dor no parto da filha Íris, previsto para este mês. “Gosto muito de aromaterapia e já faço uso de óleos essenciais há algum tempo. O óleo de cravo é bom para esse momento”, conta.

Ela vem se preparando para um parto natural e vê nas massagens e nos óleos uma opção que ajuda a mater o equilíbrio. “Estou me preparando da forma mais natural e saudável possível, essas técnicas já me fazem bem na gestação, acredito que não será diferente no trabalho de parto”, diz.

FOTO: Andressa Cassetti/divulgação
Doula acompanha a grávida durante o parto, acalmando-a

Minientrevistas

Osmar Colás
Obstetra
Pres. da Sociedade Brasileira de Hipnose

Em linhas gerais, como se dá o treinamento de hipnose para o trabalho de parto?

Em reuniões com gestantes, explicamos que há um tipo de respiração adequada para cada fase do trabalho de parto. Por exemplo, quando as dores ficam mais intensas, o ideal é que ela respire mais rapidamente. Ela ainda aprende a visualizar imagens que a agradam, como vislumbrar o filho nos braços.

A mulher fica em transe?

Toda mulher em trabalho de parto, em um momento, fica fora de si. Mas não perde o protagonismo. Ela está lá focada na chegada do bebê, e não na dor. É um trabalho para que o cérebro foque nas coisas boas, e não apenas no desconforto da dor.

Clóvis Antônio Bacha
Obstetra
Comitê de Gravidez de Alto Risco da Sogimig

Quais medidas paliativas o senhor indica para alívio da dor de parto?

A dor é um mecanismo de defesa. Anulá-la completamente é perigoso, pois pode ocultar uma série de complicações inerentes ao trabalho de parto. Uma pessoa hipnotizada tem a mão perfurada e não sente a dor. Não recomendamos essa prática por carecer de evidências científicas.

Há riscos no uso de anestesia durante o parto?

A anestesia peridural não é isenta de riscos. Ela diminui parcialmente as contrações, sendo necessário, às vezes, o uso de oxitocina, monitorado pelo médico. Cabe ressaltar que a banheira com água quente pode ser usada como analgesia, mas não como local de realização do parto.

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